'Spec Ops: The Line' é game de tiro antibelicista e cheio de escolhas morais
"Nunca pense que a guerra, não importa quão necessária nem quão justificada, não é um crime. Pergunte aos soldados e aos mortos."
A frase, do escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899-1961), cai como uma luva em "Spec Ops: The Line", game de tiro em terceira pessoa do estúdio Yager, lançado em julho deste ano para Xbox 360, PS 3 e PC.
"A intenção foi fazer um jogo de guerra que tenha ações motivadas pela história. Um game com ênfase no enredo e nas consequências perturbadoras de uma guerra, e não apenas nos tiros", diz Timo Ullman, cofundador do Yager.
Guerras (reais ou fictícias) sempre foram fonte de inspiração para a indústria de games. A multibilionária série "Call of Duty", da Activision --que já vendeu 120 milhões de cópias no mundo e é estrelado por soldados americanos contra terroristas russos-- é o representante mais famoso.
"Spec Ops" tem tiroteio e sangue, como a trupe de "Call of Duty". Mas também tem um ingrediente que falta (ou faltava) à receita dos games bélicos: o olhar crítico aos combates armados, que autores como Hemingway -que trabalhou como correspondente de guerra- levam há tempos para a literatura.
CORAÇÃO DAS TREVAS
A trama do jogo é baseada no livro "Coração das Trevas" (1901), de Joseph Conrad, que também inspirou o filme de guerra "Apocalypse Now" (1979), dirigido por Francis Ford Coppola.
O cenário do game é Dubai (que já foi Congo no livro e Vietnã no filme), nos Emirados Árabes, devastada por uma tempestade de areia.
Walker, o soldado protagonista de "Spec Ops", tem a missão de resgatar um esquadrão do Exército norte-americano que desapareceu na cidade enquanto auxiliava na retirada de civis depois do desastre natural.
O início do enredo parece o de um jogo de tiro comum, mas, à medida que a trama avança, o jogador se depara com escolhas morais difíceis, que envolvem vidas de lados diferentes de um conflito que acontece em Dubai.
No game, mesmo a melhor das intenções pode ter um efeito nocivo, se combinada com estresse pós-traumático e paranoia -transtornos que aparecem com frequência também em soldados reais.
"Queríamos emular a alta pressão de um combate real. As decisões têm sempre que ser tomadas rapidamente no jogo", afirma Ullman.
A jogabilidade, se não oferece recursos novos, também não é ruim. Os comandos lembram bastante a série "Gears of War", de Xbox 360.
FRACASSO DE VENDAS
Mesmo bem avaliado nas críticas, o jogo não teve bom desempenho nas vendas.
"Spec Ops: The Line" vendeu 460 mil unidades no mundo todo -para efeito de comparação, o game "Call of Duty: Black Ops", lançado em novembro de 2010, vendeu 13,5 milhões de cópias apenas para Xbox 360.
"Nós assumimos um grande risco ao fazer este jogo", diz Ullman. "Mas nós fizemos um game único, que passa uma mensagem", conclui.
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