Descrição de chapéu The New York Times

Professor desafia leitor de blog a abandonar 'vícios on-line'

Cal Newport, de Georgetown, envia mensagens encorajadoras a seguidores

Cal Newport em pé no correto da universidade segurando um copo de café; ao fundo há alunos sentados no corredor
Cal Newport, professor associado de ciência da computação da Georgetown University - Daniel Rosenbaum/The New York Times
Emily Cochrane
Washington | The New York Times

Como parte de um desafio de um mês de duração cujo objetivo era simplificar sua vida digital, Kristi  Kremers prometeu que abandonaria seus vícios on-line: Instagram, Facebook e os sites noticiosos que ela verifica de hora em hora.

Mas sua determinação de fazê-lo durou apenas alguns dias. Ela logo recomeçou a verificar o Drudge  Report, "que representa uma espécie de centralizador" de todas as atualizações que acompanha, admitiu Kremers. Tampouco conseguiu resistir ao Facebook, usando a rede social para coordenar planos de festa de aniversário —"o dia do seu aniversário é tipo o seu melhor dia no Facebook", ela disse. E, por fim, cedeu aos encantos da mídia social como forma de acompanhar o progresso do time de futebol americano pelo qual torce, o Minnesota Vikings, nos playoffs da NFL.

"Eu basicamente criei uma situação na qual fracassar era inevitável", disse Kremers, que trabalha na Universidade de Minnesota, rindo. "Abandonar todas essas coisas a seco, de uma vez, era demais."

O desafio de fazê-lo durante todo o mês de janeiro veio de Cal Newport, professor associado de ciência da computação na Universidade de Georgetown, que mantém um blog sobre como administrar a produtividade digital, e encorajou seus milhares de leitores a abandonar por um mês todas as interações digitais que não fossem cruciais para seus trabalhos e suas vidas. No final do mês, ele instruiu que eles deveriam começar a retornar aos seus hábitos anteriores, passo a passo.

"É como limpar a casa, tirando tudo que existe dentro dela, e aí perguntar o que você realmente quer de volta", disse o professor. Newport admitiu que a fraqueza pessoal dele quanto à mídia on-line era por rumores sobre negociações de jogadores de beisebol.

Ele garantiu aos seus seguidores que não havia motivo de eliminar coisa alguma de essencial: os e-mails de trabalho, as verificações de contas bancárias e de cartão de crédito, o contato com familiares. Eles não deviam abandonar qualquer coisa que pudesse prejudicar seu trabalho ou vida familiar.

DESCANSO

Com o Vale do Silício sob pressão para corrigir a qualidade viciante de suas inovações, Newport descreveu seu experimento informal como maneira de as pessoas controlarem seu consumo de informações digitais, especialmente tendo em vista o acontecido na eleição presidencial norte-americana de 2016. O objetivo da proposta era responder ao que ele descreveu como uma queixa generalizada: preciso de descanso.

Essa queixa é especialmente dominante em Washington, ele disse, onde a propensão do presidente Donald Trump a usar uma determinada mídia on-line (o Twitter) basta para ditar pelo menos um dia inteiro de notícias e reações.

"Existe muita complexidade e incerteza quanto ao papel que essas tecnologias deveriam desempenhar na vida pessoal e profissional", disse Newport. "Passamos do estádio em que elas eram novidades, mas ainda não chegamos ao estágio da estabilidade".

Ele estimou que cerca de duas mil pessoas em todo o mundo tenham declarado que participariam de seu desafio, adaptando as restrições que seguiriam de forma a acomodar suas necessidades de trabalho, mas com a esperança de ao menos limitar sua dieta diária de notícias e mídia social.

SOLIDÃO

Em sua universidade, em Boras, na Suécia, Elin Hedin deixou de usar o Facebook, Snapchat, Twitter, Messenger e Instagram. Também tentou limitar o tempo que dedicava a navegar em sites.

Na primeira semana, a sensação era como a de estar de férias, e ela dormiu melhor. Mas depois, ela diz, bateu a solidão.

"Em muitos momentos, me senti isolada e meio solitária", escreveu Hedin em um e-mail. "Sentia falta de saber o que as pessoas estavam fazendo, ver o que estavam postando no Instagram, ler suas opiniões sobre as mais recentes notícias, e assim por diante".

"Acho que estou acostumada a um pouco mais de socialização", ela disse.

Newport continua a enviar mensagens diárias de encorajamento aos leitores que participaram do desafio. Ele diz que participar fez com que a maioria deles percebesse o quanto eram dependentes dos sites e dos apps que usam.

"O papel dessas coisas na vida das pessoas cresceu sem a permissão delas", ele disse. "Ninguém tinha isso em mente ao se inscrever no Facebook para ficar em contato com os colegas de universidade."

A maioria das pessoas que relataram resultados a Newport declarou que havia optado por novos hobbies— pintura, exercícios, a oportunidade de escrever um livro. Também disseram ter imposto normas severas para se impedir de ceder à tentação: manter o carregador do celular em outra sala; pedir às pessoas que enviam mensagens de texto que telefonassem; abandonar o reflexo de clicar em um site de esportes favorito, em lugar de concentrar a atenção no trabalho.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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