Apple tem mais de 2,8 mil hectares de terras nos Estados Unidos

Expansão dos data centers possibilita a crescente oferta de serviços online

Tim Bradshaw
San Francisco | Financial Times

Nos dois últimos anos, a Apple quase triplicou a área de terra que controla, adquirindo vastos terrenos em diversas regiões dos Estados Unidos para data centers e centrais de energia solar, que também podem ajudá-la a obter benefícios fiscais lucrativos.

No balanço anual da fabricante do iPhone, publicado esta semana, ela revelou ter 2.984 hectares de terras, ante 1.994 no ano passado e 1.045 hectares em 2016. Em 2011, ela tinha apenas 236 hectares de terras, de acordo com relatórios oficiais anteriores.

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Painéis solares em terreno da Apple, na Carolina do Norte - 7.jul.14/Xinhua

As terras equivalem a mais de 29,8 quilômetros quadrados, uma área superior à cidade de Cupertino, onde fica a sede da empresa. A empresa ainda é proprietária de mais de 3,8 milhões de metros quadrados de espaço imobiliário, próprio e alugado, ocupado pelos escritórios e lojas da empresa.

O balanço anual da companhia informa que ela detém "instalações e terras para funções empresariais, pesquisa e desenvolvimento, e data centers, em diversos locais dos Estados Unidos".

Embora analistas tenham especulado que os terrenos, cuja área é muito superior às necessidades atuais da empresa, possam estar reservados a novas instalações industriais nos Estados Unidos, ou a pistas privativas de testes para veículos autoguiados, em áreas remotas como o Arizona, uma boa proporção das propriedades imobiliárias da Apple já está em uso para seus data centers.

A grande expansão das centrais de processamento de dados possibilita a crescente oferta de serviços online, um dos focos da empresa em um momento de desaceleração no mercado de smartphones.

Longe do Vale do Silício, em estados como Iowa, Nevada e Carolina do Norte, a Apple vem investindo bilhões de dólares na construção de centrais de processamento para acionar serviços como iMessage, App Store, Apple Music e iCloud. Ela também acelerou seu investimento em fontes de energia renovável, como centrais de energia solar, para prover energia a essas instalações.

É cada vez mais frequente que a Apple compre os terrenos de que precisa para seus data centers e centrais de energia solar, em lugar de alugá-los. Essas instalações requerem forte investimento de capital e precisam ficar em áreas geologicamente estáveis e próximas o bastante dos consumidores para propiciar acesso rápido a serviços online.

Gigantes de tecnologia, como Amazon, Facebook e Google, também enfrentam outras considerações ao decidir onde construir seus data centers. Muitas cidades buscam atrair esse tipo de construção, com incentivos fiscais e outros benefícios, por exemplo reduções de alíquotas nos impostos de venda e prediais.

Os incentivos de municípios que oferecem condições tributárias positivas, como Maiden, na Carolina do Norte, ou Reno, em Nevada, valerão centenas de milhões de dólares para a Apple se ela operar nessas comunidades por duas ou três décadas. Apenas em Iowa, a empresa adquiriu 800 hectares de terras para novos data centers perto de Des Moines, e deve se beneficiar de mais de US$ 200 milhões em subsídios.

Embora as empresas de tecnologia prometam que os data centers gerarão novas receitas, empregos e investimentos complementares nas comunidades locais, o montante dos incentivos oferecidos continua a causar controvérsia. A Amazon foi criticada durante o projeto HQ2, o codinome para a busca de uma segunda sede nos Estados Unidos, por extrair promessas de bilhões de dólares em redução de impostos, além de outros benefícios, de governos municipais de diversas regiões dos Estados Unidos.

"Para uma empresa americana padrão, o imposto predial é uma das maiores despesas tributárias", disse Greg LeRoy, diretor executivo da organização ativista Good Jobs First, que luta pela criação de empregos. "E já que a Apple agora está formando um vasto patrimônio imobiliário, esses descontos importam muito".

Em 2012, o governo estadual de Nevada concedeu à Apple dezenas de milhões de dólares em benefícios fiscais, em troca de um investimento inicial de US$ 400 milhões em um data center em Reno. O número de empregos a serem criados pela nova instalação seria de apenas 35, de acordo com registros do escritório de desenvolvimento econômico do governo estadual.

"Achamos que é uma loucura subsidiar esses lugares de modo tão pesado quando eles criam tão poucos empregos", disse LeRoy. A Good Jobs First estima que a Apple deva se beneficiar de US$ 700 milhões em subsídios estaduais e locais, nas próximas décadas.

Mesmo assim, depois de seu investimento inicial em Reno, em 2012, a Apple expandiu seu data center lá, e criou dezenas de empregos novos no local. Brian Sandoval, que está concluindo seu mandato como governador de Nevada, afirma que a chegada da Apple à região gerou um estímulo econômico que resultou na criação de centenas de milhares de empregos no estado.

A Apple diz que os data centers são apenas uma parte de seu papel como "um poderoso propulsor de crescimento nos Estados Unidos", que sustenta mais de dois milhões de empregos no país. Os desenvolvedores cujos apps são vendidos pela App Store da companhia faturaram mais de US$ 16 bilhões desde que a loja foi lançada, em 2008.

"Estamos investindo bilhões de dólares em data centers avançados e ecologicamente positivos, para acionar a App Store e outros serviços, entre os quais iMessage, FaceTime e Siri", a Apple afirmou. "Nosso investimento cria centenas de empregos nos setores locais de construção, nos estados em que estamos nos expandindo, e trabalhamos em estreita cooperação com os líderes estaduais e locais para desenvolver nossos planos de investimento em longo prazo".

Como a Amazon, a Apple está em busca de um local para uma segunda sede nos Estados Unidos, para se somar ao Apple Park, de 70 hectares, que abriga boa parte de seus empregados desde o ano passado. A Apple anunciou a nova sede em janeiro, como parte de seu compromisso de fazer uma "contribuição direta" de US$ 350 bilhões para a economia dos Estados Unidos nos próximos cinco anos. Cerca de US$ 10 bilhões desse investimento estão relacionados a data centers, segundo a Apple.

 Tradução de PAULO MIGLIACCI

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