Mais da metade de todos os iPhones já vendidos —mais de 900 milhões de aparelhos —continuam sendo usados hoje, revelou a Apple na terça-feira à noite (29).
O número sustenta a maior esperança da empresa de recuperar o aumento das receitas: que mais de 900 milhões de clientes fiéis continuarão gastando mais em aplicativos, assinaturas e acessórios antes de acabarem comprando outro iPhone.
Mas a estatística também revela o maior desafio da Apple —que as pessoas gostem tanto de usar seu iPhone atual que não queiram comprar um novo.
Tim Cook, executivo-chefe da Apple, admitiu que os clientes estão demorando mais para trocar seus smartphones do que nos primeiros tempos do iPhone, contribuindo para uma queda de 5% nas receitas em seu grande trimestre das festas de fim de ano.
"Criamos nossos produtos para durar o máximo possível", disse Cook em uma teleconferência com analistas na terça à noite.
Isso contribui para o alto nível de satisfação e lealdade dos consumidores da Apple, acrescentou ele, mesmo que dificulte para a empresa atingir as metas trimestrais de Wall Street.
"O ciclo médio [de renovação] se ampliou, não há dúvida sobre isso", admitiu Cook.
"Para onde irá no futuro não sei, mas estou convencido de que fazer um ótimo produto de alta qualidade é a melhor coisa para o cliente."
Cook precisa convencer os investidores disso para que Wall Street acredite que o pico do iPhone não significa necessariamente o pico da Apple.
Os resultados de terça-feira viram a Apple confirmar que a queda nas vendas de iPhones, especialmente acentuada na China, deverá continuar por vários meses, com as vendas caindo até 10% e chegando a US$ 55 -59 bilhões no trimestre de março.
Mas o preço da ação da Apple começou o pregão na quarta-feira (30) mais alto do que estava no início do ano, antes da advertência chocante de Cook em 2 de janeiro de que as receitas no trimestre de dezembro não atingiriam as metas.
Analistas do HSBC atribuíram a recuperação da ação a uma mistura de tranquilização dos investidores com a revelação pela Apple de que mais de 900 milhões de usuários do iPhone —um aumento de 8% no ano passado —e de margens de lucro bruto acima do esperado em seu setor de serviços, com 63%.
Mas analistas da Jefferies disseram que embora a margem bruta da Apple em serviços seja "forte", não "é suficiente para compensar o desgaste das margens no negócio de hardware".
Em consequência, a Jefferies cortou suas previsões de receitas para 2019 em US$ 8 bilhões, para US$ 251 bilhões, o que representaria uma queda de 5% sobre o ano passado.
Alguns investidores que apostavam que o preço da ação cairia ainda mais podem ter coberto suas posições curtas depois que a orientação para o trimestre de março —embora abaixo do consenso publicado por analistas— não foi tão ruim quanto Wall Street temia, acrescentaram eles.
A ação da Apple recuperou os prejuízos de janeiro, mas com uma capitalização de mercado de US$ 731 bilhões seu valor continua abaixo do pico de US$ 1 trilhão atingido em agosto.
"A Apple não parece especialmente cara aqui, mas o trading atual, principalmente nos mercados emergentes, parece que continuará duro", disseram analistas do HSBC em uma nota de pesquisa.
Cook reconheceu na terça que "o preço é um fator" que retém as vendas nos mercados emergentes. Em janeiro, a Apple foi obrigada a adaptar sua estratégia em alguns MEs, onde o preço do iPhone foi elevado pelo dólar forte.
A Apple "essencialmente absorveu parte de todo o movimento do câmbio em comparação com o ano passado", disse ele. Apesar da previsão sombria, Cook adotou um tom geralmente confiante na entrevista de terça, insistindo: "Nosso ecossistema está mais forte que nunca".
Cook trabalha depois do horário para convencer Wall Street de que todos os novos clientes que compraram aparelhos Apple na última década --dos quais mais de 1,4 bilhão ainda são usados, incluindo iPads, Macs e Apple Watches, além de iPhones-- formam uma base sólida para o futuro crescimento.
Nos meses entre o aviso de receitas da Apple e a publicação de seus resultados plenos, a máquina de publicidade da empresa entrou em marcha acelerada. Janeiro é normalmente um mês relativamente tranquilo para novidades da Apple —um hiato entre o lançamento do iPhone em setembro e suas vendas intensas no fim de ano e a próxima onda de produtos, geralmente lançados em abril.
Não neste ano, enquanto Cook fazia sua estreia no Fórum Econômico Mundial em Davos e aparecia na televisão comercial falando sobre as perspectivas da companhia.
Por trás disso veio uma série de anúncios sobre uma expansão de seus produtos atuais —incluindo o lançamento do alto-falante HomePod na China, uma ligação com a seguradora de saúde Aetna para promover o Apple Watch e mais lojas apoiando sua rede de pagamentos por celular Apple Pay —, assim como medidas destinadas a reforçar a comunidade Apple, salientando seu investimento anual de US$ 60 bilhões em fornecedores nos EUA e um novo "Acampamento do Empresário" em sua sede para mulheres que desenvolvem aplicativos.
Os resultados de terça-feira acrescentaram uma avalanche de novos números para reforçar a tese central de Cook de que os serviços online podem compensar parte do prejuízo das vendas de telefones.
A Apple Music tem mais de 50 milhões de assinantes pagantes, enquanto o app News em iPhones e iPads tem 85 milhões de usuários mensais.
Ao todo, a Apple cuida de mais de 360 milhões de assinaturas, incluindo seus próprios serviços e clientes que usam o sistema de pagamentos da App Store para pagar por serviços mensais como Linkedin, Tinder ou Pandora.
Alguns grandes serviços por assinatura como Netflix e Spotify pararam de permitir que os clientes paguem pela App Store, para não pagarem à Apple a comissão de 15% a 30%.
De todo modo, a Apple ganhou 120 milhões de assinaturas pagas nos últimos 12 meses e acredita que possa alcançar 500 milhões de assinantes até o fim do próximo ano.
Isso está ajudando o negócio de serviços da empresa a crescer de forma consistente cerca de 20% por trimestre, enquanto se aproxima de sua meta de duplicar as receitas entre 2016 e 2020.
Daniel Ives, analista da Wedbush Securities, calculou que a divisão de serviços da Apple valeria até US$ 450 bilhões em uma base isolada --mas ele continua preocupado porque as vendas fracas do iPhone na China "não estão dando sinais de ceder nos próximos trimestres".
"A narrativa da noite passada é muito mista: a Apple e Cook enfrentam um de seus períodos de crescimento mais desafiadores na história da companhia", disse Ives.
"Há claramente uma escalada tipo Everest para que a Apple reverta sua estagnação na China em curto prazo."
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