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Apple é punida pelas suas próprias virtudes com a perda do brilho do iPhone

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John Gapper
colunista do Financial Times | Financial Times

Como cantava Joni Mitchell em "Big Yellow Taxi", "não parece que sempre acontece de você só saber o que tinha quando perde?".

É essa a sensação que a Apple vive agora, com a queda abrupta nos preços de suas suas ações, depois que a empresa admitiu que os clientes estão hesitando mais para comprar iPhones novos.

Foi uma fase excelente, enquanto durou —e, com alguns altos e baixos, vinha durando desde o lançamento do iPhone, em 2007.

É raro que pessoas substituam um bem de consumo dispendioso a cada dois anos porque a nova versão é muito atraente, ainda que a versão precedente continue a funcionar perfeitamente bem. Esse talvez seja um dos círculos mais virtuosos que uma empresa pode esperar atingir.

Por algum tempo, a Apple desfrutou de todos os benefícios da obsolescência planejada sem nenhum dos inconvenientes. As pessoas corriam a trocar seus iPhones embora ainda os amassem —faziam fila para proclamar sua empolgação por serem autorizadas a ascender a um novo patamar. Ninguém via a Apple negativamente por produzir bens efêmeros.

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Funcionária repõe aparelhos em loja da Apple em Berlim, na Alemanha - Hannibal Hanschke/Reuters

A empresa nunca foi punida por suas virtudes, mas está sofrendo, agora. Muita gente aceitou a oferta, pela Apple, de baterias mais baratas para substituir as de seus iPhones mais velhos, no ano passado, e as câmeras e chips mais recentes na linha iPhone X não são atraentes o bastante para convencer o consumidor a comprar. Os modelos mais antigos são bons o bastante.

O alerta da Apple quanto a uma redução em sua projeção de lucros, na semana passada, foi gerado porque os donos de iPhones agora estão trocando de aparelho a cada três anos, em lugar de dois, e por uma mudança ainda mais forte na China. 

A Apple tenta "projetar e fabricar produtos duráveis que durem o máximo possível", disse Lisa Jackson, diretora de política ambiental da empresa, em setembro, e seus consumidores estão se enquadrando a isso.

O que se pode fazer? A Apple não pode se converter à obsolescência planejada no sentido convencional, tornando o iPhone mais frágil. Isso abalaria sua marca. 

Isso torna a Apple parecida com a Sonos, que produz alto-falantes para streaming de música, e tem um grupo de fãs igualmente dedicado. 

Os alto-falantes da Sonos são bem-feitos, caros e duram muito tempo —94% dos produtos registrados de 2005 para cá continuam em uso. Em lugar de depender da substituição, a empresa confia em que os entusiastas comprem mais alto-falantes.

Isto é extremamente lógico: se você não pode depender da substituição de seu produto principal, é preciso vender outros produtos. 

A Sonos continua a "expandir o sistema Sonos", e a divisão de produtos vestíveis da Apple, que inclui o Apple Watch, já registra vendas anuais de US$ 10 bilhões. Quando a Apple lançar óculos de realidade aumentada, sua diversificação aumentará ainda mais.

Mas o revés do iPhone, somado ao alerta quanto a lucros divulgado pela Samsung, marca o fim de uma era dourada para os smartphones, quando a velocidade da inovação e a obsolescência fizeram da Apple uma das maiores empresas do mundo. 

A ação agora está no campo da inteligência artificial e streaming de serviços como jogos e entretenimento.

O iPhone continua a ser um patrimônio invejável para a Apple, mas, como cantou Mitchell, o paraíso de sua primeira década terminou asfaltado.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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