Fundador da startup WeWork aluga imóveis para a própria empresa

Investidores e especialistas em governança veem conflito de interesses em lucros do executivo com a operação

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Eliot Brown
San Francisco | The Wall Street Journal

Depois de uma mudança para um edifício de escritórios administrado pela WeWork, gigante da locação de escritórios nos Estados Unidos, trabalhadores de uma unidade da IBM em Manhattan se queixaram à companhia de problemas nos elevadores, que os forçavam a subir 11 andares de escadas.

Um dos proprietários do edifício era nada menos do que Adam Neumann, presidente-executivo da WeWork, que adquiriu o imóvel e o alugou à sua empresa. A WeWork é uma das startups mais valiosas dos Estados Unidos. 

Também presente no Brasil, a companhia oferece espaço físico e serviços a startups, médias empresas e trabalhadores independentes, que pagam uma mensalidade e compartilham algumas áreas comuns. 

Diversos investidores da empresa de capital fechado disseram que o arranjo os preocupa em razão do potencial conflito de interesses, já que o presidente poderia lucrar com a locação dos imóveis.

Um porta-voz afirmou que todos os negócios envolvendo partes relacionadas à empresa são revisados e aprovados pelo conselho ou por uma comissão independente e que os investidores são notificados. Neumann se recusou a comentar.

A WeWork, avaliada em US$ 47 bilhões pelo SoftBank Group, que investiu na companhia, assina contratos de locação de longa duração com os proprietários de imóveis e depois os subloca a inquilinos com contratos curtos.

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Com captação bilionária, valor do WeWork salta para quase US$ 50 bi - Folhapress

Neumann, 39, que fundou a WeWork em 2010, é o maior acionista individual da empresa e tem direitos de voto que lhe conferem controle operacional sobre a companhia.

Em pelo menos um caso, antes de garantir seu controle operacional, ele foi impedido de concluir um negócio do tipo. Quando a WeWork negociava para alugar um edifício em Chicago em 2013, ele tentou adquirir uma participação de 5% no imóvel, como parte da transação. 

O conselho da WeWork se preocupou com o negócio, mencionando possível conflito de interesses, e foi a WeWork que terminou adquirindo parte do imóvel.

No ano seguinte, Neuman passou a ter mais de 65% dos votos da empresa. Depois disso, adquiriu diversos imóveis, por meio de consórcios de investidores, e a WeWork alugou alguns.

Prédio da WeWork, gigante da locação de escritórios, em Nova York  - Brendan McDermid - 8.jan.19/Reuters

Em um prospecto quanto a uma emissão de títulos de dívida no ano passado, a WeWork anunciou que tinha contratos de locação para diversos imóveis dos quais Neumann era um um dos proprietários. 

Também informou ter pago mais de US$ 12 milhões em aluguel por imóveis “parcialmente controlados por dirigentes” da empresa, entre 2016 e 2017, e que mais US$ 110 milhões em pagamentos seriam realizados no futuro quanto a esses contratos. Os imóveis específicos não foram identificados.

Além do edifício ocupado pela IBM, no qual Neumann detém 50% de participação, ele investiu em imóveis em San Jose, na Califórnia, nos quais a WeWork é a inquilina ou deve se tornar inquilina no futuro. 

O plano em San Jose é que eles formem uma espécie de campus urbano —repletos de escritórios da WeWork e projetos associados, como um edifício residencial chamado WeLive. A WeWork contratou o famoso arquiteto Bjarke Ingels para isso.

Outro dos imóveis em San Jose, o St. James Plaza, adquirido pelos investidores por US$ 40 milhões, alguns meses atrás assinou contrato de locação com a WeWork.

Especialistas em governança empresarial dizem que ter Neumann como proprietário de imóveis alugados pela WeWork seria considerado incomum em uma grande empresa. Corporações tipicamente proíbem seus executivos de organizar arranjos semelhantes, porque isso acarreta o risco de que paguem aluguéis caros demais ou aluguem edifícios que usualmente não escolheriam.

“Em uma companhia de capital aberto, isso seria considerado muito controverso”, afirmou Charles Elson, 
diretor do Centro John L. Weinberg de Governança Empresarial, na Universidade do Delaware. 

“Usualmente, as pessoas tendem a pensar nelas primeiro e depois na empresa, quando estão na ponta oposta da transação”, acrescentou.

Em Nova York, o acordo quanto ao edifício da IBM aconteceu em 2015, depois que Neumann se uniu ao estilista Elie Tahari na compra do prédio, por US$ 70 milhões. 

Os proprietários alugaram o edifício para a WeWork. Esta, em seguida, fechou negócio com a IBM, que precisava de espaço, e se mudou para o edifício no segundo trimestre de 2017. A participação de Neumann no prédio foi revelada em 2018 pela revista Real Deal.

Pouco depois que a IBM ocupou o edifício, um dos dois elevadores quebrou. Executivos da IBM, frustrados com as condições de trabalho, se queixaram à WeWork. 

Embora os proprietários normalmente sejam responsáveis pelos elevadores, a WeWork assinou um acordo descrito como “de rede tripla”, com Tahari e Neumann, nos termos do qual a responsabilidade pelos elevadores caberia à WeWork. 

Como parte do acordo, os proprietários destinaram verbas para que a WeWork pagasse pelas renovações.

O valor do edifício subiu, e os proprietários conseguiram captar mais dinheiro ao renegociar a dívida do imóvel.

No final de 2018, Neumann e Tahari conseguiram um empréstimo de US$ 77,5 milhões dando o edifício como garantia, o que representa US$ 7,5 milhões a mais do que o empréstimo assinado para a compra do edifício.

A riqueza pessoal de Neumann foi gerada principalmente pela venda de ações da WeWork. Não se sabe quantas ele vendeu, mas ele disse a amigos que o montante das vendas chega às centenas de milhões de dólares
Traduzido do inglês por Paulo Migliacci
 

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