Aposta em tela dobrável para reanimar venda de celular esbarra no preço

Aparelhos chegam às lojas neste ano por até R$ 10,1 mil nos EUA

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Dan Strumpf Sara Germano
Hong Kong e Berlim

No principal evento do setor de telefonia móvel, duas das três maiores fabricantes mundiais de smartphones exibiram suntuosamente o que esperam venha a ser o smartphone do futuro. A questão é saber se alguém vai comprá-lo.

A Samsung e a Huawei mostraram seus primeiros smartphones de telas dobráveis  
—lançados com poucos dias de intervalo no mês passado— no Mobile World Congress, em Barcelona. Mas mantiveram a mística. 

Ao contrário dos demais modelos de suas linhas, que os mais de 100 mil espectadores presentes puderam testar e manipular, os celulares dobráveis foram exibidos por trás de paredes de vidro e de barreiras de cordas instaladas para que os espectadores mantivessem a distância.

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Vice-presidente de marketing de produto da Samsung, Justin Denison, anuncia o Samsung Galaxy Fold durante o evento em fevereiro - Justin Sullivan/Getty Images/AFP

As empresas esperam que a primeira grande mudança de formato dos smartphones desde seu surgimento, mais de uma década atrás, convença os consumidores a trocar seus aparelhos e a pagar mais pela área de tela adicional. O setor sofreu cinco trimestres consecutivos de queda de vendas —os usuários veem cada vez menos razões para trocar seus modelos atuais.

Mas as operadoras, que fazem boa parte das vendas, dizem não contar com uma enxurrada de compradores —ao menos não inicialmente. 

Para começar, a tecnologia das telas dobráveis não foi testada no mundo real, em termos de desempenho e sobrevivência ao desgaste do uso cotidiano. 

Segundo, os preços muito salgados superam os de alguns dos laptops mais bem equipados. O Galaxy Fold deve custar US$ 1.980 (R$ 7.700) nos EUA, ao chegar às lojas em 26 de abril, e o Huawei Mate X, que deve chegar ao mercado na metade do ano, tem preço previsto de US$ 2.600 R$ 10,1 mil).

“Se eu vejo esse mercado como muito grande? Provavelmente não”, disse Ronan Dunne, presidente das operações ao consumidor da Verizon. “Se acho que é um desenvolvimento realmente interessante em termos de formato e aparelhos? Com certeza.”

Jun Sawada, presidente-executivo da NTT, gigante das telecomunicações do Japão, disse que havia pontos de interrogação sobre a durabilidade dos aparelhos, especialmente a abertura e fechamento da tela, bem como sobre seu preço. 

Em coquetel organizado pela Huawei em Barcelona, Richard Yu, vice-presidente de operações da empresa, mostrava o Mate X, cuja tela mostra um ligeiro desnível quando desdobrada, aos convidados, entre garrafas de vinho Cava e bandejas de patê de foie gras. 

Comprovando a rivalidade entre os fabricantes de smartphones, a Samsung lançou seu modelo dobrável em San Francisco em 20 de fevereiro, quatro dias antes do lançamento da Huawei em Barcelona. 
Os designs são diferentes. Quando dobrada, a tela do modelo da Samsung se fecha sobre si mesma, enquanto a da Huawei se dobra em torno do aparelho. 

O Samsung Fold tem seis câmeras, ante quatro para o Mate X da Huawei, e pode exibir três apps simultaneamente na tela, ante dois para o dobrável da Huawei.

Jean Baptiste Su, analista da Atherton Research, empresa de pesquisa do Vale do Silício, estudou os dois aparelhos. O Samsung Fold é mais estreito e mais fácil de usar com uma mão só, enquanto o Huawei Mate X é mais fino e se dobra sem nenhuma saliência.

“Os dois são celulares bonitos”, disse Su, com “design muito robusto”. O preço não é questão, para celulares de novas categorias, disse, comparando os modelos dobráveis ao primeiro iPhone, que custava US$ 499 em 2007, enquanto alguns modelos posteriores vieram a sair por US$ 199.

Mas está sendo difícil convencer o consumidor de que os aparelhos de topo de linha valem o preço cada vez mais alto que é cobrado por eles.

“Para que você precisa de uma tela dobrável?”, disse Saeed Abdullah, 29, taxista em Barcelona. “Por € 2.000, com certeza não.”

A Apple ainda não entrou na briga das telas dobráveis. A empresa pediu patente sobre um celular dobrável em 2011, mas os planos para três novos modelos de iPhone neste ano não incluem dobráveis. 

A empresa historicamente sai atrás de seus rivais no lançamento de recursos. Por exemplo, a Samsung lançou telas grandes e adotou o padrão Oled —display orgânico emissor de luz— anos antes da Apple. Um porta-voz da Apple se recusou a comentar o assunto.

Analistas estimam que os preços salgados deverão manter pequeno o mercado dos celulares dobráveis. A empresa de pesquisa Canalys prevê que os fornecedores embarcarão menos de 2 milhões desses aparelhos em 2019, em meio a um total de mais de 1 bilhão de smartphones. 

Ainda assim, os fabricantes de smartphones esperam que os novos modelos ajudem a injetar vida nova em um mercado que encolheu agora que os consumidores optam por manter seus celulares por mais tempo.

O declínio de embarques no ano passado foi o maior já registrado, 4,1%, segundo o grupo de pesquisa IDC, ainda que a Huawei venha contrariando a tendência. Suas vendas mundiais de smartphones subiram 34% em 2018 e ela disputa com a Apple o segundo posto no ranking de fabricantes de celulares, atrás da Samsung, de acordo com a IDC.
 

The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

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