Descrição de chapéu The New York Times

Facebook pede trégua com provedores de conteúdo ao revelar plataforma de notícias

A companhia aposta trazer de volta ao site usuários interessados em consumir notícias

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The New York Times

O Facebook e o setor de notícias são amigos e inimigos há muito tempo. Ocasionalmente se unem, mas em geral competem. Agora, os dois lados chegaram a uma trégua inquieta.

Na sexta-feira o Facebook revelou o Facebook News, sua mais recente incursão ao mundo do conteúdo noticioso digital. O produto é uma nova seção do app da rede social para aparelhos móveis, dedicada integralmente ao conteúdo noticioso. Aposta da companhia para trazer de volta ao site usuários interessados em consumir notícias sobre esporte, entretenimento, política e tecnologia.

O Facebook News oferecerá reportagens de uma série de publicações, entre as quais The New York Times, The Wall Street Journal e The Washington Post, bem como de veículos noticiosos digitais a exemplo do BuzzFeed e do Business Insider. Algumas reportagens serão escolhidas por uma equipe de jornalistas profissionais, e outras serão enquadradas aos interesses dos leitores por meio do uso da capacidade de aprendizado por máquina desenvolvida pelo Facebook.

“Sentimos uma aguda responsabilidade porque evidentemente existe a consciência de que a internet desordenou o modelo de negócios do setor noticioso”, disse Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook.

 
O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, ao apresentar o Facebook News, em Nova York
O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, ao apresentar o Facebook News, em Nova York - AFP
 

“Nós descobrimos uma nova maneira de agir, e acreditamos que ela será melhor e mais sustentável.”

O Facebook pagará por conteúdo de dezenas de provedores de notícias —em alguns casos, assinando acordos no valor de milhões de dólares—, e obterá notícias locais de provedores de conteúdo de menor porte em mercados metropolitanos como Dallas-Fort Worth, Miami e Atlanta.

“Mark Zuckerberg parece ter assumido um compromisso pessoal e profissional de garantir que o jornalismo de alta qualidade tenha um futuro viável e valioso”, afirmou Robert Thomson, presidente-executivo da News Corp, em comunicado. 

“É absolutamente apropriado que o jornalismo de qualidade seja reconhecido e recompensado.”

O relacionamento entre o Facebook e os provedores de conteúdo sofreu desgastes. Porque Facebook e Google dominam o mercado de publicidade online, abocanhando até 80% da receita que ele gera, os provedores de conteúdo veem os gigantes da tecnologia como obstáculos à sua expansão digital.

O Facebook ao longo dos anos cortejou os provedores de conteúdo com diferentes iniciativas jornalísticas, como os “Instant Articles” —um produto no qual os provedores de conteúdo forneciam reportagens para circulação exclusiva no Facebook - e no Facebook Live, que pagava para que redações jornalísticas contratassem equipes de jornalistas a fim de usar e promover os produtos de vídeo da rede social.

Mas esses relacionamentos se amargaram com as frequentes mudanças de estratégia do Facebook, que levavam os provedores de conteúdo a se sentirem prejudicados pela rede social, que abandonava seus planos originais.

Depois de promover pesadamente parcerias para projetos de vídeo, por exemplo, o Facebook decidiu não renovar seus acordos quanto a vídeo com provedores de conteúdo, e os efeitos foram catastróficos. A Mic, uma produtora de conteúdo digital cujo objetivo era atender à geração millennial, sempre sedenta por notícias, foi forçada a se vender por um valor irrisório quando seus contratos de vídeo com o Facebook não foram renovados por decisão unilateral.

Zuckerberg reconheceu a tensão entre o Facebook e os provedores de conteúdo, e disse que as experiências passadas haviam orientado sua abordagem atual.

“Não estamos falando de algo efêmero”, ele disse sobre as novas parcerias com os grupos noticiosos. “É por isso que os acordos que estamos estruturando são compromissos de longo prazo, não por dois meses, mas por um ano ou múltiplos anos.”

Ele acrescentou que “acreditamos ter chegado a uma fórmula, ao longo de todas essas conversas, sob a qual agora podemos pagar por conteúdo de forma sustentável”.

O novo esforço do Facebook News é comandado por Campbell Brown, veterana jornalista de televisão que cobriu política nas redes NBC e CNN antes de ir para o Facebook como vice-presidente de parcerias noticiosas.

A maior parte das dificuldades financeiras recentes das empresas de notícias pode ser atribuída a uma virada na direção da publicidade digital, que não compensou a perda de receita publicitária em mídia impressa.

Ainda que os gigantes da tecnologia não sejam o único motivo para que as receitas dos provedores de conteúdo tenham caído, mesmo pequenas mudanças nos algoritmos do Facebook têm efeito desproporcional sobre o tráfego de sites noticiosos. Assim, quando provedores de conteúdo desenvolviam estratégias especiais para o News Feed do Facebook, o tráfego de seus sites às vezes despencava quando o Facebook mudava de rumo.

Em um memorando enviado à equipe do The New York Times, o presidente-executivo da companhia, Mark Thompson, e a sua vice-presidente de operações, Meredith Kopit Levien, descreveram o Facebook News como uma “mudança de passo no relacionamento financeiro entre a empresa e as plataformas digitais”.

“Nós argumentamos há muito tempo que as grandes plataformas derivam valor substancial da presença de jornalismo de alta qualidade e que deveriam ajudar a apoiar o lado econômico daquilo que torna o jornalismo possível”, eles escreveram. “Recebemos positivamente o fato de que o Facebook tenha assumido a liderança quanto a isso.”

Os dois executivos do The New York Times, que não revelaram detalhes específicos do acordo entre sua empresa e o Facebook News, disseram que o viam como complementar a, e não competitivo com, o seu objetivo de expandir as assinaturas digitais do grupo a 10 milhões até 2025. O The New York Times no momento tem 4,7 milhões de assinantes.

O Facebook não está sozinho em optar por dar maior destaque a reportagens originais. No mês passado, o Google anunciou que daria prioridade a artigos que divulguem notícias inéditas ou a serviços que invistam significativamente em reportagens originais, de preferência a conteúdo derivativo.

O Google deixou claro que a decisão não era puramente altruísta. Destacar reportagens originais, um executivo deu a entender, tornaria mais provável que os usuários confiassem no Google e continuassem a usar o gigante das buscas.

Em março, a Apple também lançou um serviço pago de assinatura de notícias, o Apple News Plus, que oferece artigos de diversos provedores de conteúdo por US$ 10 (R$40) ao mês. Mas muitos grupos noticiosos rejeitaram os termos da Apple, que exigia 50% de comissão sobre a receita gerada pelas assinaturas. Ainda que a News Corp tenha aceitado a parceria com a Apple, outras empresas —entre as quais o The New York Times e o The Washington Post— não o fizeram.

Com o Facebook News, a rede social disse que desejava evitar alguns dos erros de seus produtos noticiosos do passado, que dependiam demais de sugestões geradas por algoritmos, sem qualquer seleção por jornalistas.

“As pessoas querem, e se beneficiam de, experiências personalizadas no Facebook, mas sabemos que existem trabalhos de reportagem que transcendem a experiência individual”, afirmou Brown em uma mensagem no site da empresa. “Queremos apoiar as duas coisas.”

Tradução de Paulo Migliacci

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