Descrição de chapéu Financial Times

Criptomoedas, fones e 5G serão os destaques da tecnologia em 2020

Analistas do Financial Times projetam mais críticas ao Facebook e ascensão das Bolsas asiáticas

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Richard Waters Yuan Yang Tim Bradshaw
San Francisco, Hong Kong e Londres | Financial Times

Este foi um ano de grande sucesso para a tecnologia, em que os preços das ações da Microsoft, Google, Apple, Amazon, Alibaba, Tencent e Facebook continuaram subindo e várias startups entraram nas Bolsas.

O Financial Times trouxe uma série de notícias exclusivas, incluindo uma grande violação de segurança no WhatsApp, a saída da Apple de Jony Ive, o designer do iPhone, e o Google atingindo a supremacia quântica.

Este também foi o ano em que a Samsung lançou um telefone dobrável quebrado, o Facebook tentou lançar uma nova moeda, a IPO do Uber fracassou, Jack Ma deixou o Alibaba, a guerra tecnológica Estados Unidos-China não deu sinais de esfriar, a King's Cross de Londres teve que abandonar o reconhecimento facial e a economia de dados continuou sendo uma grande preocupação.

Aqui está o que os correspondentes especializados em tecnologia do Financial Times esperam para 2020.

De guerra tecnológica entre EUA e China até expansão do 5G, confira as apostas dos especialistas do Financial Times para a tecnologia em 2020 - Gabriel Cabral/Folhapress

Richard Waters, chefe da sucursal do Financial Times na Costa Oeste (EUA), vê um progresso lento na inteligência artificial (IA), um interesse renovado por blockchain e mais um ano de ataques no Facebook:

O próximo ano não trará um inverno de inteligência artificial completo —o nome dado ao momento em que a IA caiu em desfavor—, mas haverá um claro esfriamento no ar.

Depois de todas as promessas, as limitações do aprendizado profundo serão grandes, conforme as empresas descobrirem o quanto é difícil obter resultados de seus próprios dados. Haverá pelo menos um exemplo destacado de uma companhia que confia demais na produção de um algoritmo inteligente, com resultados embaraçosos.

Outra tecnologia muito badalada, por outro lado, voltará a cair em favor: blockchain.

As criptomoedas receberão um selo de aprovação oficial, enquanto outros bancos centrais seguirão a China procurando emitir suas próprias moedas digitais. E se os aplicativos nos bastidores (em cadeias de suprimentos e nas funções de back-office dos bancos) manterão um progresso constante, ou mesmo espetacular, um aplicativo de sucesso no mercado de consumo destacará o potencial de uma nova geração de mercados descentralizados online.

Mas a fase especulativa e selvagem das criptomoedas ainda tem tempo para seguir: mais um ano de volatilidade selvagem deixará a bitcoin em US$ 30 mil ou em US$ 1.000, com igual probabilidade.

Enquanto isso, com uma eleição nos EUA no final do ano, o Facebook passará mais um ano como o saco de pancadas favorito de todos (OK, essa é fácil).

Apanhado entre os fanáticos pela liberdade de expressão e os adversários das notícias falsas, Mark Zuckerberg continuará desconfortável tentando apresentar, e falhando, uma lógica crível de por que o Facebook não faz alterações mais profundas em seu serviço.

Quando a poeira baixar e a história das eleições dos EUA em 2020 for escrita, entretanto, haverá consenso de que a Fox News fez mais para promover a divisão partidária do que qualquer rede social online.

Yuan Yang, correspondente de tecnologia do Beijing Financial Times, prevê mais disputas entre Washington e Pequim, proteção de dados tornando-se prioridade na China e pelo menos um vazamento embaraçoso:

A batalha entre os EUA e a China sobre tecnologia vai se intensificar. Uma grande empresa de tecnologia chinesa —provavelmente a ByteDance, fabricante do aplicativo de vídeo viral TikTok— será atingida por restrições dos EUA, e Pequim, em troca, será mais dura com as empresas americanas.

Enquanto as empresas de tecnologia da China tentam se livrar da cadeia de suprimentos dos EUA, haverá anúncios chamativos de novos designs de chips fabricados na China.

Será interessante ver o papel das empresas americanas, como Qualcomm, ou de projetos de pesquisa originais dos EUA, como o RISC-V, em ajudar as empresas chinesas a atingir seus objetivos. Só porque elas são empresas americanas não significa que desejem acompanhar o afastamento do governo dos EUA —elas ainda têm muitos negócios na China. Os pesquisadores também vão querer colaborar além das fronteiras.

Em vez de investir nos EUA, Alibaba, Tencent e ByteDance expandirão seus investimentos na Europa. E, em vez de captar recursos nas Bolsas dos EUA, uma série de startups será listada no Star Board, nova Bolsa de Xangai semelhante à Nasdaq. O governo quer que suas melhores empresas sejam listadas na China e relaxará os regulamentos para ajudar, além de pressionar nos bastidores das empresas. A IPO muito atrasada da Ant Financial finalmente aparecerá em Hong Kong, no continente ou em ambos.

segurança de dados se tornará uma questão ainda mais quente na China. Nos últimos dois anos, Pequim pressionou para melhorar a segurança cibernética, temendo que os dados dos cidadãos pudessem chegar às mãos de inimigos estrangeiros. 

No próximo ano, o governo vai elaborar duas leis de proteção de dados pessoais e segurança de dados. Uma das últimas coisas que fez neste ano foi divulgar publicamente as empresas que estavam sugando muitos dados com seus aplicativos. Em 2020 haverá punições mais severas por baixa proteção de dados, com uma das gigantes tecnológicas recebendo uma multa pesada para dar o exemplo.

Apesar dessa pressão, também haverá vários vazamentos importantes de dados que serão embaraçosos para o governo. Os governos locais da China estão construindo apressadamente sistemas de vigilância que localizam os cidadãos a cada segundo, auxiliados por câmeras de reconhecimento facial e rastreadores de celular, e todos esses dados devem ser armazenados em algum lugar.

Parte deles acaba em bancos de dados inseguros, que qualquer pessoa com conexão à internet pode vasculhar. Quando pesquisadores e jornalistas se deparam com esses bancos de dados, eles oferecem uma grande oportunidade de espiar o funcionamento do Estado policial chinês.

Tim Bradshaw, correspondente global de tecnologia do Financial Times, espera um iPhone 5G, fones de ouvido mais sofisticados e o renascimento ou a morte dos consoles de jogos:

Afinal, apenas uma previsão de gadget realmente importou nos últimos dez anos: que o smartphone continuaria dominando.

A chegada de um iPhone 5G e a implantação mais ampla de redes sem fio velozes em 2020 poderão estimular uma onda maior de atualizações de aparelhos nos próximos anos. O 5G pode ser mais incremental do que revolucionário, mas foi a adição de 4G aos dispositivos Android a partir de 2010 e ao iPhone 5 em 2012 que permitiu que os smartphones realizassem seu potencial na última década.

No mínimo, o 5G trará aos smartphones mais jogos, mais vídeos —e mais ansiedade sobre a rapidez com que queimamos nossas franquias de dados móveis.  

Embora ainda seja difícil imaginar que algo possa separar nossos olhos e polegares de nossos supercomputadores de bolso, o Vale do Silício tem projetos para nossos ouvidos. O sucesso dos AirPods da Apple nos últimos 18 meses significa que os fones de ouvido sem fio substituíram os relógios inteligentes como novo foco da indústria para acessório "vestível".

O grupo de pesquisa IDC estima que as vendas do que chama de "earwear" atingiram 139,4 milhões de unidades em 2019 (o dobro do número de smartwatches vendidos durante o ano), com as remessas atingindo 273,7 milhões em 2023.

Em 2020, espere que Amazon, Google e Samsung aumentem seus esforços para transformar os fones de ouvido em plataforma para seus assistentes virtuais concorrentes, enquanto imitações do AirPod proliferarão na CES em janeiro.

No final de 2020, um novo ciclo de hype começará para os videogames, com Sony e Microsoft preparando sua próxima geração de consoles para o Natal. Tanto o Xbox Series X quanto o PlayStation 5 oferecem resolução de 8K (o que vem depois do "ultra-HD" de 4K? Super-HD? Mega-HD?) e "ray tracing", uma maneira mais dinâmica e naturalista de rebater a luz de objetos e ambientes de jogos.

Com a Microsoft também decidida a lançar seu serviço de jogos na nuvem para competir com o Stadia do Google, e a popularidade constante de jogos multiplayer entre plataformas como o Fortnite, talvez 2020 seja o ano em que outra previsão muito frequente da década passada —a morte do console— finalmente comece a se tornar realidade.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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