As tarifas sobre o comércio internacional e o espectro da peste suína africana fizeram de 2019 um ano assustador para os criadores de porcos. E pode haver novas más notícias no horizonte.
Os fabricantes do Impossible Burger anunciaram na segunda-feira (7) que vão lançar dois produtos de base vegetal com sabor de carne de porco, que segundo eles terão gosto autêntico o bastante para conquistar alguns dos bilhões de consumidores de carne suína do planeta.
As novas carne de porco moída e salsicha para da Impossible Foods serão os primeiros produtos que imitam proteína não bovina a serem lançados pela companhia desde que ela lançou seu primeiro hambúrguer, em 2016. A Impossible Sausage estará disponível em 139 unidades da cadeia de fast food Burger King a partir do final deste mês, e será servida como parte do sanduíche “Croissan’wich”.
A carne moída Impossible Pork ainda não tem data de lançamento definida.
As réplicas de base vegetal para carnes ganharam popularidade nos últimos anos, com mais e mais consumidores fazendo opções vegetarianas por conta de preocupações ambientais, éticas e de saúde. A Tyson Foods recentemente anunciou um investimento em uma empresa de San Francisco que está criando um simulacro de frutos do mar com base vegetal, e empresas como a Impossible Foods e a Beyond Burger se concentraram em recriar a textura e sabor da carne usando ingredientes vegetais.
A carne de porco pode se provar uma aposta especialmente boa para a Impossible Foods. É a forma de carne mais consumida no planeta, e especialmente popular na Ásia. O setor está enfrentando uma crise por conta da epidemia de febre suína africana, que dizimou a oferta de porcos em todo o planeta, matando quase um quarto dos porcos, de agosto de 2018 para cá.
Embora a companhia sediada na Califórnia não tenha sido motivada especificamente pela febre suína, ao começar a trabalhar em seu novo produto no ano passado, foram preocupações de saúde sobre a maneira pela qual animais são criados para a produção de alimentos, de modo geral, que justificaram a decisão, disse Celeste Holz-Schietinger, diretora de pesquisa da Impossible Foods.
Os ingredientes primários dos produtos suínos da Impossible Foods são em geral os mesmos que a companhia usa em seus hambúrgueres –água, soja, proteína concentrada, óleo de coco, óleo de semente de girassol e flavorizantes naturais. As diferenças entre o Impossible Burger, moído, e os produtos de carne de porco estão nos detalhes, por exemplo na elasticidade da salsicha e na gordura da carne de porco.
“As primeiras coisas que você perceberia são a liberação de sumos, a suculência na boca, o revestimento do palato, seguidos pelo sabor”, disse Holz-Schietinger. “Você sentirá o gosto da gordura, e o umami”.
A companhia escolheu mostrar a carne de porco falsa em um cenário incomum: a grande feira de eletrônica CES 2020, em Las Vegas, mais conhecida pelos lançamentos de robôs, televisores e produtos conectáveis à internet, de maçanetas de porta a caixas de areia para gatos.
Em um evento para a imprensa na segunda-feira, no Kumi Restarant, do hotel Mandalay Bay, a Impossible Foods preparou diversos pratos asiáticos usando a carne de porco moída que está lançando, entre os quais bahn mi, pãezinhos char siu, e Impossible Pork Katsu.
Em seu estande em Las Vegas, apertado entre estandes de empresas que desenvolvem tecnologia para carros, a companhia planejava distribuir amostras de bahn mi aos participantes da feira.
Ela não era a única empresa de alimentos presente na feira a fim de lançar substitutos para produtos animais tradicionais. A Eclipse Foods participa do evento promovendo sua alternativa de base vegetal ao sorvete. A startup holandesa Meatable tem um estande na CES para mostrar o progresso que fez na transformação de células de porcos em células de gordura e músculo para uso em produtos comestíveis.
Se o projeto tiver sucesso, a companhia poderá produzir carne real sem usar animais vivos. Segundo ela, um produto para teste estará disponível no ano que vem.
A Impossible Foods vai continuar com os produtos de base vegetal, e já está trabalhando em outros substitutos para a carne de peixe, frango, queijo e leite, de acordo com a companhia. A empresa declarou que sua motivação primária é reduzir o impacto da produção de carne sobre o meio ambiente, o que explica por que começou pelos produtos que imitam a carne bovina, e pretende eliminar a criação de animais para a produção de alimentos depois de 2035.
Tradução de Paulo Migliacci
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