Descrição de chapéu apple

iPod completa 20 anos e ainda é vendido pela Apple

Aparelho alterou drasticamente a indústria fonográfica e inaugurou modelo de assinatura por música

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Pode parecer item de colecionador, mas a Apple ainda vende iPods.

No site da empresa, é possível comprar um iPod Touch por R$ 1.700 no Brasil. Diante da timidez nas vendas, muitos especulam que a empresa só mantém essa linha para lançar uma edição especial no aniversário de 20 anos do produto, que acontece neste sábado (23).

Lançado em 2001, pouco tempo após Steve Jobs reassumir a companhia com a missão de reerguê-la, o iPod foi um rápido sucesso para a Apple e para a indústria.

O modelo representou um marco para o setor fonográfico e serviu de base para a assinatura de streaming nos moldes conhecidos hoje. Leve e pequeno, tornou-se um dos primeiros itens tecnológicos sempre carregados próximo das pessoas. As invenções anteriores, como discman ou tocadores de MP3 à pilha, eram pesadas, sem visor e com manuseio analógico.

Steve Jobs, executivo da Apple, no lançamento da versões Nano do iPod, em San Francisco, Califórnia, em 2011
Steve Jobs, executivo da Apple, no lançamento da versões Nano do iPod, em San Francisco, Califórnia, em 2011 - France Presse

"Quantas vezes você foi para a estrada com um CD player e pensou 'meu Deus, não trouxe o CD que eu queria ouvir'" foi o que disse Steve Jobs ao anunciar o iPod. "Ter toda a sua biblioteca junto é um salto quântico na maneira de ouvir música."

No primeiro ano, o aparelho gerou US$ 143 milhões em venda líquida, com menos de 1 milhão de unidades comercializadas. A Apple cresceu 7% em 2002 —35% era da participação do iPod. Em 2003, as vendas mais que dobraram, chegando a US$ 345 milhões, com forte apelo ao consumidor americano. No Brasil, o produto era de classe média e classe média alta.

A partir daí, a curva cresceu exponencialmente, com saltos de 300%. Pouco antes do iPhone, carro-chefe da Apple até hoje, o tocador de música representava 40% da receita da companhia —foi o que a levou para além dos computadores, restritos a um público fiel.

Quando lançou o iPhone, em 2007, Jobs disse que tratava-se de três aparelhos em um só: comunicador de internet, telefone e iPod. Naquele ano, a venda do tocador ainda cresceu US$ 629 milhões, com 31% mais unidades vendidas na comparação com o ano anterior.

Ao mesmo tempo em que vendia os objetos —pequenos, leves, coloridos, com um círculo tátil para passar as músicas para frente, para trás e para ajustar o volume—, a Apple lucrava com assinaturas, modelo que gerou a base para o funcionamento de sua loja de aplicativos no iPhone. Cobrava US$ 0,99 por faixa e US$ 9,99 por disco, retendo 30% no iTunes, a biblioteca de áudio.

Para muitos especialistas, o iPod foi tão importante ao mercado e à companhia quanto o iPhone (ou mais). O smartphone só surgiu graças ao progresso de software, hardware e design centrado no iPod.

"Foi o princípio de toda a tecnologia que suportou o desenvolvimento do iPhone, o modelo com redução de custo para as tecnologias digitais", diz Hugo Tadeu, professor de inovação na Fundação Dom Cabral.

Uma das principais mudanças em relação aos concorrentes de MP3 era a velocidade para transferir música do computador ao aparelho —não havia nuvem. O repasse era feito por um cabo com entrada FireWire, mais veloz que o USB.

"A tecnologia do iPod avançou para todo esse processo de streaming que vemos hoje. O sistema de patentes do iPod traz todas as tecnologias de aceleração eletrônica para download de músicas e, fundamentalmente, o sistema de assinaturas", acrescenta Tadeu.

No modelo de negócios, uma das principais mudanças promovidas por Jobs foi, já na segunda geração de iPod, abrir seu uso para clientes Windows. Na época, a participação de computadores da Apple era muito baixa em relação à Microsoft. A partir dessa decisão, o produto se popularizou.

Na outra ponta, a empresa criou uma alternativa contra a pirataria. Para consumidores dos Estados Unidos, valia mais a pena pagar por uma música e acessá-la imediatamente do que usar sites de download como Napster e Kazaa, que às vezes demoravam horas para carregar uma faixa.

Como anunciou Jobs, o iPhone fagocitou o iPod, tornando-o irrelevante, à medida que hoje se armazena milhares de músicas em um celular.

"A Apple teve a coragem de matar o produto que era o seu grande produto, o seu item mais popular. Há uns cinco anos, eles ainda vendiam, discretamente, o iPod clássico, com a rodinha no meio", afirma Eduardo Pellanda, professor da PUCRS e especialista em tecnologias da informação.

O iPod Touch, por alguma razão, segue como uma oferta no site da empresa, que não depende dessa receita.

O item não está discriminado no relatório financeiro da companhia, mas pertence ao grupo "vestíveis, casa e assessórios", que representou US$ 30 bilhões em vendas em 2020. A cifra foi impulsionada por AirPods, Apple TV, Apple Watch e Home Pod.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.