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Novo chefe do Twitter sofre pressão para entregar resultados rápidos

Parag Agrawal é insider da companhia, mas sua nomeação pode indicar um ponto de inflexão

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Richard Waters
Londres | Financial Times

Para qualquer pessoa que espere uma reformulação no Twitter, a promoção nesta semana de Parag Agrawal ao cargo de executivo-chefe pode ter parecido uma espécie de anticlímax.

O anúncio repentino na segunda-feira (29) de que o cofundador da companhia, Jack Dorsey, tinha se demitido com efeito imediato —sua segunda saída súbita do Twitter— sugeria que uma mudança mais profunda poderia estar próxima. Dorsey talvez tivesse certo controle do momento, mas, depois da agitação de acionistas ativistas, incluindo um pedido de sua cabeça dois anos atrás, a maneira de sua saída deixou a clara impressão de um acordo mal negociado.

Agrawal, porém, tem todas as marcas de excelência do insider consumado e foi um aliado próximo do CEO de saída. Ele passou dez anos galgando as fileiras do Twitter, tornando-se diretor de tecnologia quatro anos atrás, e é estreitamente associado a muitas iniciativas que foram mais acalentadas por Dorsey.
"Ele faz parte do edifício, basicamente", disse um ex-colega no Twitter, que advertiu para que não se esperem mudanças significativas na companhia.

Logo do Twitter na sede da companhia em San Francisco, nos Estados Unidos - Stephen Lam - 11.jan.2021/Reuters

Outro comentou que a proximidade com Dorsey valeu a Agrawal um lugar especial na hierarquia do Twitter. Se você quisesse propor uma ideia ao executivo-chefe da empresa, às vezes distante, o melhor começo era muitas vezes apresentá-la a Agrawal, segundo essa pessoa.

Mas apesar disso tudo a promoção de Agrawal a um dos lugares mais quentes da indústria tecnológica pode indicar um ponto de inflexão. Ex-funcionários descrevem uma empresa que lutou para recuperar a confiança depois de uma série de produtos fracassados e que perdeu o apetite pelo tipo de experimentação constante e iteração de produtos pelas quais as empresas de maior sucesso do Vale do Silício são conhecidas. Os fãs de Agrawal afirmam que ele já está bem adiantado para resolver esses problemas.

Pouco conhecido fora dos corredores do Twitter, seu histórico como engenheiro e diretor de produtos lhe valeu uma sólida reputação entre os colegas e alguns investidores do Twitter. Ele chegou aos Estados Unidos em 2005 como formando do Instituto de Tecnologia da Índia em Mumbai e, do mesmo modo que os CEOs indianos da Microsoft e da IBM, sua nomeação foi vista como uma tentativa de trazer uma liderança de engenharia mais forte para uma companhia que corria o risco de perder a vantagem tecnológica.

Em seus primeiros anos no Twitter, ele ajudou a reformular a infraestrutura técnica, depositando fundações mais fortes para o ritmo mais rápido de inovação de produtos e crescimento que Wall Street exigia. Agrawal chegou à empresa depois de um doutorado na Universidade Stanford, entremeado por períodos em pesquisa na Microsoft, no Yahoo e na AT&T.

Esse trabalho lhe trouxe reconhecimento como o primeiro "engenheiro notável" do Twitter —título que confere enorme status na elite de engenheiros do Vale do Silício, mas que raramente abre caminho para uma posição de CEO.

Depois de assumir o cargo principal de tecnologia, Agrawal ajudou a acelerar os ciclos de novos produtos do Twitter. O resultado foi um aumento no ritmo de lançamentos, incluindo, no último ano, um serviço de sala de bate-papo em áudio e a primeira oferta de assinatura do Twitter. Nenhum deles, entretanto, representou um fator de mudança radical.

O novo CEO do Twitter, Parag Agrawal - Twitter/AFP

Apostando em engenharia e desenvolvimento de produtos, o Twitter também nomeou nesta semana como presidente um dos principais gerentes de produto do Vale do Silício. Embora com pouco mais de 30 anos, Bret Taylor tem um histórico que inclui ajudar a criar o Google Maps, servir como diretor tecnológico do Facebook e fundar duas startups. Mais recentemente, ele surgiu como o principal guru de produtos da Salesforce, ascensão atingida um dia depois das mudanças no Twitter com a notícia de que Taylor também foi nomeado co-CEO na companhia de software empresarial.

Mesmo entre as densas redes pessoais do Vale do Silício, isso pode representar uma espécie de estreia. Cinco anos atrás, o fundador da Salesforce, Marc Benioff, tentou comprar o Twitter, antes de ceder à pressão de seus próprios acionistas e recuar. Hoje, seu recém-ungido co-CEO está dirigindo os negócios no conselho do Twitter.

Uma mente de engenharia pura na liderança poderá superar a indecisão que invadiu o Twitter sob a direção de Dorsey, segundo Alex Roetter, ex-diretor de engenharia na companhia. Os engenheiros "tendem a examinar os dados e seguir em frente com as coisas", disse ele, acrescentando sobre Agrawal: "Ele é muito dirigido por dados, pode ser intenso. Tem baixa tolerância por coisas que são menos que ótimas. Mas tem uma maneira de fazer que as pessoas queiram trabalhar com ele".

Sejam quais forem suas conquistas técnicas, porém, a inexperiência de Agrawal na visão do público poderá ser um obstáculo para uma companhia que teve um papel exagerado no ambiente cultural da época e que está frequentemente no centro de tempestades políticas sobre supostas tendências e a disseminação de desinformação nas redes sociais.

As conexões pessoais de Dorsey ajudaram a fazer do Twitter um fenômeno cultural e ampliaram seu perfil entre as celebridades, disse um ex-funcionário. Segundo ele, os famosos sempre ficavam deslumbrados ao conhecer o fundador, acrescentando que, nesse sentido, Agrawal terá dificuldade para ocupar o lugar de Dorsey.

Com Wall Street pressionando por resultados, o novo chefe não pode esperar uma grande lua de mel. As metas de crescimento ambiciosas do Twitter pedem que ele aumente o número de usuários ativos diários em 50% até o final de 2023, e os investidores estão impacientes para que seus negócios atinjam escala comparável à sua considerável influência no mundo das redes sociais.

"Ela poderá ser uma companhia de US$ 200 bilhões (R$ 1,12 trilhão) seguindo o mapa do caminho dos produtos e monetizando essa enorme e crescente base de usuários", insistiu um acionista.

Recentemente, porém, a avaliação de mercado do Twitter tem recuado, ficando abaixo de US$ 35 bilhões (R$ 196 bilhões). O preço da ação da empresa caiu quase pela metade em relação a seu pico em fevereiro, para aproximadamente sua posição ao fim do primeiro dia como empresa de capital aberto, oito anos atrás.

Dorsey saiu depois de não convencer os investidores de que poderia fazer uma mudança significativa na trajetória de crescimento do Twitter. Para evitar esse destino, Agrawal terá de apresentar alguns resultados rapidamente.

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