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Campeonato de Free Fire tem transmissão no cinema e patrocinador de futebol

Game de celular é fenômeno e impulsiona profissionalização dos esports

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São Paulo

Em uma sala de cinema mais ou menos cheia no shopping Santa Cruz, em São Paulo, durante o feriado prolongado de Páscoa, o barulho era permitido. A sessão não era para ver um filme, mas sim a final da Liga Brasileira de Free Fire, game de celular que conta com mais de 1 bilhão de downloads.

Cada partida do jogo comporta 50 jogadores, cada um em um smartphone conectado à internet, que caem de paraquedas em 1 das 9 opções de mapas disponíveis. O objetivo é procurar armas para eliminar os oponentes e buscar equipamentos para aumentar a chance de sobreviver a ofensivas inimigas. O último vivo ganha a partida, como na franquia Jogos Vorazes.

Taça da LBFF (Liga Brasileira de Free Fire), principal campeonato de um dos games de celular mais populares no Brasil - Adriano Vizoni/Folhapress

Tauane Vitória, 19, e Beatriz Pereira, 18, estavam entre as poucas meninas no cinema. As duas se conheceram jogando Free Fire, e se encontraram pela segunda vez pessoalmente naquele dia. "Nós jogamos só nós duas, mas só por diversão, não queremos disputar profissionalmente", conta Beatriz.

O Free Fire é exemplo do enorme impacto dos esports (como são chamados os esportes virtuais, incluindo games) hoje em dia. Como o futebol, o jogo online movimenta torcidas, competições e muito dinheiro.

Os torneios, geralmente assistidos por centenas de milhares de entusiastas, costumam ser transmitidos não só pelas redes sociais, como Twitch, YouTube, TikTok e Facebook, como também pela televisão em canais abertos e pagos.

As competições nacionais costumam ter premiações totais de até R$ 2 milhões, quantia que chega a ser multiplicada em dezenas de vezes quando se trata de um evento internacional. Entre os games que rendem campeonatos no país também estão League of Legends, PUBG, Counter Strike: Global Offensive, Brawl Stars, Clash Royale, Dota 2, Rainbow Six, Valorant e Wild Rift.

Conglomerado de games e influencers, equipe LOUD já faturou dois vice-campeonatos globais

No estúdio na Vila Leopoldina, onde a final da Liga Brasileira de Free Fire era gravada, as dez equipes, com cinco participantes cada, alternavam entre ficar vidrados nos celulares durante as partidas e prestar atenção na dica dos técnicos durante os intervalos.

Disputaram as equipes B4, Magic Squad, Los Grandes, LOUD, Fluxo, Corinthians, Team Liquid, GOD Unidas, Vasco e Cruzeiro. A vencedora foi a LOUD, levou R$ 105 mil e disputará o mundial em Sentosa, na Tailândia, neste mês.

Essa vitória, no entanto, representa apenas uma parte da atuação da LOUD nos esports. Além do Free Fire, a empresa investe em equipes de League of Legends, Fortnite e Valorant.

Mas não foi só vencendo campeonatos que a marca conseguiu ser relevante no meio.

"A LOUD começou em 2019 e o principal motivo que a fez crescer tanto em tão pouco tempo foi que a gente deu um destaque muito grande para produção de conteúdo dentro da organização. Ao mesmo tempo que a gente tentava competir em diversos campeonatos, a gente também queria contar essas histórias para o público através de conteúdo, como uma espécie de reality show", explica o empresário Bruno Bittencourt, 28, cofundador da equipe.

Foi essa ideia de associar eventos competitivos com a criação de conteúdo online, através de influencers e streamers, que a empresa conseguiu fidelizar um público e, de quebra, engajar torcidas para suas equipes.

Apesar do time de Free Fire da LOUD já ter conquistado o segundo lugar do mundial do game no ano passado, em Singapura, foi diferente a sensação de ter alcançado a mesma posição no Valorant Masters deste ano, um dos principais campeonatos de um dos games de PC mais populares atualmente.

Desenvolvido pela Riot Games, Valorant se inspira em mecânicas familiares aos jogadores de Counter Strike, jogo de tiro que é febre no Brasil há quase 20 anos, e inclui personagens, magias e armas que o tornam mais complexo e vibrante.

Glossário

  • Gameplay

    A forma como os games são jogados. Em português, jogabilidade

  • Publishers

    Empresas que publicam e distribuem games desenvolvidos por elas mesmas ou por estúdios externos

  • Jogos indies

    Games criados por equipes de desenvolvimento menores e sem o suporte técnico e financeiro de uma grande publisher

  • Esports

    Jogos multijogador com foco em partidas online e competições

  • Mobile

    Dispositivos portáteis, como smartphones e tablets

  • Consoles

    Dispositivos destinados à reprodução de games. Geralmente são conectados a um monitor externo e têm um controle próprio, como PlayStation, Nintendo e Xbox

  • Modders

    Pessoas que alteram códigos e conteúdos de softwares para criar versões paralelas

Enquanto o Free Fire é mais popular em países emergentes, Valorant e outros FPS (jogos de tiro em primeira pessoa), que são jogados em computadores caros em vez de smartphones, são mais presentes em mercados mais consolidados, como Estados Unidos e Europa, o que também reflete na competitividade dos torneios internacionais desses games.

"A LOUD formou o time [de Valorant] em pouco tempo e já conseguiu resultados de forma rápida. Foi uma equipe que enfrentou um cenário muito estruturado, porque as organizações que a gente acabou enfrentado já estão investindo naquele meio há dez anos", disse Bruno, também conhecido como PlayHard.

Para o argentino Matias Delipetro, conhecido como Saadhak, que joga Valorant pela LOUD, foi com talento, treino, experiência e apoio da empresa que foi possível alcançar o vice-campeonato do Masters e a premiação de US$ 120 mil (R$ 598 mil), dividido entre os cinco jogadores da equipe.

"No Brasil falta um pouco de profissionalismo [nos esports], e uma coisa que a LOUD fez foi dar todo o suporte possível", afirma.

Jogador e treinador de Free Fire como profissão

A perspectiva profissional é algo comum entre os jogadores, explica Eryson Almeida, 18, treinador de Free Fire. Eryson começou a jogar aos 15 anos por causa da namorada, que o acompanhava na sessão de cinema. "Eu que chamei ele para jogar. Éramos nós e uns amigos, mas aí enjoei e ele continuou e ainda tirou dinheiro", diz Analice Sandes, 17.

"Antes jogava na brincadeira, tinha um celular ruim, até que comprei um bom", diz. "Aí fui gostando mais e mais, fui treinando, entrando para campeonatos amadores, fui para série B, até que entrei para série A", explica Eryson.

Assim como no campeonato brasileiro de futebol, a Garena, desenvolvedora do Free Fire, tem divisões. A série A, a mais alta, é formada por 18 equipes, cujos times têm patrocinadores do calibre do futebol: Santander, Motorola, Vivo, Casas Bahia, iFood, entre outras marcas.

"No Free Fire é assim: você começa se destacando em campeonatos amadores, depois entra para série B e consegue até tirar um salário mínimo", diz Eryson. "Acabei virando treinador por contato, e acabei treinando equipes e tirando um bom dinheiro", conta. Eryson não quis revelar a quantia, mas garante que deu para pagar as contas. No momento não treina nenhuma equipe, mas está buscando novas oportunidades.

Transmitida nas plataformas YouTube, BOOYAH e TikTok e nos canais Rede TV! e SPACE, a final da Liga Brasileira de Free Fire deste ano teve um pico de audiência de 960 mil espectadores, segundo a organização.

O martelinho de ouro Fernando Costa, 24, jogador de Free Fire há pouco menos de um ano, conta que seu plano é entrar para alguma equipe. Não era muito de jogos, gostava apenas de GTA, mas pretende tornar do Free Fire uma profissão.

"Comecei a jogar com o pessoal do trabalho, até que eles abandonaram. Estou treinando bastante, participando de campeonatos amadores", diz.

O Free Fire World Series 2022 (FFWS), o mundial do game mobile, será realizado entre os dias 14 e 21 de maio de forma presencial. Com 18 equipes participantes, o Brasil estará representado pelas equipes LOUD e Vivo Keyd.

"No Free Fire, diferente do Valorant em que um time enfrenta apenas outro time, uma partida tem até 12 times caindo no mesmo mapa, então existem muitos fatores aleatórios, estilos de jogo, nunca dá para saber o que vai acontecer. Mas, desde o começo da LOUD, este é o ano que o [nosso] time está mais preparado", diz Bruno.

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