Avó acompanha pelas telas crescimento dos netos em cidades e países diferentes

Nélida Zelada, que vive em Campo Grande (MS) conversa com Lucas, na Califórnia, e Bia, em São Paulo, por chamadas de vídeo

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Denise Meira do Amaral
São Paulo

Era quase Natal no Brasil. A família Zelada já estava disposta ao redor da mesa de jantar com a ceia pronta: arroz com amêndoas, peru, lombo, filé mignon com molho madeira e farofa. Nélida, 64, que mora em Campo Grande (MS), veio a São Paulo para passar os festejos de fim de ano com os filhos, Flávio, 38, e Sandro, 39, suas cunhadas e sua neta, Ana Beatriz, de um ano e meio.

Sandro Zelada (terno), Iris Zelada (ruiva), Nelida Zelada (ao centro), Renata kobayasi Zelada (blusa lilas), Flávio Zelada, Ana Beatriz Zelada (bebe) e Lucas Zelada Almeida (garoto)
Na foto, a família Zelada, que mantem contato contínuo pela internet. Da esquerda para a direita estão: Sandro Zelada, Iris Zelada, Nelida Zelada (ao centro), Renata kobayasi Zelada, Flávio Zelada, Ana Beatriz Zelada (bebe) e Lucas Zelada Almeida - Produção: Jeanine Lemos Foto: Keiny Andrade/Folhapress

A filha mais velha, Iris, 43, mesmo a mais de 10 mil km de distância, não deixou de estar presente. Por meio de uma ligação em vídeo pelo WhatsApp, a tradutora que mora na Califórnia participou da celebração ao lado de seu marido e do filho Lucas, de 6 anos.

"Sentimos muito a falta deles. Ainda bem que a gente conseguiu se ver. Todo dia agradeço a nossa senhora da internet. Como meus dois netos moram longe desde que nasceram, um nos Estados Unidos e a outra em São Paulo, só consigo acompanhar o desenvolvimento deles virtualmente", conta Nélida, que recebe todos os dias fotos e vídeos das crianças no grupo de WhatsApp que mantém com os filhos.

As ligações acontecem tanto em datas especiais como no dia a dia. Os filhos costumam ligar pela função chamada em grupo, sem aviso prévio, e quem estiver livre atende.

Entre os assuntos do grupo, estão o amadurecimento de Lucas, as novas experiências e os primeiros passos de Bia, além dos preparativos para o casamento de Sandro, o filho do meio, marcado para este mês. "Ali a gente briga, chora e se diverte", resume a funcionária pública aposentada. Só não vale falar sobre política —o tema já foi motivo de discussões. "Muitas vezes a interpretação de texto pode ser equivocada pelo WhatsApp", diz.

Apesar de aproximá-la dos netos —a mais nova inclusive está aprendendo a falar e já pede para ligar para a vovó—, a comunicação virtual também tem seus aspectos negativos. "Não é a mesma coisa que um encontro ao vivo, é uma convivência mais fria. As crianças se distraem facilmente pelo vídeo. O Lucas, por exemplo, não gosta muito de falar pela internet. Acabo não tendo um contato tão profundo", diz Nélida.

Iris explica que a boa vontade do menino para falar por vídeo depende do seu humor e do que estiver fazendo na hora da chamada. "Se estiver vendo um filme, é difícil. Às vezes preciso explicar: filho, primeiro vamos falar com a vovó, ela está em outro país, depois você continua assistindo. Mas tem dias que ele não quer falar com ninguém mesmo."

Para ela, a comunicação familiar virtual tem suas vantagens, como poder falar de qualquer lugar e encerrar um assunto quando as coisas não vão bem. "É só inventar um motivo e apertar o botão vermelho", diz ela, que está passando uma temporada no Brasil para rever a família após um hiato por conta da pandemia. Entre os pontos negativos está não poder beijar, abraçar nem brincar com sua sobrinha, Bia.

Depois de um ano e meio se vendo apenas por telas, Lucas finalmente conheceu a prima, em maio deste ano: "Quando ligava para a Bia em vídeo, ela ainda não falava nem andava. Agora, já solta um gritinho depois que eu dou um beijo nela. Ao vivo é bem melhor, porque posso abraçar. Pelo telefone não conseguia", conta Lucas, com sotaque americano.

"Apesar de a gente nunca ter se visto pessoalmente, ela me reconheceu de cara por conta dos vídeos. Era como se já nos conhecêssemos", emenda Iris, que já morou na Austrália, em Brasília, Florianópolis e São Paulo e tem a internet como uma antiga aliada para matar a saudade da família.

Nélida também já é íntima da internet há uns bons anos. Após se separar do pai de seus filhos, Gerardo, em 1999, morto em decorrência de um câncer em 2011, ela passou a fazer amizades em salas de bate papo e já participou de uma série de encontros presenciais com amigos que carrega até hoje.

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