Busca de informação é fator mais importante para estar conectado

Atividade foi apontada como muito relevante por 87% dos entrevistados

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São Paulo

A necessidade de manter-se informado sobre o que acontece no mundo ocupa o topo da escala de interesses dos brasileiros.

Instigados pelo Datafolha a dizer que fatores consideravam mais ou menos importantes para se conectarem à internet, informar-se apareceu em primeiro lugar, com 87% de atribuição muito importante, à frente de atividades como trabalhar (72%), relacionar-se com a família e amigos (56%) ou buscar entretenimento (55%).

Essa avaliação varia pouco e se mantém mais alta que as outras mesmo nas estratificações por sexo ou faixa etária, segmentos nos quais as diferenças de opiniões podem ser grandes. No grupo normalmente mais refratário a novas tecnologias, de 60 anos ou mais, ela soma 82% de respostas de muito importante e 14% de um pouco importante.

Keiny Andrade/Folhapress

Sobre o tempo despendido na rede, os números confirmam o que o senso comum já sabe ou intui. Ninguém fica tanto tempo na internet quanto os jovens entre 16 e 24 anos: 20% disseram passar o tempo todo conectados à rede; 28%, a maior parte do dia, e outros 26%, ao menos metade do tempo disponível.

Ou seja, somados, 74% dos entrevistados nessa faixa etária passam boa parte do dia online, seja em celular (majoritário), seja em dispositivos como videogame, computador, notebook ou tablet.

Quanto maior a idade, menor o tempo na rede, decrescendo para 65% entre os 25 e 34 anos, 52% para os de 35 a 44 anos, 41% com idades de 45 a 59 anos e 22% para a faixa acima de 60 anos.

As aulas virtuais são uma razão muito citada pelos mais novos. "O tempo na internet aumentou não só no período de pandemia mais forte, mas também no momento atual", afirma Ágatha Mendes Cardoso, 18. Mais de uma vez neste ano as aulas presenciais foram suspensas em sua sala após algum aluno receber exame positivo para a Covid-19, diz.

Mas certamente outros fatores entram na conta. Foi na internet que Ágatha encontrou pessoas que compartilham com ela o gosto por vídeos que relacionam filosofia e séries. E encontrar e se comunicar com gente que pensa e gosta das mesmas coisas é um chamariz para todas as idades, conforme 65% dos entrevistados em geral e 68% dos jovens entre 16 e 24 anos.

No último ano do ensino médio, Luana Uehara, 17, também fica conectada a maior parte do tempo, principalmente para estudar, falar com amigos e se informar —algo que se tornou mais recorrente durante a pandemia. Luana diz que aprendeu a pesquisar as notícias e, quando desconfia de alguma, procura checar. "Prefiro sites jornalísticos que eu conheço, mas faço a busca inicialmente pelo Google."

Ela usou a experiência durante a pandemia para orientar o pai, de 63 anos, que recebia fake news em grupos de WhatsApp e compartilhava. "Comecei a ensiná-lo a olhar sites em que ele poderia checar antes de sair mandando para as pessoas."

Menos acostumada com a tecnologia, a faixa da terceira idade é mesmo a mais vulnerável a consumir e difundir conteúdo sem filtro ou verificação. É a faixa etária dos chamados imigrantes digitais, termo que engloba os nascidos antes da invenção da internet. Criados em um mundo analógico, os mais velhos têm maior dificuldade de entender uma tecnologia com tantos termos novos, muitos deles estrangeiros.

A dificuldade explica boa parte do desinteresse em usar a internet, manifestado por 36% dos desconectados com 60 anos ou mais. Outras razões citadas foram a dificuldade para usar ("é complicado"), a impossibilidade financeira e a baixa escolaridade.

"Identificamos que esse grupo é o que mais dissemina fake news", conta Kamila Rios Rodrigues, professora no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP de São Carlos, que desde 2019 coordena um programa de cursos práticos do uso de smartphones e tablets para a terceira idade.

Essa percepção levou a professora a criar, em agosto passado, um curso online gratuito sobre internet e redes sociais, em que ensinava a usar aplicativos de comunicação instantânea, como WhatsApp e Telegram, e a pesquisar em plataformas como o Google.


ENTENDA A PESQUISA DATAFOLHA

  • ​O levantamento que dá origem às matérias deste caderno especial foi feito pelo Datafolha e teve dois módulos, com duas pesquisas distintas, uma sobre as marcas favoritas dos brasileiros para serviços que envolvam a internet e outra sobre o seu comportamento online
  • A pesquisa sobre as marcas reflete 1.500 entrevistas feitas entre 21 e 28 de março de 2022, com brasileiros de 16 anos ou mais, de todas as classes sociais e regiões do Brasil, que acessam a internet todos os dias. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais, e sua confiabilidade é de 95% –isso significa que, se cem pesquisas iguais a esta fossem feitas, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro
  • A pesquisa sobre o comportamento online do brasileiro reflete 2.064 entrevistas feitas entre 16 e 24 de março com brasileiros de 16 anos ou mais, de todas as classes sociais e regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, considerando um nível de confiança também de 95%

Os alunos aprenderam não só a usar ferramentas para conferir a veracidade do que liam, mas a criar uma notícia falsa —"para verem o quão fácil é", afirma a professora. "Ainda assim, sempre aparecia aquela situação: foi meu filho que passou [a informação], veio do dr. Fulano, e aí eles têm uma crença muito grande nessas pessoas e acabam repassando."

Há canais que ajudam a checar dados, entre eles a Agência Lupa, que tem conteúdo publicado pela Folha, ou o Projeta Comprova, financiado por Google e Meta (controladora de Facebook, Instagram e WhatsApp),que reúne 42 veículos, entre eles este jornal.

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