Quando André contou ao amigo Lucas (nome fictício) que havia transferido R$ 1.320 para um hacker achando que estava enviando o dinheiro para ele, ouviu piadas em vez de palavras de conforto. Lucas, que teve sua conta de um aplicativo de mensagens invadida, só se mostrou preocupado depois de perceber que as risadas não eram bem-vindas. Três anos depois, a amizade dos dois ainda não se recuperou.
Em maio de 2019, André Boniatti, 39, foi vítima de sua própria generosidade: ele caiu no golpe do WhatsApp. André, que é gerente comercial, recebeu mensagens de alguém que fingia ser Lucas, que realmente estava passando por dificuldades familiares que o levaram a ter problemas financeiros. "Ele já tinha até feito rifa, estávamos todos muito solidários," conta.
O paulistano inicialmente não se deu conta de que não era seu amigo quem escrevia as mensagens. "Parecia com ele escrevendo, nem questionei. Me contou uma historinha e eu pensei ‘é bem a cara dele, é bem a cara da situação’. Ele estava passando dificuldades pessoais, não quis questionar." André só notou que havia algo de estranho com a situação depois que fez a transferência: a pessoa do outro lado da tela perguntou se ele poderia transferir mais dinheiro, agora para uma segunda conta.
Percebendo que se tratava de um golpe, procurou entrar em contato com Lucas por meio de outras redes sociais. Se deparou, então, com uma mensagem na página do amigo no Facebook. Nela, Lucas explicava ter tido a conta de WhatsApp invadida. "Ele avisou no Facebook, mas não no Instagram. Diretamente, só avisou a família. Pouca gente viu," lamenta. A falta de preocupação do amigo em espalhar a mensagem não agradou, mas foi o que André entendeu como desdém que o fez repensar a amizade.
"Um dos comentários [na publicação de Lucas no Facebook] era de uma outra pessoa falando que tinha feito uma transferência [para os criminosos]. A resposta dele foi no sentido de chamar a pessoa de trouxa, de dizer que ela não deveria ter transferido dinheiro algum. Achei insensível da parte dele, nós estávamos todos ajudando e, para ele, não deveríamos ter achado que era ele, não deveríamos ter caído [no golpe]."
Além de André, outros dois conhecidos haviam feito transferências bancárias (não havia PIX à época). A despeito de conversas com os bancos das vítimas e de um boletim de ocorrência, nenhum dos afetados pelo golpe conseguiu reaver o dinheiro. André e Lucas tampouco conseguiram reatar a amizade.
"Eu fiquei bravo e bloqueei ele nas redes sociais, daí a gente perdeu o contato. Éramos muito amigos, eu fiquei bem chateado. Você já se sente tonto quando cai em um golpe, quando vi que ele estava me zoando, me senti um trouxa ao quadrado. Tudo o que eu queria era ajudar. Depois disso, nunca mais nos vimos, mesmo depois de eu o desbloquear e nós nos adicionarmos novamente [nas redes sociais]."
De acordo o Serasa, para evitar esse tipo de golpe é essencial entrar em contato com o dono do WhatsApp pelo telefone antes de fazer qualquer transferência ou depósito. Para isso, use o número que você já tem da pessoa e não aquele que aparece vinculado ao aplicativo, já que criminosos podem trocar esse número ao hackear uma conta. Para evitar que seu WhatsApp seja hackeado, é importante que o usuário ative a confirmação em duas etapas e mantenha um email ativo para redefinir senhas e códigos.
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