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App de fotos BeReal explora recursos pagos para evitar publicidade

Startup diz que quer evitar erros de rivais nos EUA, como Facebook e Snapchat

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Akila Quinio Cristina Criddle Tim Bradshaw
Paris e Londres | Financial Times

O aplicativo de compartilhamento de fotos BeReal está adotando pagamentos para o uso de recursos extras com o objetivo de evitar publicidade no estilo Instagram, já que a startup francesa enfrenta falhas técnicas causadas pelo enorme aumento de popularidade entre os usuários da geração Z neste verão.

O BeReal se tornou muito popular entre adolescentes e estudantes universitários nos Estados Unidos e na Europa, com destaque para captar uma foto autêntica em um momento específico, sem edição ou filtros que são comuns nos rivais Instagram, TikTok e Snapchat.

O aplicativo passou de 10 mil usuários ativos diários há pouco mais de um ano para mais de 15 milhões hoje, superando as metas internas. Analistas calculam que alcançará dezenas de milhões de pessoas até o final do ano.

Telas do BeReal na App Store mostram funcionamento do aplicativo, que notifica seus usuários para publicação única no dia
Telas do BeReal na App Store mostram funcionamento do aplicativo, que notifica seus usuários para publicação única no dia - Reprodução/App Store

"Toneladas de aplicativos encontram usuários, mas poucos conseguem mantê-los. É fascinante como esse consegue reter usuários. [...] Primeira classe", disse Jean de La Rochebrochard, membro do conselho da BeReal e sócio da Kima Ventures e da New Wave, firmas de investimento cofundadas pelo bilionário francês Xavier Niel.

A empresa levantou US$ 30 milhões (R$ 158,6 milhões) em um financiamento da série A em junho, liderado por Andreessen Horowitz e Accel. Sua avaliação de mercado não foi divulgada, mas várias fontes disseram ao Financial Times que é de aproximadamente US$ 600 milhões (R$ 3,17 bilhões).

A rápida ascensão do aplicativo gratuito já atraiu recursos iguais no TikTok, Instagram e Snapchat, causando discussões sobre o modelo de negócios de longo prazo da BeReal.

A BeReal e seus executivos não quiseram fazer comentários para esta reportagem, que é baseada em entrevistas com várias pessoas próximas à empresa. Dizem que os executivos do aplicativo querem evitar as armadilhas de grandes rivais dos Estados Unidos, como Facebook e Snapchat, mantendo uma pequena equipe focada em melhorar o produto, em vez de levantar grandes somas com capitalistas de risco para buscar a expansão global.

No entanto, os investidores estão pedindo ao BeReal que introduza novos recursos que poderão ajudá-lo a não ser uma "maravilha passageira" como outros aplicativos sociais de moda passageira, como Houseparty ou Clubhouse. Essas discussões também incluíram considerações iniciais sobre a melhor forma de monetizar a plataforma sem prejudicar a experiência dos usuários.

O produto principal do BeReal continuará sendo de acesso gratuito, mas ele está avaliando recursos opcionais pagos. A abordagem provavelmente se assemelha ao Discord, plataforma social usada por jogadores e entusiastas de criptomoedas, que cobra uma assinatura mensal de US$ 2,99 (cerca de R$ 16) por conteúdo bônus, como adesivos digitais.

Nenhum recurso pago deverá ser lançado antes do segundo semestre do próximo ano, disseram essas fontes. Embora alguns no BeReal considerem os anúncios incômodos, a publicidade não foi totalmente descartada.

Mas o crescimento vertiginoso tornou a monetização uma prioridade menor para o BeReal do que o reforço de sua infraestrutura técnica. Suas reservas de capital e a equipe reduzida significam que não há necessidade imediata de começar a gerar receita.

A empresa, fundada em 2020 por Alexis Barreyat, 26, tem cerca de 40 funcionários trabalhando em sua sede no elegante bairro parisiense de Marais.

Como ex-editor de câmera para influenciadores, Barreyat viu em primeira mão que o conteúdo de rede social com curadoria poderia prejudicar a saúde mental dos jovens. O lançamento de seu aplicativo coincidiu com a crescente conscientização sobre o assunto entre uma nova geração de usuários.

O aplicativo envia uma notificação para todos os usuários em determinado momento do dia, com uma janela de dois minutos para tirar uma foto usando as câmeras frontal e traseira do celular.

Mas o próprio projeto que fez do BeReal um sucesso levou a falhas generalizadas, impedindo temporariamente que as pessoas fizessem upload de fotos ou vissem postagens de amigos. Como milhões de usuários tentam acessar a plataforma ao mesmo tempo, o chamado "throughput", ou simultaneidade, de dados naquele momento é comparável a algumas das maiores plataformas de internet do mundo.

Barreyat, que não tem diploma de ensino médio, frequentou a escola de programação de Niel, 42, na França. Seu primeiro contato com o headhunter de Niel, La Rochebrochard, em março de 2020, quando o BeReal tinha apenas 500 usuários, não teve sucesso.

Um ano depois, porém, o filho de Niel disse que adorou o aplicativo, e La Rochebrochard ligou de volta para Barreyat. A base de usuários do BeReal havia crescido para 30 mil. Após dois dias de diligência devida, a equipe de Niel investiu US$ 1,2 milhão (R$ 6,35 milhões) para adquirir uma participação de 10% na empresa.

Apesar de sua aversão à publicidade no aplicativo, as campanhas de marketing pessoal nos campi universitários dos EUA têm sido fundamentais para o sucesso do BeReal.

Seu programa de embaixador no campus paga a alguns alunos cerca de US$ 250 por mês, mais cerca de US$ 7 de comissão a cada novo usuário adquirido. Merchandising do BeReal é distribuída em festas de fraternidades e outros eventos. A estratégia está funcionando: os EUA já respondem por 40% dos downloads do BeReal, segundo dados do analista Sensor Tower, sendo o maior mercado do aplicativo

"Gosto do BeReal porque é tão transparente", disse Sharon Choi, 21, "embaixadora" na Universidade Stony Brook em Nova York. "No Instagram e no TikTok tudo é filtrado, no BeReal eu não preciso fazer photoshop."

No entanto, alguns críticos temem que o BeReal não tenha recursos para controlar o conteúdo nocivo, problema que atormenta as redes sociais há muito tempo.

O BeReal não possui uma grande equipe própria de moderação de conteúdo, mas conta com filtragem automatizada.

Frances Haugen, ex-gerente de produto do Facebook que denunciou a gigante da tecnologia acusando a Meta de priorizar o lucro sobre a segurança, disse que o projeto do BeReal pode dificultar a inserção de informações falsas. No entanto, o compartilhamento efêmero de fotos pode levar ao compartilhamento de outros tipos de material prejudicial ou ofensivo.

"Ao contrário do TikTok, Facebook ou Instagram, o BeReal não enfatiza se tornar viral ou adquirir grande alcance –o que significa que há menos capacidade de um pequeno número de problemas ter muito impacto–, desincentivando o mau comportamento", disse Haugen. "Ao mesmo tempo, não é bom adotar sistemas de segurança tarde demais. Espero que eles tenham um plano de integridade intencional que estejam incluindo no desenvolvimento da plataforma."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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