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ChatGPT é aprovado em MBA e desafia escolas de administração dos EUA

Inteligência artificial obteve uma nota forte e superou alguns humanos em curso da Wharton

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Andrew Jack
Nova York | Financial Times

Elon Musk há muito considera um MBA [mestrado em administração de empresas] irrelevante ou prejudicial, mas agora uma companhia apoiada pelo extrovertido empreendedor tecnológico está ameaçando minar diretamente o valor do principal diploma de administração de empresas: o chatbot de inteligência artificial ChatGPT.

Christian Terwiesch, professor da Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia, uma das mais antigas e prestigiadas escolas de administração dos Estados Unidos, decidiu colocar à prova as crescentes preocupações sobre o poder do ChatGPT e descobriu, para sua surpresa, que ele superava alguns alunos de seu curso de administração de operações, um assunto central do MBA.

Em seu trabalho "O chat GPT3 conseguiria um MBA da Wharton?", publicado esta semana, ele concluiu: "O chat GPT3 teria recebido nota B a B- no exame. Isso tem implicações importantes para a educação em escolas de negócios", citando a necessidade de revisar as políticas de exames, o design do currículo e o ensino.

Logos da OpenAI e do ChatGPT - Lionel Bonaventure - 23.jan.2023/AFP

O chatbot, que esteve temporariamente sobrecarregado pelo aumento de consultas nas últimas semanas, despertou a preocupação de muitos acadêmicos, incluindo aqueles em escolas de administração, de que os alunos o usariam para fraudar suas redações e exames.

"Sou um dos alarmistas", disse o professor Jerry Davis, da Escola de Administração Ross da Universidade de Michigan, que convocou uma reunião do corpo docente na segunda-feira (23) para discutir suas implicações. "Todo o nosso empreendimento em educação está sendo contestado por isso, e só vai ficar mais desafiador. É hora de repensar de cima para baixo."

Francisco Veloso, reitor da Escola de Administração do Imperial College em Londres, disse: "Estamos tendo discussões sérias e um grupo de trabalho está analisando as implicações do ChatGPT e ferramentas semelhantes que sabemos que nossos alunos engenhosos e criativos estão usando, e estaremos formulando políticas em torno disso em breve".

Embora enfatizando que o uso crescente da tecnologia de IA é inevitável e até amplamente desejável, ele pediu políticas claras de divulgação em sala de aula sobre se os alunos tinham usado o ChatGPT e previu medidas de mitigação, incluindo "voltar ao trabalho manuscrito, bem como discussões mais orais e em sala de aula –ou pelo menos sincronizadas".

A Microsoft, gigante do software cofundada por Bill Gates, que abandonou a Universidade de Harvard sem ao menos terminar a graduação, está avaliando um investimento de US$ 10 bilhões na OpenAI, empresa por trás do ChatGPT, além do US$ 1 bilhão investido em 2019.

Muitos preveem que a tecnologia vai abalar radicalmente uma gama mais ampla de atividades além da educação, incluindo pesquisas na internet e o mundo do trabalho.

O próprio Musk, fundador da Tesla e um dos financiadores originais da OpenAI, argumentou que os graduados em MBA carecem de capacidade de pensamento crítico suficiente e se concentram demais em reuniões de diretoria e desempenho financeiro, em detrimento de se aproximar do produto e andar pelo chão de fábrica.

Ironicamente, Terwiesch concluiu que, embora o ChatGPT tenha se mostrado extremamente eficiente e analítico ao redigir respostas para as perguntas que ele fez sobre gerenciamento de operações e análise de processos, suas habilidades numéricas eram muito mais limitadas. Ele não o testou em relação ao currículo completo do MBA, que inclui marketing, finanças, contabilidade e outras disciplinas.

"Fiquei impressionado com a beleza do texto –conciso, a escolha de palavras, a estrutura. Foi absolutamente brilhante", disse ele ao Financial Times. "Mas a matemática é péssima. A linguagem e a intuição estão certas, mas até a matemática relativamente simples do ensino médio saiu muito errada."

Ele enfatizou, porém, que o programa poderá melhorar rapidamente suas respostas quando receber dicas e, de forma mais ampla, a tecnologia oferece um escopo considerável no futuro, inclusive na redação e correção de provas, liberando os professores para um suporte mais valioso aos alunos.

Ele também sugeriu um aplicativo do ChatGPT que poderia ameaçar os muitos ex-alunos de escolas de administração que fazem carreira como consultores produzindo relatórios e recomendações.

Os alunos atuais poderiam aprimorar seu julgamento contra o forte desempenho do chatbot "desempenhando o papel daquele consultor inteligente (que sempre tem uma resposta elegante, mas muitas vezes está errado)", disse o relatório de Terwiesch.

Kara McWilliams, chefe do ETS Product Innovation Labs, que aplica IA ao aprendizado e avaliação e desenvolveu ferramentas para identificar respostas geradas por IA, disse: "Realmente precisamos adotar tecnologias avançadas na educação. Lembra-se de quando a calculadora entrou em cena e havia um grande medo de usá-la? Sou da opinião de que a IA não substituirá as pessoas, mas as pessoas que usam IA substituirão as pessoas".

Ela argumentou que o ChatGPT poderia ajudar o corpo docente no planejamento de aulas, na criação de programas e no desenvolvimento de notas para palestras. "Eles serão capazes de tirar deles muitas tarefas secundárias do ensino superior para que possam se concentrar no aprendizado. Existe uma oportunidade real de personalização aprimorada."

Andrew Karolyi, reitor da Escola de Administração S.C. Johnson da Universidade Cornell, disse que, embora muitos acadêmicos tenham sido pegos de surpresa pelo ChatGPT e que os códigos de conduta e as declarações de integridade acadêmica precisem ser atualizados, "minha esperança é que os professores tragam ativamente à tona o tema em suas aulas para envolver os alunos na visão da IA como uma valiosa ferramenta de aprendizado".

"Uma coisa que todos sabemos com certeza é que o ChatGPT não vai desaparecer", disse ele. "No mínimo, essas técnicas de IA ficarão cada vez melhores. Corpo docente e administradores universitários precisam investir para se educarem."

O ChatGPT respondeu ao FT que matar o MBAera "improvável".

"Embora a IA e o aprendizado de máquina possam automatizar certas tarefas e torná-las mais eficientes, ainda não têm a capacidade de replicar totalmente as complexas técnicas de tomada de decisões e pensamento crítico desenvolvidas por meio de programas de MBA", afirmou. "Além disso, os programas de MBA oferecem oportunidades de networking e acesso a profissionais do setor que não podem ser replicados pela tecnologia."

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