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Evento de telecom começa pedindo dinheiro de big techs

MWC tem recado direto pela 'partilha justa'; executivos de tecnologia adotam tom conciliador

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Barcelona

O MWC (Mobile World Congress), um dos principais eventos de tecnologia do mundo, voltado ao setor de telecomunicações, começou com um recado claro de operadoras para as big techs: dividir os investimentos em infraestrutura.

O recado foi dado já na palestra de abertura, tradicionalmente a mais importante, do evento que acontece nesta semana em Barcelona.

Representantes do setor de telefonia citaram as transformações tecnológicas esperadas para os próximos anos, como metaverso e crescimento de inteligência artificial, e a expectativa de um crescimento exponencial da demanda de tráfego de dados.

Visitantes participam de demonstração de taxi-aéreo feito pela Coreia do Sul, no MWC, em Barcelona - Thomas Coex/AFP

"A computação de nuvem mudou o patamar, mas não vai ser o suficiente com todo o tráfego que a Web 3.0 deve gerar", disse José Maria Álvarez-Pallete, CEO da Telefonica e conselheiro da GSMA, entidade que congrega as teles e organiza o MWC. "É hora de colaboração entre empresas de tecnologia, big techs e indústria", complementou.

"Colaborar significa todos partilhar o compromisso de forma justa", alfinetou posteriormente. "Marque essas palavras: 'partilha justa'".

As declarações ocorrem em meio a discussões na União Europeia para que as grandes empresas de tecnologia ajudem a bancar os custos com infraestrutura de telefonia, a chamada "partilha justa".

A palestra contou com participação, por mensagens de vídeo gravadas previamente, de dois representantes das empresas de tecnologia em tom conciliatório: Satya Nadella, CEO da Microsoft, e Thomas Kurian, executivo-chefe da Google Cloud.

Ambos citaram investimentos feitos nos últimos anos em produtos que beneficiam o setor de telecom.
"As operadoras estão entre nossos parceiros mais importantes. Parceria e benefício mútuo são a única forma de construir um ecossistema de sucesso", afirmou Kurian, citando que os setores podem trabalhar "lado a lado".

Pelas empresas de telecom, coube a Christel Heydemann, CEO da Orange, dar o recado mais direto. "Fizemos grandes investimentos em redes e isso é difícil de monetizar. As pessoas esperam sempre pagar menos e receber mais. Ao mesmo tempo, ficamos sob pressão de investidores", afirmou.

"Precisamos continuar inovando e investindo, mas precisamos pedir que toda a indústria contribua", continuou Heydemann. "As empresas te telecomunicação estão na difícil equação entre regulação e investimento, sob pressão para atingir os objetivos da década digital. Precisamos de um empurrão para manter esses objetivos, mas precisa ser algo aplicado a todo o ecossistema, não só nas empresas de telefonia".

A década digital a que ela se refere é uma série de objetivos, que passam por conectividades, estabelecidos pelo bloco europeu no ano passado a serem atingidos até 2030.

Heydemann citou o que chamou de "desbalanço", com as cinco maiores empresas de tecnologia sendo responsáveis por 55% do tráfego nas redes.

Na quinta (23), a Comissão Europeia, braço executivo do bloco, abriu uma consulta pública sobre o tema da "partilha justa", aberta até o dia 19 de maio.

"Mercados digitais e, em particular os de conectividade, estão também passando por desenvolvimentos tecnológicos e de mercado transformadores na forma de, por exemplo, computação em nuvem, operação no metaverso, em inteligência artificial etc. Além disso, não estão isoladas das situação geopolítica e econômica desafiadora", diz o documento, citando os "grandes" investimentos necessários em infraestrutura, como antenas, para as próximas gerações da telefonia.

De acordo com a Reuters, empresas de telecom europeias alegam que mais da metade dos dados que trafegam na rede vem de seis big techs: Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta (Facebook), Microsoft e Netflix.

Os gigantes de tecnologia, por outro lado, argumentam que o pagamento reduziria sua capacidade de investir em novos produtos, prejudicando os consumidores, aponta a agência de notícias.

Para Heydemann, da Orange, a consulta pública é um primeiro passo. "Não estamos pedindo para mudar os princípios de neutralidade da rede, nem para um novo mecanismo de impostos. Para atingir os objetivos da década digital, queremos uma partilha justa dos custos de distribuição da rede para podermos continuar com o investimento privado, sem depender de dinheiro público", afirmou.

Para Thierry Breton, encarregado de mercado interno da União Europeia, o desafio para a conectividade do futuro é que a rede de telefonia atual não comporta as tecnologias que virão. "Ainda vemos atrasos que não permitem carros conectados, ou gerar uma visita 3D", afirmou no palco principal do MWC.

Ele citou a pandemia, dizendo que a internet ficou à beira do colapso. "Na ocasião, liguei para os CEOs das principais plataformas de streaming e pedi para reduzirem a qualidade das transmissões. Fui atendido e o efeito [de alívio] foi imediato".

Breton citou a consulta pública como "parte do quebra-cabeças" para esses modelos de investimentos do futuro.

INVESTIMENTOS E BURACOS NA COBERTURA

A palestra foi intercalada por participações de Mats Granryd, que destacou investimentos feitos pelo setor de telefonia nos últimos anos e desafios para conectar o planeta todo.

"Entre agora e 2030, as operadoras gastarão US$ 1,5 tri (R$ 7,8 tri), e 92% disso será para o 5G", afirmou. "Precisamos de modelos financeiros que garantam que conseguiremos fazer esses investimentos".

Entre as necessidades, ele citou os os buracos no acesso à telefonia. Segundo números da GSMA, 3,6 bilhões de pessoas estão desconectadas e, dessas, 3,2 bi estão em áreas onde há cobertura —ou seja, são impactadas outras barreiras, como as financeiras.

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