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Big techs descobrem a austeridade, para alívio dos investidores

Após anos de expansão e bilhões em lucros, as Big Tech estão recuando dos amplos gastos enquanto o boom finalmente termina

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Tripp Mickle Karen Weise Nico Grant
The New York Times

Durante a maior parte do último ano, as companhias tecnológicas despencaram. As vendas de anúncios digitais despencaram. O comércio eletrônico vacilou. A produção de iPhones emperrou. E os investidores perderam a fé.

Foi o pior ano vivido pela indústria tecnológica em Wall Street desde a crise financeira de 2008. Apple, Amazon, Alphabet, Microsoft e Meta perderam, juntas, US$ 3,9 trilhões em valor de mercado.

Agora, humilhadas, muitas dessas empresas começaram o ano defendendo uma nova e desconhecida estratégia de negócios: a austeridade.

Nos últimos meses, várias companhias disseram que estão procurando maneiras de cortar custos e eliminar projetos futuristas que se tornaram ralos de dinheiro. Amazon, Alphabet, Microsoft e Meta anunciaram separadamente planos de demitir mais de 10.000 trabalhadores.

tela de celular com logo do Google e da Alphabet
Apple, Amazon, Alphabet, Microsoft e Meta perderam, juntas, US$ 3,9 trilhões em valor de mercado em 2022. - Getty Images

É uma virada abrupta para uma indústria que ficou famosa por seus grandes salários, escritórios extravagantes e benefícios generosos, de ônibus para o escritório a serviços de lavanderia grátis para os empregados. Mas enquanto o boom que durou 15 anos chega ao fim, os lucros encolheram e fazem os executivos tecnológicos repensarem o que eles consideravam ferramentas importantes na concorrência de todo o setor para atrair talentos tecnológicos.

Na quinta-feira (2), Sundar Pichai, CEO da Alphabet, empresa controladora do Google, disse que está "comprometido a investir de maneira responsável, com grande disciplina". Tim Cook, CEO da Apple, garantiu aos investidores que a companhia será "sensata e deliberada". E Andy Jassy, CEO da Amazon, fez sua primeira aparição em uma ligação com analistas desde que assumiu o lugar de Jeff Bezos, há cerca de 18 meses, e salientou que a companhia trabalhou duro para conter os custos que pareciam desenfreados.

2023, 'o ano da eficiência'

A mensagem deles reforçou o tom que o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, definiu para a indústria na quarta, quando chamou 2023 de "o ano da eficiência". Durante uma ligação com analistas, em que "eficiência" foi dita mais de 30 vezes, Zuckerberg falou em gastar menos em infraestrutura, remover camadas de administração e cancelar projetos emperrados.

Os investidores estão aplaudindo a nova fé das tecnológicas em disciplina. As ações da Meta, proprietária do Facebook, Instagram e Whatsapp, subiram mais de 23% na quinta, seu maior ganho diário em quase uma década. Amazon, Alphabet, Microsoft e Apple todas se recuperaram, e o índice Nasdaq, forte em tecnologia, subiu 3%.

"As pessoas queriam voltar, e queriam saber quando a água estaria segura para entrar", disse Mark Mahaney, analista da firma de investimentos Evercore ISI. Ele acrescentou que a decisão do Federal Reserve na quarta de aumentar as taxas de juros em modesto 0,25% também ajudou as companhias tech, porque sugeriu que o banco central está controlando a inflação.

"Não há necessidade de muitas notícias boas para que as ações melhorem o desempenho", disse Mahaney.

Mas as ações de várias daquelas companhias caíram nos negócios após o pregão na noite de quinta, depois que relataram maus resultados no último trimestre, deixando claro que os desafios para as empresas persistem.

Na quinta-feira, o Google relatou seu segundo maior declínio em publicidade. A Amazon disse que seu lucrativo negócio de computação em nuvem desacelerou e que suas vendas no negócio central de comércio eletrônico diminuíram. E a Apple divulgou sua maior queda na venda de iPhones na temporada de Natal desde 2018.

No início do dia, a Meta relatou que suas vendas no último trimestre do ano passado caíram 4%. Na semana passada, a Microsoft disse que os gastos em computação em nuvem estavam enfraquecendo.

A reação do mercado aos ganhos mornos das tecnológicas pode ser um indício do que aguarda a economia em geral. Os economistas estão tentando avaliar se a economia pode evitar uma recessão profunda e conseguir o que alguns chamam de pouso suave. Se as tecnológicas, como a indústria mais proeminente a enfraquecer no ano passado, encontrarem um fundo e começarem a se recuperar, seria uma ilustração da força relativa da economia em geral, disse Jason Furman, economista de Harvard.

"Seis meses atrás, a economia estava se contraindo e as taxas de juros subiam, e houve um reequilíbrio depois da epidemia", disse Furman. "Aquela tempestade perfeita não existe mais", acrescentou.

Alphabet, Amazon e Apple relataram resultados trimestrais na quinta que ficaram, em geral, aquém das expectativas de Wall Street.

A Alphabet divulgou seu quarto declínio de juros consecutivo enquanto enfrenta a redução da publicidade digital. As vendas de anúncios no YouTube, plataforma de vídeo do Google, caíram quase 8%, para US$ 7,96 bilhões, abaixo dos US$ 8,2 bilhões esperados pelos analistas.

Enquanto as vendas do Google desaceleram, disse Pichai, a companhia está fazendo vários esforços para conter as despesas. Eles incluem melhorar o desempenho financeiro de seus telefones e outros equipamentos, tentar tornar sua divisão de nuvem rentável e reforçar os negócios do YouTube.

"Vejo isto como uma viagem importante para reorganizar a base de custos da companhia de maneira duradoura", disse Pichai.

Sem frete grátis

Na Amazon, Jassy vem tentando cortar os custos do ano passado. A companhia vem elaborando planos para demitir 18 mil funcionários corporativos e tecnológicos, acrescentou taxas à entrega de mercadorias que antes era gratuita e recuou na ampliação de armazéns que a deixou com espaço excedente.

Mas a Amazon mal conseguiu um lucro, produzindo apenas US$ 278 milhões em receitas líquidas durante o trimestre de dezembro, enquanto as vendas aumentaram 9% em relação ao ano anterior, para US$ 149,2 bilhões.

Durante a ligação com analistas, Jassy disse que esteve concentrado em reduzir os custos associados à embalagem e entrega de encomendas. A companhia expandiu vastamente seus armazéns e a contratação durante a pandemia para acompanhar o ritmo da demanda. Mesmo depois de quase um ano contendo a expansão, disse ele, "há muito a descobrir para otimizar e ser mais eficiente".

A Apple perdeu cerca de US$ 7 bilhões em vendas do iPhone durante o trimestre de dezembro quando sua maior fábrica na China foi bloqueada por causa de um surto de Covid. A companhia compensou essas perdas com fortes vendas de iPads, que aumentaram 30%, e serviços como assinaturas da Apple Music.

Cook disse que fatores macroeconômicos, incluindo a inflação e a guerra na Ucrânia, contribuíram para as dificuldades da companhia. Diante desses desafios, afirmou, a empresa está contendo os gastos, o que a ajudará a melhorar suas margens de lucro.

"Estamos trabalhando muito em relação aos custos", disse Luca Maestri, diretor financeiro da Apple. "Está compensando."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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