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24/01/2012 - 03h00

"É na maturidade que temos nossos melhores cérebros"

DOUGLAS LISBOA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um dia, Barbara Strauch, 57, desceu para buscar papel-toalha no armário do porão de sua casa, em Nova York, mas no meio do caminho simplesmente não conseguia se lembrar mais do que ia fazer.

O pequeno lapso de memória foi o alerta para a editora de ciência do "New York Times" escrever "O Melhor Cérebro da sua Vida" (Zahar), lançado no Brasil em maio. No livro, ela descreve as mudanças por que passa o cérebro humano após os 40 anos, relata as habilidades que surgem nessa idade e tenta desvendar o que, afinal, significa atingir a maturidade com os avanços trazidos pela ciência no início do século 21.

A autora já havia mergulhado em pesquisas sobre o tema ao publicar, em 2003, "Como Entender a Cabeça dos Adolescentes" (Campus). Esgotada no país, a obra discute o cérebro na juventude e foi escrita na época em que suas duas filhas ainda estavam na adolescência.

No jornalismo há 37 anos, Strauch foi correspondente na Venezuela e coordenou uma equipe contemplada com o Prêmio Pulitzer, em 1992, pela cobertura de um grave acidente de metrô em Nova York.

Divulgação
Barbara Strauch, editora de ciência do "New York Times" e autora de livros sobre o cérebro humano na adolescência e na maturidade <M> ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***</M>
Barbara Strauch, editora de ciência do "New York Times" e autora de livro sobre o cérebro na maturidade

Em entrevista à Folha, a jornalista falou sobre o envelhecimento, os caminhos apontados pela ciência na busca de cérebros mais saudáveis e como práticas simples podem prolongar nossas capacidades cognitivas.

*

Folha - O que é estar na meia-idade hoje em dia?
Barbara Strauch - O conceito moderno de meia-idade é uma coisa nova para o nosso planeta e para as espécies que vivem nele. A média de expectativa de vida em 1900 era de 48 anos e hoje é de 78. É claro que muitos viviam mais e outros menos. O que mudou é que agora há muito mais gente tendo esse largo ponto de equilíbrio na metade de suas vidas, um longo e saudável intervalo que vai, aproximadamente, dos 40 ao começo dos 70 anos. Essa é a ideia moderna de meia-idade. Não somos mais jovens, mas não somos velhos ainda.

Qual é a preocupação mais comum dos seus leitores?
Todos nós nos preocupamos em ficar doentes, mas o que realmente nos preocupa é perder nossa capacidade de raciocínio, perder as habilidades que nosso cérebro tem. Por isso todos esses estudos são tão importantes.

O que a medicina tem feito para que as doenças neurológicas ligadas ao envelhecimento sejam algo do passado?
Há um número crescente de pessoas mais velhas que mantêm sua capacidade cognitiva intacta. Isso pode ser explicado por as condições de saúde na infância serem cada vez melhores. Um número maior de pessoas tem acesso a vacinas quando criança e está menos exposto a doenças que podem ter consequências graves no futuro.

Além disso, hoje em dia há maior controle sobre doenças como a hipertensão e o diabetes e melhores tratamentos para infartos. Tudo isso contribui para que a ciência possa, cada vez mais, estudar essas pessoas que estão envelhecendo mas que estão com seus cérebros em ótima forma. As preocupações com alimentação também aumentaram, e isso é ótimo para o cérebro.

Que novos estudos científicos a senhora destacaria?
Neste momento, uma das melhores coisas que podemos fazer pelos nossos cérebros --de acordo com o que há de melhor e mais consistente na ciência-- é o exercício físico. O cérebro é como o coração, precisa de sangue e de oxigênio. As pesquisas têm demonstrado que os exercícios podem aumentar o volume do cérebro, melhorar a capacidade de aprendizagem e até produzir novos neurônios.

Que atitudes quem ainda é jovem deve tomar para ter um cérebro saudável no futuro?
O melhor conselho ainda é manter uma dieta saudável, além do exercício físico. A ciência costumava pensar que os nutrientes não ultrapassam a barreira que separa o sangue do cérebro, um conjunto de células que nos protegem de infecções e mantêm o sistema nervoso em equilíbrio químico. Agora, eles sabem que isso não é verdade. Os nutrientes atravessam essa barreira e são importantes para manter o cérebro saudável.

Há uma combinação ideal de alimentação e exercícios físicos?
Na maior parte dos países desenvolvidos, a grande maioria das pessoas consome todos os nutrientes de que precisa. Por isso, comer uma tigela a mais de mirtilo pode não fazer muita diferença. Por outro lado, está comprovado que uma dieta equilibrada pode ajudar no controle do diabetes e diminuir os riscos de infarto --e ambos trazem consequências prejudiciais ao cérebro.

E fazer exercícios aeróbicos não significa ter que correr uma maratona. Os benefícios já podem ser sentidos em quem caminha regularmente três vezes por semana.

Já podemos amadurecer sem medo?
Acho que uma das mensagens mais importantes da ciência hoje em dia é que nós devemos perder o pânico dos pequenos problemas que surgem com a idade, como esquecer um nome ou dois, e começar a apreciar nossos cérebros maduros por aquilo que eles fazem por nós.

De muitas formas, nós temos os melhores cérebros de nossas vidas quando atingimos a maturidade, perfeitamente capazes e quase prontos para resolver os problemas mais complexos, perceber nuances, fazer melhores julgamentos e ter uma visão mais otimista das coisas.

Como a sociedade recebe esses novos velhos?
Isso, é claro, depende de como iremos resolver os problemas econômicos de hoje. Não tenho muitas esperanças de que a gente consiga modificar a sociedade a ponto de tirar vantagem de tudo que as pessoas que estão entrando na meia-idade podem oferecer e de todas as suas mentes maduras, que estarão saudáveis e prontas para o trabalho.

Mas nós devemos pensar nisso. Acrescentamos 30 anos em nossas vidas e não paramos nem um minuto para pensar o que faremos com esses anos. Há muitos cérebros de meia-idade e alguns até mais velhos que estão sendo desperdiçados.

Amadurecer não a assusta?
Bom, sou humana e atingir a maturidade às vezes me assusta. Quando se chega à meia-idade, nem tudo é motivo para festa: ficamos doentes, perdemos nossos pais e alguns amigos. Por outro lado, consigo apreciar muito mais o que meu cérebro é capaz de fazer agora e o que ele ainda pode fazer no futuro.

Certamente amadurecer traz alguns problemas, mas ficar mais velho compensa todas essas desvantagens por muito tempo, se nos cuidarmos e tivermos um pouco de sorte.

Então, a maturidade tem também suas compensações?
Sim. Às vezes nos deixamos levar pela visão que a nossa própria cultura construiu sobre ficar mais velho --aquela imagem de tristeza, melancolia, decadência...

Mas isso é bobagem. A ciência mostra que, se nos mantemos saudáveis, podemos ter cérebros perfeitos e conseguimos aproveitá-los da melhor forma possível por anos --e seremos cada vez mais ativos e úteis para a sociedade. Temos que parar de pensar que envelhecer é só um grande passo ladeira abaixo.

DOUGLAS LISBOA participou da 52ª turma do programa de treinamento em jornalismo diário da Folha, que foi patrocinado pela Philip Morris Brasil, pela Odebrecht e pela Syngenta

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O MELHOR CÉREBRO DA SUA VIDA
AUTOR Barbara Strauch
EDITORA Zahar
PREÇO R$ 33
PÁGS 248

Divulgação
Livro explica as mudanças por que passa o cérebro humano na maturidade.
Livro explica as mudanças por que passa o cérebro após os 40 anos

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