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Espírito dos anos 60 definiu a geração dos novos velhos, diz escritora
LEONARDO RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Divulgação/Record |
Para escritora, o envelhecimento é um dos temas mais importantes do século 21 |
Quando chegou aos 60 anos e se viu preterida no mercado de trabalho, a exemplo de outros colegas de geração, a jornalista carioca Léa Maria Aarão Reis decidiu se debruçar no que descreve como sendo "a grande preocupação do século 21": o envelhecimento.
Hoje, aos 74, longe das redações mas ainda atuando como jornalista freelancer, ela organiza palestras sobre o novo perfil do idoso brasileiro e assina quatro livros focados no tema. Suas obras são baseadas em entrevistas, técnica herdada dos 54 anos de profissão em veículos como "O Globo", "Jornal do Brasil" e "TV Globo".
Ativa e assumidamente uma "nova velha", Léa se recusa a ser chamada de "senhora" e rejeita todos os eufemismos utilizados para se referir a pessoas de sua idade. Aposentadoria, então, nem pensar. "Se eu parar, morro."
Por telefone, a autora do recém-lançado "Novos Velhos, Viver e Envelhecer Bem" (Record, 224 págs, R$ 31,90) conversou com a Folha.
*
Folha: Por que você resolveu escrever esse tipo de livro?
Léa Reis: Há 15 anos, comecei a sentir uma discriminação muito grande para com os mais velhos no mercado de trabalho. Passei a ficar atenta ao assunto e escrevi três livros focalizando o processo de envelhecimento.
Aqui no Brasil, nós ainda não estamos tratando do assunto. Mas, como digo no meu último livro, o envelhecimento de população será uma expressão chave daqui para frente.
Em seus livros, você associa o comportamento dos idosos à contracultura dos anos 60 e 70. Como eles foram influenciados?
Após a Segunda Guerra Mundial, houve o chamado "baby boom", com muitos nascimentos. É essa a geração dos novos velhos. Eles viveram a revolução da contracultura, que trouxe a minissaia, a pílula, a queima de sutiãs, o rock and roll, toda aquela contestação.
Além deste espírito de contestação, essa geração tem um bom humor, uma maneira de viver mais leve e com uma certa ironia, que as gerações antigas não tinham.
O que mais diferencia o novo velho do de gerações anteriores?
Hoje, uma pessoa de 60 anos tem o perfil de quem tinha 50, uma geração atrás. São pessoas que envelheceram, mas que ainda têm mais 20 ou até 30 anos pela frente, com saúde e energia. Elas continuam participando da sua vida de indivíduo e cidadão.
Isso acontece, sobretudo, por causa do avanço da ciência, da medicina e da tecnologia. Embora ainda existam as doenças crônicas da velhice, elas já foram muito atenuadas. Isso permite que o velho hoje seja bonito, vamos dizer assim. Que a sua "embalagem física" seja bonita.
A revolução digital vai influenciar a nova geração de idosos?
Acho que sim. Costumamos dizer que os novos velhos passaram por duas revoluções: a da contracultura dos anos 60 e, agora, vivem uma segunda revolução de comportamento. Porque hoje é comum você ver um idoso usando a internet, trabalhando, ativo, namorando.
A vida dos idosos hoje é melhor que antigamente?
Sem dúvida. Os velhos são pessoas muito participativas, exigentes. Eles votam, compram, consomem. A atenção está se voltando cada vez mais para esse segmento, pois isso, inclusive, interessa politicamente. Apesar disso, não é mais fácil viver. Do ponto de vista existencial, envelhecer será sempre uma etapa muito difícil, porque é a última da vida.
E como deverá ser o idoso do futuro?
Os velhos de hoje, quando eram jovens, não se preocupavam muito com o futuro. Agora, os jovens são muito mais preocupados com o amanhã -algo que não ocorria, principalmente no Brasil.
Com poupança e os planos de previdência privada à disposição, eles já estão se planejando para ter uma velhice confortável. E isso é natural: com o envelhecimento da população mundial, os governos começam a ficar em estado de alerta, pois não têm dinheiro para manter a população velha.
Que tipo de conselho daria a quem está chegando à velhice?
Cuide da saúde, pois os males virão. Mantenha hábitos saudáveis como o de não fumar, não arrebentar o organismo com álcool e não levar uma vida sedentária.
Alguns podem dizer que, assim, a vida fica sem graça. É uma questão de escolha. Ou você gasta todo o seu combustível até os 50, 60 anos de idade, ou então opta por ter uma vida longeva e com mais qualidade.
Divulgação |
Último livro lançado por Léa Reis traça o panorama do novo perfil do idoso |
"Novos velhos, Viver e Envelhecer Bem"
Editora Record
Páginas 224
Quanto R$ 31,90
"Cada Um Envelhece Como Quer (e Como Pode)"
Editora Campus Elsevier
Páginas 160
Quanto R$ 43,00
"Além da Idade do Lobo"
Editora Campus Elsevier
Páginas 217
Quanto R$15,00
"Maturidade - Manual de Sobrevivência da Mulher de Meia-idade"
Editora Campus Elsevier
Páginas 228
Quanto R$33,00
LEONARDO RODRIGUES participou da 52ª turma do programa de treinamento em jornalismo diário da Folha, que foi patrocinado pela Philip Morris Brasil, pela Odebrecht e pela Syngenta.
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