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06/01/2013 - 07h18

Na Síria, Aleppo é cidade fantasma de tesouros destruídos

DA REUTERS

Uma mesquita do século 13 está fechada por conta do minarete estar prestes a cair depois de ter sido atingido na base por uma bomba. Atiradores de elite abrem fogo escondidos nos topos das imensas paredes de pedra de um forte, que já abrigou antigos guerreiros gregos, romanos, bizantinos, árabes e turcos.

Até alguns meses atrás, a velha Aleppo foi um museu vivo e uma cidade inspiradora, onde os consumidores buscavam ávidos especiarias, livros e sabão de azeite de oliva nos mercados da cidade sob varandas de ferro forjado e telas de treliça de madeira.

Aleppo é a maior cidade da Síria e um centro econômico. Seu antigo bairro, com fortificações construídas pela dinastia medieval de Saladino após sua vitória sobre os cruzados no século 12 é também um patrimônio da Unesco.

Hoje, é uma zona de guerra e ruína. Chapas de zinco crivadas de buracos de bala fecham becos cheios de bancas queimadas, demolidas ou fechadas. Combatentes rebeldes correm em ziguezague em torno de carros explodindo música revolucionária.

"A velha Aleppo foi a fundação do mundo", disse Haj Amer, dono de uma gráfica no bazar de cidade. "O que realmente nos incomoda são as mesquitas que foram destruídas."

"Esta área é a minha raiz, minha vida desde 1975", acrescentou. "Eu vou ficar aqui para sempre."

A guerra civil na Síria já matou cerca de 44 mil pessoas e tirou meio milhão de suas casas. A batalha chegou a Aleppo com força há seis meses, e, embora os rebeldes agora controlem a maioria da cidade, algumas partes continuam a ser um campo de batalha.

Funcionários da ONU que declararam a velha Aleppo patrimônio descreveram algumas das maravilhas que podem ser encontradas na cidade da seguinte forma:

"O Palácio Real do século 13, com sua estalactite e pórtico de entrada favo de mel, é incrustado em mármore branco", escreveram eles. "A sala do trono, que data do período mameluco (séculos 15 e 16) foi muito bem restaurada: artistas e artesãos sírios têm recriado o ambiente luxuoso do local --o teto com seus raios e os caixotões decorados, as janelas bem iluminadas e decoradas pelas colunas policromadas-- num tributo à sua habilidade. Há cerca de 200 minaretes na cidade, alguns como torres de defesa, outros finos como agulhas."

Khaled al-Hariri/Reuters
Turistas visitam a Grande Mesquita, na cidade síria de Aleppo; país teve queda no turismo
Turistas visitam a Grande Mesquita, na cidade síria de Aleppo; país teve queda no turismo

A VINGANÇA DE ASSAD

Durante um passeio pela cidade velha, os moradores mostram os danos e descrevem o próprio desgosto.

Na mesquita al-Uthmaniya, um buraco foi feito no domo construído em 1728. Pisos de concreto levam a marcas de bombas, e o vidro que decorava os arcos na entrada da sala de oração foi destruído.

"Não havia homens armados nesta mesquita", disse Abu Mohammed, de 70 anos, um homem local vestido com roupas tradicionais, que muitas vezes reza nesta mesquita.

"Duas semanas atrás, nós estávamos fazendo as orações da tarde quando uma bomba explodiu no pátio."

Mais adiante, em uma casa de banhos da era Otomana, que era bastante movimentada antes da guerra, o cheiro úmido de uma piscina abandonada enche as salas de pedra subterrâneas.

Uma bomba destruiu a cúpula do átrio, e pedaços de vidro colorido quebrado ficam espalhadas em torno de uma fonte. Lanternas de ferro espalham-se pelo chão e uma máquina de venda automática vazia está esquecida perto de bacias de mármore branco e de coloridos mosaicos de cerâmica.

As pessoas começaram lentamente a voltar para as ruínas da cidade antiga.

"Nós voltamos porque não havia outro lugar para irmos", disse Riham, de 12 anos, acompanhada de sua avó. "Nós nem sequer reconhecemos mais os becos."

No bazar, algumas bancas sobreviventes vendem doces e refrigerantes. Homens bebem chá fora de seus locais de trabalho.

"Bashar al-Assad destruiu as mesquitas e os velhos mercados, um dos mais antigos mercados do mundo", disse Abu Othman, um lutador rebelde do Exército Livre da Síria al-Tawhid, vestindo o uniforme verde do grupo.

"Nós não vemos água e eletricidade há dois meses", disse ele. "É como se este homem odiasse os mercados, as mesquitas e até mesmo os vendedores porque ninguém saudou seus soldados. E ele conseguiu sua vingança queimando tudo."

 

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