Cidade chinesa vira "Veneza do Oriente" com iluminação especial
Hangzhou vive dias de Veneza. Sem a beleza ou o charme da italiana, a cidade chinesa, a 190 km de Xangai, quer transformar seus canais em uma atração turística internacional. Não pensou pequeno: contratou um dos maiores iluminadores do mundo para redesenhar a paisagem do Grande Canal.
Projetores de iluminação LED dão um tom azul-esverdeado às arvores ao longo de seu leito e iluminam antigos templos e pavilhões, casas de chá e fábricas abandonadas. Dão cor até aos decrépitos conjuntos habitacionais da época comunista.
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Cidade chinesa enche de luzes o grande canal para se transformar em uma Veneza do Oriente |
Em vez de gôndolas, 50 barcos que emulam as embarcações imperiais chinesas circulam com os turistas pelas águas -alguns até servem jantar a bordo enquanto se vê o espetáculo começar.
O Grande Canal sempre foi comparado à Grande Muralha como um feito da engenharia chinesa. Com 1.794 km de extensão, o equivalente à distância em linha reta entre São Paulo e Salvador, ele servia para escoar a produção agrícola entre Pequim, ao norte, e a rica cidade de Hangzhou, no centro-leste do país.
Sua construção começou há 2.500 anos, mas só foi finalizada mais de mil anos depois, no ano 609. Com a expansão ferroviária chinesa entre os séculos 19 e 20, o Grande Canal perdeu boa parte de sua importância. No século passado, como quase tudo na China, ficou bastante avariado. Em Hangzhou, ele se transformou em um rio poluído, cercado de construções feias.
Em 2007, a Prefeitura de Hangzhou (6,5 milhões de habitantes) decidiu recuperar o canal e começou a despoluir as suas águas. Ao contrário do rio Tietê, a limpeza foi bastante rápida. Dois calçadões foram criados ao longo do canal, assim como a vegetação vizinha.
No início do ano passado, a empresa Zhongtai, que fez a iluminação da Cidade Proibida, foi contratada para preparar um estudo para iluminar as margens do canal. Ela chegou ao francês Roger Narboni, responsável por mais de cem grandes projetos de iluminação pública na Europa, das catedrais de Notre Dame, Rouen e Reims a grandes espaços públicos em Toulouse e Atenas.
Narboni, que nunca havia visitado a China, convenceu as autoridades a fazer um projeto que é menos Las Vegas, mais Paris.
Luz em movimento
Divulgação |
Árvores também ganharam efeitos luminosos ao longo do trajeto dos barcos em Hangzhou |
A iluminação realça a névoa comum na noite de Hangzhou e as curvas do canal. Cabos de aço luminosos de 11 m de altura emergem do rio iluminados em azul ou vermelho.
Pavilhões e templos tradicionais chineses, que foram recentemente restaurados, têm iluminação especial. Os restaurantes inaugurados ao longo do canal são obrigados a respeitar o projeto determinado pela equipe de Narboni.
As 19 pontes que cortam o canal -duas com mais de mil anos- receberam luz branca. Elas ostentam murais embaixo, que contam a história do canal e da China, devidamente iluminados.
As árvores do calçadão também ganharam efeito com a luz azul-esverdeada que predomina no projeto. Molduras retangulares distribuídas de forma irregular iluminam ainda 40 prédios habitacionais de arquitetura estalinista chinesa construídos entre os anos 1970 e 1980.
Enquanto a iluminação no calçadão é controlada e estática, no canal ela muda de cores ao longo da noite. Varia também se é inverno ou verão. Todas as luzes são controladas por computador, da intensidade às cores.
"Do primeiro desenho que fiz até o início da iluminação, tudo levou dois meses, algo que levaria mais de um ano em qualquer país europeu", compara Narboni.
Dançando no canal
Os funcionários da prefeitura que acompanharam a reportagem no passeio, abusando do pragmatismo chinês, afirmaram que o projeto trata "de criar um produto turístico internacional". Hangzhou atrai mais de 30 milhões de turistas chineses por ano para visitar seu grande lago do Oeste, cenário de 99% das produções de época na TV chinesa.
Já a arquiteta Hong Wan, supervisora da iluminação da Zhongtai, diz que a obra vai além do turismo. "Os mais jovens têm interesse pelo passado da China, pela nossa história, então recuperar o Grande Canal é motivo de orgulho."
Hong aponta para os calçadões, que começam a ficar cheios de gente às 18h para ver a iluminação em ação. Pequenas multidões levam aparelhos de som para ficar dançando e se exercitando ao longo do canal iluminado.
Editoria de Arte/Folha Imagem |
O projeto custou o equivalente a R$ 30 milhões -mas a prefeitura está gastando R$ 1 bilhão por ano para despoluir os canais e recuperar suas margens.
Apesar do sucesso popular das luzes, ele ainda não se traduz no incremento do número de turistas do exterior. Nos cinco barcos que navegavam no canal durante a visita, o repórter da Revista era o único estrangeiro.
DICA
É preciso visto para entrar na China. Para fazer o documento, o turista precisa de passaporte com validade mínima de seis meses e formulário preenchido com uma fotografia recente 3x4. Informações no site da embaixada: br.china-embassy.org .
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