Crítica da Folha indica lugares de todos os preços para comer bem no Rio
No Rio, pode-se recorrer a botecos de todos os tipos e a símbolos clássicos da cozinha carioca em todo canto: o biscoito Globo, o filé Oswaldo Aranha, a tal feijoada completa –esta, dizem os registros históricos, nasceu na cidade, e não nas senzalas.
Fora tudo isso, há uma cena mais efervescente (e menos óbvia) de restaurantes, chefs que dão amostras de ousadia ou fazem o trivial muito bem feito –como Roberta Sudbrack em seu Da Roberta, no qual usa a expertise da alta gastronomia, com cuidado na seleção de ingredientes e preparos, para servir comida de rua.
Eis um roteiro de lugares para, pagando muito ou pouco, comer bem na cidade. A lista passeia pela característica "cozinha saudável" carioca, mais leve e colorida (casos do jovem e promissor Naturalie e do.Org), e por nomes que andam brilhando fora do Brasil, a exemplo de Rafael Costa e Silva, do Lasai.
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Delírio Tropical
Boa pedida para qualquer hora do dia, com trajes praianos ou não, sozinho ou acompanhado, com pressa ou com tempo: o Delírio Tropical, com nove unidades, é um supercuringa carioca, com a cara do Rio. Costuma-se formar uma fila até a calçada –ao menos na unidade de Ipanema.
No cardápio, impresso dia a dia pois muda regularmente, a grande atração são as saladas –há várias delas, geralmente preparadas com hortaliças orgânicas, de horta própria, com estufa, em Teresópolis.
Pede-se de um a três tipos (R$ 15,40 a R$ 23,30), servidos em porções fartas por atendentes, como se fosse um "quilo chique". O cliente passa com uma bandeja, olha a oferta e pede o que mais lhe apetecer. São vistosas e robustas opções –berinjela assada com queijo de cabra e tomate-cereja, e batata, shiitake, alho-poró, pimentões e flocos de arroz.
Há também grelhados, empadões, crepes, sopas e sanduíches.
- ONDE r. Garcia d'Ávila, 48, Ipanema (mais oito endereços); tel. (21) 3624-8164
- PREÇOS saladas, de R$ 15,40 (uma opção) a R$ 23,30 (três opções); grelhados, crepes, sopas e sanduíches, de R$ 7 a R$ 19,20; sobremesas, de R$ 4,80 a R$ 11
- MAIS delirio.com.br
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Forneria Santa Filomena
A dica óbvia, se estiver pelas bandas da zona norte do Rio, é ir até o Aconchego Carioca provar o célebre bolinho de feijoada. Menos conhecida, a Forneria Santa Filomena, ali pertinho, leva a vantagem de não acumular longas filas e ter preços mais amigáveis –e comida farta, com jeito de avó.
A marmita de carne assada, servida com batatas assadas ou pão, traz conforto. Mais criativo e bem servido é o mignon com mexido (mistura saborosa de arroz, feijão-vermelho, tomate, ovos e parmesão). Paira ali um ar descontraído em ambiente informal, com mesas e cadeiras de madeira, cozinha à vista, lousa na parede, lustres coloridos.
Para embarcar em uma mania carioca, peça o mate da casa –aqui, uma refrescante releitura com soda e canela. Depois da sobremesa, o café é coado à mesa, coisa rara no Rio. Um achado.
- ONDE r. Santa Filomena, 10, Praça da Bandeira; tel. (21) 3518-2053
- PREÇOS entradas, de R$ 6 a R$ 45 (para dividir); marmitas, de R$ 29 a R$ 38; sobremesas, de R$ 9 a R$ 35 (mix de doces)
- MAIS forneriasantafilomena.com
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Zô Guimarães/Folhapress | ||
Fachada da pizzaria Ferro e Farinha, no Catete |
Ferro e Farinha
Tem gente que não encara uma ida à Ferro e Farinha: há fila (e não tem refrigerante), o serviço às vezes demora e ali forma-se uma muvuca de hipsters. Mas a experiência é sui generis: pizzas individuais abertas à mão, uma a uma, com massa de fermentação natural, com certa acidez e tostado de lenha. As coberturas têm personalidade e mostram um trabalho criativo, feito com afinco.
Filho de japonês com chinesa nascido em Nova York, Sei Shiroma, 30, mudou-se para o Rio e, para ganhar a vida, desenhou um forno de ferro e pedra-sabão para fazer e assar pizza na rua –ofício que aprendeu em uma pizzaria no Brooklyn, em sua cidade. Ele fazia a massa e a abria na mão (na calçada, sobre placas de mármore), cortava a lenha e empurrava o forno num reboque.
No final de 2014, a Ferro e Farinha ganhou um lar fixo, de 25 m2, com um balcão apertadinho, de onde se vê o preparo das pizzas, e mesinhas de boteco, de ferro, na calçada.
Sobre a massa finíssima, para comer com as mãos, revelam-se opções inventivas, a exemplo da de couve, meio crispy, marinada em shoyu e gengibe com mel picante e alho confit –simples e potente.
- ONDE r. Andrade Pertence, 42, Catete; sem tel.
- PREÇOS entradas, de R$ 21 a R$ 23; pizzas individuais, de R$ 32 a R$ 43; sobremesa, R$ 12
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Zô Guimarães/Folhapress | ||
Lasanha de abobrinha com ricota de búfala, entre os pratos servidos no Naturalie bistrô, em Botafogo |
Naturalie Bistrô
Há um ar caseiro e descontraído nesse sobrado, que abre só no almoço. No térreo, um mesão comunitário de madeira e fru-frus na decoração; no segundo, uma estante com livros, panelas e louças, colorida e alegre.
Mãe (Luciana Passos, 43) e filha (Nathalie, 23, a estrela, que estudou em Nova York) dividem o comando da cozinha, na qual fazem receitas vegetarianas com o máximo possível de orgânicos, respeitando a sazonalidade dos produtos.
Ambas destacam o uso de leites vegetais, de manteiga clarificada, de farinha de amêndoas e de sementes em seus preparos, que passam longe do banal e são saborosos, vistosos e bem servidos.
Um destaque é a lasanha, simplíssima, mas rica em sabor, que intercala abobrinha, molho de tomate –e o próprio tomate– e ricota de búfala.
- ONDE r. Visconde de Caravelas, 11, Botafogo; tel. (21) 2537-7443
- PREÇOS entradas, de R$ 18,90 a R$ 34,90; pratos, de R$ 34,90 a R$ 37,90; sobremesas, de R$ 15,90 a R$ 23,90
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h1..Org Bistrô
Esse restaurantezinho na Barra, com serviço ininterrupto das 12h às 20h, é apertadinho e gracioso, com ar alegre –o serviço vira e mexe escorrega, é lento e desatento. O cardápio, que varia diariamente, é escrito à mão pela proprietária Tatiana Lund, 28.
Depois que virou vegetariana, ela foi atrás de aprender como diabos se faz o próprio alimento. Cursou nutrição, estudou gastronomia, trabalhou em Nova York e na Califórnia. De sua cozinha saem receitas vegetarianas servidas sem economia, com o máximo de produtos orgânicos que a chef consegue garimpar –arroz e feijão, por exemplo, são convencionais.
Pode haver, como prato do dia, um ceviche de cogumelos com milho, palmito-pupunha, cuscuz de milho e berinjela ou a feijoada, que já fez fama, com abóbora, feijão (vermelho e carioca), tofu defumado com farinha de mandioca com beterraba e passas, arroz integral com linhaça e couve no alho dourado, bem saborosa.
- ONDE av. Olegário Maciel, 175, loja G, Barra da Tijuca; tel. (21) 2493-1791
- PREÇOS entradas, de R$ 11 a R$ 42 (para dividir); pratos do dia, R$ 42; sobremesas, de R$ 8 a R$ 22
- MAIS orgbistro.com.br
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Zô Guimarães/Folhapress | ||
Salão do restaurante Puro, do chef Pedro Siqueira, no Jardim Botânico |
Puro
Uma casa de três andares acomoda o restaurante, de ar aconchegante e vidraças enormes, que dão vista para um Rio de Janeiro mais verde e menos praiano: o topo das árvores do Jardim Botânico, o Cristo Redentor.
O cardápio, enxuto e bem-resolvido, ajuda a compor a experiência: são pratos bem fornidos, volumosos, às vezes simples, servidos com certa malemolência boa para quebrar o gelo. Surge ali boa variedade: pato assado na panela, filé-mignon com pirão de queijo ou o portentoso polvo crocante, com gosto de brasa (um segredo da casa), salada de batatinhas ao murro e lâminas de barriga de porco defumada e vinagrete de pimenta-biquinho.
A cozinha que pode ser observada ao subir do primeiro para o terceiro andar do restaurante, tem na liderança o paulista Pedro Siqueira, 38.
- ONDE r. Visconde de Carandaí, 43, Jardim Botânico; tel. (21) 3284 5377
- PREÇOS entradas, de R$ 29 a R$ 35; pratos, de R$ 61 a R$ 86; sobremesas, de R$ 22 a R$ 28 (almoço executivo, R$ 49)
- MAIS purorestaurante.com.br
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Lasai
Um casarão de 1902, que outrora abrigou uma farmácia, hoje comporta um dos mais premiados restaurantes do Rio, com uma estrela "Michelin". Tem ar de casa, mesas espaçadas, pé-direito alto e serviço de salão muito bem treinado. O jantar é embalado por vozes como a de Nina Simone e a de Elis Regina.
Rafael Costa e Silva, 37, que foi braço direito do ousado Andoni Luis Aduriz, no espanhol Mugaritz, faz em sua cozinha, orquestrada com rigidez, um trabalho particular. Ele serve só menus-degustação em que faz uso de ingredientes comezinhos –chuchu, ovo, abóbora– com recursos antiquíssimos (cocção na brasa) e modernos (uso do sifão para espumas e afins).
As receitas combinam delicadeza e intensidade, em apresentações surpreendentes, sobre louças que variam do começo ao fim da experiência –troncos, cerâmicas, pedras. Usa-se as mãos, também, e então se estabelece um elo divertido e profundo com a comida.
Idas constantes a feiras orgânicas e duas hortas próprias, nas quais o chef cultiva itens que não encontra no mercado (como variedades de batatas), abastecem o Lasai com frescor. Os ovos são de galinhas criadas soltas por ele na região serrana. E deles se fez a estrela do cardápio –único item que não saiu desde a abertura, em 2014. Um creme de inhame com leite de coco, gema na consistência de gel, e farofa de carne-seca –o pão, de fermento natural, bem robusto, pode ser mergulhado com as mãos para fazer uma deliciosa lambança.
- ONDE r. Conde de Irajá, 191, Botafogo; tel. (21) 3449-1854 (só com reserva)
- PREÇOS R$ 145 (menu-degustação em sete etapas) e R$ 295 (em 14 etapas)
- MAIS lasai.com.br
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Zô Guimarães/Folhapress | ||
Esquina do Leblon onde está o Da Roberta, misto de lanchonete e restaurante da chef Roberta Sudbrack |
Da Roberta
O lugar tem clima bem urbano. Ocupa uma esquina aberta para a rua, com intervenções de grafite, música alta, banquetas de concreto e mesinhas minúsculas na calçada. Não é exatamente um restaurante, pois. Ali pede-se no caixa e espera-se o nome ser chamado quando o pedido for concluído.
Comem-se com a mão sanduíches (cachorro-quente, pastrami, pitas) que seguem à risca a filosofia da chef Roberta Sudbrack, uma das mais premiadas do Rio. São usados ingredientes desenvolvidos por profissionais que a chef chama de "artesãos", como o pastrami, as salsichas e as linguiças feitas em Bragança Paulista, os queijos do agreste pernambucano, os pães de fermentação natural.
Mas tudo sem afetação: é comida boa, em estado bruto, servida num contexto que remonta ao duro início da carreira de Sudbrack, quando ela teve de vender cachorro-quente na rua para sustentar a sua avó, hoje com 94 anos.
Para encerrar, guarde espaço para o bolo de chocolate molhadinho em calda, servido no copo, para comer de colher.
- ONDE r. Tubira, 8, loja A, Leblon; tel. (21) 2239-1103
- PREÇOS sanduíches: de R$ 25 a R$ 36; sobremesa: R$ 18
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Ró - Raw & Wine
Existe um ineditismo intrigante no novo Ró, de salão coberto de tijolo aparente, com iluminação indireta à noite, e uma obra de arte ao centro: uma árvore feita com galhos de jabuticabeira e flores secas de bougainvíllea. Bem, ali, todas as receitas só carregam ingredientes crus, que alcançam no máximo 42ºC –a temperatura limite para que não haja mudanças nos nutrientes–, e sem elementos de origem animal.
A artista plástica Inês Braconnot, no comando da cozinha, tornou-se crudívora há 15 anos, mas não é militante, "pregadora". Pelo contrário, é capaz de mostrar sua filosofia de maneira discreta e apaixonada, por meio de receitas apresentadas com sabores intensos e cores vibrantes, a combinar uma série de texturas.
Para tal, Inês se apoia em recursos como os fermentados, os desidratados, os liquefeitos e as pastas. Pode haver, por exemplo, uma entrada desafiadora –e surpreendente: trouxinha de nabo com beterraba e repolho-roxo fermentados, queijo de leite de amêndoas e espuma de abacaxi, sobre uma sopa rala e suave de nabo e maçã. Ou ainda um prato que faz ode ao tomate: desidratado, gelificado, in natura, com um fio de uma calda de tomate seco.
- ONDE r. Pacheco Leão, 102, Jardim Botânico; tel. (21) 3559-0102
- PREÇOS almoço: entradas, de R$ 22 a R$ 29; pratos, de R$ 29 a R$ 43; sobremesas, de R$ 26 a R$ 38; jantar: R$ 125 (menu-degustação em cinco etapas) e R$ 168 (em oito etapas)
- MAIS ro-raw.com
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