Mercado se mexe para receber melhor turistas transexuais
A corrida de empresas de turismo pelo dinheiro rosa, aquele gasto pela comunidade LGBT, explora nova fronteira: viagens, hospedagens e roteiros para transexuais.
Se os incômodos para gays e lésbicas em visitas a destinos mais populares já estão quase totalmente superados -como pedir cama de casal para dois homens ou duas mulheres-, transexuais ainda enfrentam constrangimentos específicos.
Marcus Leoni/15.mai.2017/Folhapress | ||
Raquel Virgínia, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira |
Para Assucena Assucena, 30, e Raquel Virgínia, 28, mulheres trans e vocalistas da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, o que mais incomoda é quando hotéis não usam o nome social ou o pronome de tratamento correto.
"É algo que diminui nossa identidade", diz Assucena.
Marcus Leoni/15.mai.2017/Folhapress | ||
Assucena Assucena, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira |
Virgínia, que vai regularmente sozinha ao Rio e a Salvador, diz que muitas vezes foi tratada como garota de programa. "Já fiquei em hotel em que me ofereceram desconto caso eu levasse alguém para passar a noite. Não pensam que eu posso ter meu dinheiro por ser uma cantora."
Na visão delas, as companhias aéreas são as mais bem preparadas do setor.
"A tendência, hoje, é tratar o turismo LGBT como vários segmentos, não como um bloco só", diz Mariana Aldrigui, professora do curso de Lazer e Turismo da USP, que participou do primeiro Fórum de Turismo LGBT do Brasil, na última terça (13) no hotel Meliá Paulista, em São Paulo.
O evento, patrocinado por empresas de turismo, promoveu painéis de discussão e também capacitação para agências de viagens.
"Precisamos primeiro mudar internamente para depois levar a transformação ao consumidor", disse Ewerton Camarano, gerente do Novotel Jaraguá, em um dos debates.
O hotel faz parte do grupo Accor, que distribuiu cartilha a funcionários na qual explica o que é identidade de gênero, entre outros conceitos.
Em 2016, Fort Lauderdale, na Flórida (EUA), lançou uma campanha de turismo com modelos transexuais. A cidade, que é sede de um congresso sobre o tema, quer também se tornar o principal destino turístico para essas pessoas.
"Antes, bastava estender uma bandeira de arco-íris para atrair as pessoas LGBT, mas é um público que está cada vez mais exigente", diz Richard Gray, diretor de turismo LGBT de Fort Lauderdale.
Segundo Gray, o Brasil pode ter boa posição nesse mercado, mas deve investir mais na publicidade de destinos e eventos para estrangeiros.
Para Aldrigui, no entanto, o setor vai seguir o movimento de aceitação de pessoas trans na sociedade, o que, segundo ela, deve levar dez anos. "O Brasil aparece nas estatísticas como um dos países onde mais transexuais são assassinados. Precisamos de tempo para que a sociedade os veja com naturalidade."
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