Península Valdés oferece visita a berçário selvagem

Praias recebem grande número de baleias, pinguins e lobos-marinhos o ano todo

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A foto mostra um grupo de dezenas de pinguins de magalhães na orla de uma praia na Península Valdés, na Argentina. Os animais são pequenos, e tem penas pretas nas costas e brancas no peito. Nas laterais, há algumas penas brancas que formam desenhos; o mesmo na cabeça, em forma de um "c". Os bicos são pretos e compridos.
Pinguins-de-magalhães em Península Valdés, na Argentina - Divulgação
Felipe Mortara
Argentina

​A península Valdés, 1.330 quilômetros ao sul de Buenos Aires, é o grande berçário de vida selvagem do litoral argentino. Uma espécie de Galápagos do Atlântico Sul.

Declarada patrimônio mundial pela Unesco em 1999, a quase ilha plana e árida de 3.600 quilômetros quadrados justifica o status. É comum passar longas horas na estrada a partir da cidade de Puerto Madryn, cruzando pampas imensos com o horizonte infinito repleto de guanacos –mamíferos nativos da família das lhamas.

O objetivo é alcançar as praias e pontas de pedra onde lobos-marinhos e elefantes-marinhos formam numerosas colônias. Isso sem falar nas pombas-antárticas e nas dezenas de milhares de pinguins-de-magalhães.

Privilegiado praticamente o ano inteiro por fartura de vida, entre julho e novembro o destino se torna ainda mais especial. Não por suas águas verdes e translúcidas, mas pelas imensas baleias-francas-austrais que vêm dar à luz e se reproduzir nas áreas mais abrigadas do golfo Nuevo. Na época certa, o visitante avistará pelo menos uma gigante num passeio de barco.

Mesmo não sendo um parque nacional, é uma área de preservação privada em meio a cerca de 50 fazendas. Isso porque o governo argentino distribuiu vastas porções de terra a imigrantes do País de Gales no fim do século 19 a fim de colonizar o território.

O turismo é levado a sério na península Valdés, com um cuidado insistente por parte dos guias. Principal museu da região, o caprichado Ecocentro (ecocentro.org.ar) é o símbolo do importante papel de educação ambiental que a visita ao lugar representa.

O aeroporto de Trelew, capital do Estado de Chubut e 60 quilômetros ao sul de Puerto Madryn, é a entrada da região. A cidade portuária de 104 mil habitantes é um dos centros industriais da região patagônica, dedicado principalmente à produção e exportação de alumínio.


ATRAÇÕES

O turismo ultrapassou a atividade pesqueira e assumiu o posto de segundo pilar econômico da cidade. O bem arrumado centro de Trelew, com um calçadão à beira do porto, fica a 60 quilômetros da entrada da reserva.

Os tours para explorar a península são vendidos por várias agências do centro e custam por volta de 1.800 pesos (R$ 350) por dia. Leve em consideração que os trechos de carro podem passar de seis horas entre ida e volta.

Em um desses passeios, o turista percorre 160 quilômetros que separam o centro de Puerto Madryn e a Punta Norte. Entre março e abril, somente ali e em mais nenhum canto do mundo o viajante pode testemunhar um fenômeno raro. Um grupo de cerca de 30 orcas aprendeu a caçar filhotes de lobos-marinhos atirando-se e encalhando nas areias. A única contrapartida é ter muita paciência.

VILA

Outra opção para descobrir mais a fundo a área de proteção é abrir mão do conforto dos melhores hotéis de Puerto Madryn, como o Território (hotelterritorio.com.ar) e o Península Valdés (hotelpeninsula.com.ar), e ficar em Puerto Pirámides. Com apenas 700 moradores e a 92 quilômetros de Madryn, a vila rústica tem poucos restaurantes. Mas é o ponto de saída dos tours para ver as baleias.

A partir dali é possível explorar as deslumbrantes áreas do golfo San José e de Punta Delgada com carro alugado, tornando o roteiro mais contemplativo.

Dois a cinco dias são o ideal para desbravar com calma a região, avistar baleias e observar os imensos elefantes-marinhos dominando seus haréns na Caleta Valdés. Além da Antártida e de ilhas oceânicas, esse é o único lugar da América do Sul onde é possível avistá-los. Ou então deslumbrar-se com flamingos, garças, gaivotas e biguás na Isla de los Pájaros.

Ensolarada e seca, a região também recebe ventos fortes, que fazem a sensação térmica despencar.

Mesmo no verão, com temperatura que vai de 14ºC a 29ºC, recomenda-se que os visitantes se vistam em camadas, sendo a externa com tecido corta-vento. Óculos de sol, protetor solar, luvas e gorro são itens obrigatórios.

As poucas chuvas caem entre abril e junho, pouco antes da chegada das baleias. A melhor época para vê-las é de setembro a novembro.

Para além dos passeios de carro entre pontos distantes, separe um tempo para praticar atividades físicas. Algumas agências oferecem roteiros em mountain-bike ou caminhadas por encostas. Se descobrir novos ângulos em terra não for suficiente, saiba que Puerto Madryn é a capital argentina do mergulho, e ali se pratica até snorkel em meio a lobos-marinhos.

BALEIAS

A baleia-franca-austral é a rainha entre dezenas de espécies que tornam a península Valdés um lugar único. O mamífero fez desse o seu rincão favorito no mundo para dar à luz e se reproduzir.

De julho a novembro, os animais saem da Antártida e invadem as águas da região. Junto com eles vêm elefantes-marinhos, golfinhos e muitas aves além de turistas do mundo inteiro.

A enorme concentração de baleias somada à transparência das águas tornou esse um destino sem igual para os visitantes.

Rodeada por falésias amareladas, Puerto Pirámides é o epicentro do turismo na temporada. Ficar perto dessas criaturas, que podem alcançar 18 metros de comprimento e pesar até 40 toneladas, é uma experiência transformadora.

É como estar dentro de um documentário de natureza da TV a cabo. É possível até escutar a respiração das baleias e por vezes se molhar com seus borrifos. Curiosas, elas podem se aproximar e chegam a encostar nas embarcações. Porém, é proibido tocá-las.

Os machos, mais exibidos, tentam seduzir as fêmeas com saltos acrobáticos imprevisíveis. Mães ensinam seus filhotes a mamar e a nadar com desenvoltura.

Outrora ameaçadas de extinção por conta da caça desenfreada no século 20, hoje as baleias são protegidas e louvadas como protagonistas. Seu nome em inglês, southern-right whale, veio do jargão baleeiro de que essa era a espécie certa para matar, porque boiava após ser arpoada.

Até o século passado foram abatidas centenas de milhares de baleias-francas. Atualmente existem cerca de 12 mil no mundo, boa parte delas passa o inverno e a primavera na península Valdés.

NO BRASIL

Quem quer ver baleias-francas, mas não pensa em visitar a Argentina tão cedo, pode fazer isso sem sair do Brasil. Uma parcela desses animais segue para o sul do país. Entre meados de agosto e setembro o litoral sul de Santa Catarina é o lugar mais fácil para ficar cara a cara com as gigantes.

Localizada ao longo de 130 quilômetros de costa entre nove municípios, incluindo Garopaba e Imbituba, a Área de Proteção Ambiental da Baleia-Franca é a melhor região para encontrar os cetáceos. Uma força tarefa de guias se espalha pelas praias procurando borrifos no horizonte. É bem comum os animais ficarem a poucos metros da areia e de costões.

Menos procurados, os tours por terra são uma opção mais econômica e boa para os dias de mar revolto.

Duas empresas operam saídas de barco de pelo menos uma hora e meia regularmente na temporada por valores entre R$ 90 e R$ 140. A Base Cangulo (basecangulo.com.br) e a Vida, Sol e Mar (vidasolemar.com.br) são as principais operadoras do passeio.

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