Na Islândia, espetáculo da aurora boreal é imprevisível 

O turista deve estar preparado para a frustração de não ver as luzes, que dependem do clima

Diogo Bercito
Reykjavík

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​Em seus esforços para atrair turistas durante o longo inverno, a Islândia conta com uma vantagem natural: essa ilha é um dos poucos lugares do mundo em que é possível assistir ao espetáculo da aurora boreal --quando o céu noturno é pintado por luzes ondulantes esverdeadas.

A aurora, chamada "northern lights" (luzes do norte) nos pacotes de turismo, brilha também na Noruega, na Finlândia, na Suécia, na Escócia e no Canadá, mas tem sido progressivamente associada à Islândia devido aos cenários especialmente inóspitos em que ali tremula.

Como a aurora boreal é vista apenas no escuro, é impossível ter essa experiência visitando a Islândia durante o verão, quando a inclinação da Terra em relação ao Sol faz com que o dia não termine nunca. Quem quiser ver essas luzes verde-esmeralda precisa viajar no inverno.

Mas, como as demais atrações da estação, a aurora boreal depende das condições climáticas e é razoavelmente imprevisível. O conselho aos turistas é que se programem para tentar mais de uma vez enxergar o fenômeno durante sua viagem --e se preparem para a decepção de não conseguir vê-lo.

A reportagem da Folha fez duas tentativas durante sua passagem de uma semana pelo país, em novembro passado. Ambas custaram em torno de R$ 300, com agências de turismo locais. É possível agendar pela internet.

A primeira foi de carro. Depois de esperar meia hora no frio, abraçado a um poste para não ser arrastado pelo vento e escorregar no gelo, o repórter foi recolhido por uma van diante da Hallgrímskirkja, igreja na capital. O veículo foi ao fim da península de Reykjanes, a uma hora dali.

O grupo de dez turistas estacionou diante do mar, ao lado de um farol, e esperou por duas horas até que alguma coisa acontecesse, enquanto o vento uivava a graus negativos. Em alguns momentos, uma luz verde apareceu no céu, quase imperceptível. Então, sumiu.

A segunda tentativa foi mais auspiciosa. O passeio foi de barco, navegando por duas horas na baía de Reykjavik. A embarcação era utilizada durante o dia para buscar baleias, e o frio obrigava turistas a vestir macacões térmicos e tremelicar no convés.

Poucos minutos depois de o passeio começar, as luzes apareceram. Começaram como um verde desbotado, tímido, mas logo se tornaram um impressionante arco luminoso cruzando por cima do barco, terminando sobre uma montanha coberta de neve.

Não era a mesma luz brilhante dos folhetos promocionais, mas impressionava os turistas, que soltavam suspiros enquanto fotografavam o fenômeno --curiosamente, a aurora boreal parece ainda mais intensa nas fotos, pois as câmeras captam melhor essa luz do que os olhos.

 

A aurora boreal é um fenômeno causado pela interação entre o plasma solar e o campo magnético terrestre. Como as partículas são atraídas pelos polos, só acontece nesses extremos. O "boreal" se refere ao polo norte. Quando é no sul, se chama "austral".

Quem fizer questão de ver essas luzes durante a viagem pode conferir antes a previsão feita pelas autoridades islandesas. O site mostra as nuvens e a intensidade do fenômeno, de zero a nove. Mas, outra vez, a aparição depende da natureza. Os ventos tipicamente imprevisíveis da ilha podem rapidamente mudar a cena.

Para os mais aventureiros, pode valer a pena buscar pacotes que incluam passar a noite em uma pousada no interior do país, para não depender de passeios curtos. Há também a vantagem que, mais longe das cidades, o céu estará ainda mais escuro e propenso às auroras.

Mas, com sorte, o fenômeno é visível mesmo no centro de Reykjavík. Depois das duas viagens em busca das luzes esverdeadas, enfrentando o frio polar e a ansiedade da exploração, a reportagem da Folha enxergou o fenômeno --de graça-- pela janela do hotel.

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