Reduto hippie na Bahia, Arembepe é alternativa econômica à Praia do Forte

Após 50 anos da visita de Mick Jagger, aldeia abriga remanescentes que vivem do artesanato

Franco Adailton
Arembepe (BA)

​O ano era 1968. Enquanto parte do mundo se levantava contra regimes autoritários, o vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger, acompanhado do guitarrista Keith Richards, passeava quase anônimo durante o verão do então bucólico vilarejo de Arembepe, no litoral norte da Bahia. Nascia em seguida a aldeia hippie de Arembepe.

Situado entre as dunas que separam o mar do hoje enfraquecido rio Capivara, o local tem atualmente cerca de 25 casas e 60 moradores. 

Hozana Silva, artesã e moradora da aldeia hippie de Arembepe, na Bahia, faz sinal de paz e amor enquanto segura a filha de um ano no colo
A artesã Hozana Silva e a filha Shanty no Centro de Artesanato de Arembepe, ao norte de Salvador - Raul Spinassé/Folhapress

Camuflados em meio à restinga, os bangalôs são uma mistura de barro, pedras e garrafas de vidro, que remetem à Casapueblo, em Punta Ballena, no Uruguai.

Quase ninguém, hoje, é do tempo em que a agitação cultural tomava conta desta espécie de universo paralelo, de acordo com o artesão Walter Cezar, 62, que vive na casa do artista plástico local Luiz Lourenço.

Natural da cidade de Tucano, no sertão baiano, Cezar passou a frequentar a aldeia nos idos de 1980.

“O auge foi por volta de 1970. Na década seguinte, todos estavam na cidade, na luta contra a ditadura”, conta. 

 

Hoje, a aldeia é frequentada por turistas e moradores dos distritos vizinhos e de Salvador. Ainda assim, há um distanciamento entre o “mundo exterior” e a comunidade, de acordo com a artesã Hozana Silva, 42, nascida em uma cabana no local.

“Ser hippie tem a parte boa, que é ser livre, mas também tem a parte ruim, que é ser discriminado, ser olhado de uma maneira diferente pelas pessoas”, diz Hozana.

“A gente tenta se aproximar da sociedade, mas lidamos muito com o preconceito, o que nos força a viver quase isolados. A gente quer que as pessoas venham mais, conheçam nossa cultura e valorizem nosso trabalho.”

Na vila, é possível fazer uma parada no bar do Alceu, que oferece uma conversa boa, e comprar um adereço no Centro de Artesanato, que é o principal ganha-pão daquela comunidade.

Outra opção é fazer uma visita à casa onde o artesão Cezar mantém a sua oficina, além de um acervo de livros e discos à venda.

Na cheia, o rio Capivara convida para um banho.

Parte de Camaçari, Arembepe está a 42 quilômetros de Salvador. São cerca de 40 minutos, de carro, do aeroporto internacional Luís Eduardo Magalhães, via BA-099 (estrada do Coco). A região pode servir de base para Praia do Forte e Imbassaí, distantes 35 km e 41 km rumo ao norte, respectivamente.

praias

Mas, diferentemente da badalada praia do Forte, Arembepe oferece ao viajante opções de preços mais baixos. 

No centro nervoso de frente para o mar, fica a igreja de São Francisco de Assis, erguida no início do século 20, e um leque de pequenas lojas, mercadinhos e lugares que servem comida típica.

Um dos lugares mais populares é o restaurante Mar Aberto, com vista para o mar e pratos a partir de R$ 27.

Para quem estiver em busca de isolamento, a opção é seguir para a praia do Piruí, onde piscinas naturais, formadas na maré baixa, contrastam com ondas ideais para a prática do surf.

No fim de semana, só duas barracas funcionam na orla. Vale levar um kit básico com guarda-sol e cadeiras.

Ali se encontram as opções de hospedagem mais tranquilas, entre elas a pousada A Capela, com diárias que vão de R$ 280 a R$ 430.

Ao longo de toda a costa de Arembepe também é possível avistar marcações que sinalizam a existência de ninhos com ovos de tartarugas marinhas. O centro local do Projeto Tamar oferece museu interativo, tanques de observação dos bichos e visitas guiadas, que devem ser agendadas com antecedência, pelo email cv.arembepe@tamar.org.br.

Outra atração popular é a praia do Canto, mais ao norte da aldeia hippie. 

Separado do rio Capivara por uma colina de dunas, o pedaço é conhecido por abrigar uma bancada de corais.

ocupação hippie

Os moradores atuais da aldeia hippie buscam ocupar o local com apresentações musicais, mostras cinematográficas e exposições.

“Hoje, a gente luta para que a comunidade se torne patrimônio cultural”, afirma o artesão Walter Cezar.

Com esse intuito, membros da Associação dos Comerciantes e Prestadores de Serviço de Arembepe espalharam pelas praças banners que contam a história local aos visitantes.

Segundo Claudia Giudice, 52, membro da entidade, há projetos “em fase de conversa” com o poder público para manter agenda de celebração dos 50 anos da aldeia.

“A gente está tentando fazer uma série de eventos para colocar luz sobre esse lugar e, obviamente, trazer turistas que ajudem a aldeia a ficar viva”, diz Giudice, que nasceu em São Paulo e mudou para Arembepe em 2013.

“O movimento hippie teve força muito grande no Brasil, chegou aqui no contexto histórico da ditadura. Com isso, a aldeia atraiu gente muito interessante em vários verões. Isso não pode ser esquecido, porque parte da nossa música, da nossa poesia e da nossa história está ligada a esse movimento.”

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