Desde que, em 2015, Heston Blumenthal fechou seu The Fat Duck na Inglaterra para mantê-lo uma temporada na Austrália, e René Redzepi transferiu por cinco semanas seu dinamarquês Noma para Tóquio, o gesto de fechar um restaurante e trasladá-lo para longe deixou de ser novidade.
Mas não deixou de ser excitante, como mostra a interessante experiência do restaurante argentino Tegui, que até o próximo dia 7 de abril, com sua sede fechada em Buenos Aires, está funcionando literalmente entre as vinhas do vale do Uco, em Mendoza, no oeste do país.
São 40 dias em que a cozinha autoral do chef Germán Martitegui --cuja casa é a única argentina no ranking World's 50 Best Restaurants-- ganhou novos ares.
A equipe foi toda instalar-se na área externa da vinícola SuperUco, com vista para os Andes --esta é uma das cinco tocadas pelos irmãos Michelini, inquietos vinicultores orgânicos da região.
Junto aos garçons e cozinheiros também percorreram os mais de mil quilômetros até Mendoza quase todos os equipamentos do Tegui --entre eles, quatro geladeiras, 25 mesas, 180 conjuntos de talheres e 1400 taças para vinho.
De comida, porém, nada foi. Todos os ingredientes do Tegui mendocino são locais, obtidos a no máximo cem quilômetros dali (mas boa parte coletada diariamente por toda a equipe na vizinhança). Os pratos inspirados têm um sabor marcadamente local, embora nada tradicionais, pois modelados pela criatividade do chef.
Tudo --carnes, laticínios, frutas, legumes-- vem do redor. O suco de ruibarbo e melancia vem com ruibarbo fresco salpicado com sal dos Andes. O cabrito é assado na brasa feita no chão com ervas da montanha, depois desfiado e servido entre duas folhas de videira douradas na chapa, junto com soro de leite fermentado.
O tomate biodinâmico é confitado uma noite no forno de barro e servido com seus sucos da cocção, caldo de queijo de cabra e azeite de orégano e azeitonas prensados a frio.
A tuna (fruto do cacto), colhida perto dos vinhedos, é cozida lentamente no forno a lenha e servida com sorvete de leite de cabra fresco e mel de campos de orégano.
A cazuela mendocina, inspirada num prato típico da região, é um cozido de galinhas de quase três anos, de carne dura e firme, com o caldo aromático para beber direto da tigela.
Os pêssegos da fazenda vizinha são defumados com galhos de oliveira e servidos com suco de abóbora crua, kefir de leite de cabra e óleo de tomilho selvagem da montanha.
Cito parte dos dez pratos do menu que bem me impressionaram. Todos delicados, com economia de ingredientes e sabores marcantes. A notar, ainda, a combinação com os vinhos cheios de personalidade (e ainda assim elegantes, leves) dos irmãos Michelini. A experiência vale a viagem.
Tegui SuperUco pop-up do restaurante Tegui de Buenos Aires funcionando até 7 de abril
Endereço Ruta provincial 94, km 11,5, Tunuyan, Mendoza, Argentina
Reservas por telefone: +54 11 4770-9500; por internet: tegui-mendoza.meitre.com
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