Descrição de chapéu férias

Bares e lojas dão vida nova a bunkers da Guerra Fria em Sófia, na Bulgária

Espaços subterrâneos são usados para vender vinhos, cerâmicas e outros produtos locais

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Sófia | The New York Times

​A cada dia, pelos últimos 20 anos, Lyudmil Kutev desce os três andares da escadaria de concreto do prédio em que vive em Sófia, capital da Bulgária, para chegar a um bunker da era da Guerra Fria totalmente ocupado por prateleiras cheias de sapatos. 

Lá, abre uma janela basculante localizada a poucos centímetros do piso da calçada.“Meu pai se escondeu aqui dos bombardeios”, disse Kutev. “E nos últimos anos do comunismo, ele escondeu aqui sua oficina de sapateiro.”

Sob as mesquitas otomanas de Sófia, os monumentos ao exército soviético e as igrejas ortodoxas com suas cúpulas em forma de cebola, estão algumas das mais intrigantes relíquias do passado da cidade —e é preciso se agachar e olhar por minúsculas janelas para encontrá-las.

Conhecidos como “kleks”, ou lojas clandestinas, esses ateliês e lojas ocupam porões e abrigos contra bombas e só existem na capital. Hoje, com o número de estrangeiros batendo recordes, eles estão entre os mais criativos espaços subterrâneos da cidade.

 
Senhora na rua conversa, olhando para baixo, com vendedor que está atrás do balcão de uma lanchonete que fica no nível subterrâneo
Lanchonete em bunker de Sófia, na Bulgária - NYT

Com o desmantelamento do comunismo, no fim dos anos 1980, faltava aos moradores dinheiro para abrir lojas.

Assim, empreendedores começaram a vender eletrodomésticos e outros produtos clandestinamente e artesãos abriram oficinas. Por volta da década de 1990, já existiam lojas subterrâneas em quase todas as ruas de Sófia.

“Os ‘kleks’ estavam entre as primeiras empresas privadas da Bulgária”, disse Angel Bondov, planejador urbano que conduziu o primeiro estudo governamental sobre esses espaços, em janeiro deste ano.

Mas, com a chegada de cadeias de varejo e supermercados, eles começaram a desaparecer. Segundo Bondov, mais da metade dos “kleks” foram fechados, de 2012 para cá, e só restam 27 deles.

Uma nova onda de artistas e empreendedores está transformando esses espaços em estúdios ou bares clandestinos, e alguns dos “kleks” sobreviventes deixaram de ser operações improvisadas e incorporaram um espírito de culinária de produção local.

Um passeio pelo centro hoje revelará velhos consumidores usando bonés de pele russos (“ushankas”) e jovens pós-Guerra Fria, vestidos com elegância, agachados diante das janelas das lojas para comprar chocolates búlgaros, vinhos tintos do vale da Trácia (sul do país), e panelas pintadas a mão produzidas em Troyan (centro da Bulgária).

Diante do parque do Palácio Nacional da Cultura, clientes visitam a padaria “klek” de Petranka Pedrova, que, como a maioria dos espaços, não tem nome oficial e é conhecida pelos locais como Fornetti.
Os clientes podem escolher entre 32 sucos de frutas  —de damascos locais a kiwis importados— para acompanhar seus banitsa, pãezinhos recheados crocantes.

Perto do Teatro Nacional Ivan Vazov, Radolsav Alexandrov serve no seu “klek”, o Filiite, sanduíches princesa, de carne moída e queijo com tempero de ervas colhidas em seu pomar. Se estiver com sede, peça o chá de menta feito com um coquetel de plantas colhidas nas montanhas Rhodope, no sul do país.

Duas jovens sentadas no balção de um bar, com as cabeças próximas, riem, mostrando intimidade
Clientes no bar 5L, aberto em um velho bunker de Sófia - Boryana Katsarova/'The New York Times'

O melhor exemplo das inovações nos velhos bunkers é o 5L, o primeiro speak-easy [os bares clandestinos da época da Lei Seca nos EUA] da Bulgária, aberto em fevereiro de 2017, bem perto da rua Shishman, cada vez mais em voga.

Depois de selecionar a chave correta para abrir a porta oculta que leva ao local, os fregueses descem dois lances de escada para chegar a um abrigo com paredes de pedra de 60 centímetros de espessura e teto de concreto. 

O cardápio destaca uma seleção de rakias, bebida de frutas típica dos Bálcãs, e ouzos (destilado de uva), que o bartender Darko Angeleski usa para criar coquetéis.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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