“Dá para viajar ao Egito sozinha?”, foi a pergunta que mais ouvi depois das minhas férias.
Sim, dá. Mais que isso, dá para ficar a dois centímetros de um sarcófago esculpido há 4.000 anos, ser a única pessoa dentro da maior pirâmide dos faraós, olhar para a máscara de ouro de Tutancâmon durante dez minutos no absoluto silêncio e ver monumentos que só conhecemos dos livros sem jamais pegar uma fila.
Sabe aquelas miniaturas de 2.000 anos antes de Cristo com cenas da vida cotidiana do Egito, que no museu Metropolitan (Nova York) estão a dois metros e grossas vidraças de distância? Ou os caixões de múmias igualmente protegidos no Louvre (Paris)?
No museu Egípcio (Cairo), essas peças ficam a 20 centímetros do seu nariz, e você só não encosta na vitrine porque isso não se faz —e porque ela está cheia de poeira.
O pó é a evidência de que a proximidade e a informalidade da experiência turística no Egito são o lado positivo de um problema importante: falta de infraestrutura, agravada por uma redução abrupta no número de visitantes desde a Primavera Árabe, em 2011.
No pico, em 2010, desembarcavam no Egito 1,5 milhão de estrangeiros por mês, segundo estatísticas oficiais reunidas pelo Trading Economics. Neste ano, até maio, os turistas de outros países não chegavam a 800 mil por mês.
O resultado é óbvio: menos filas, menos espera e preços mais baixos. Por outro lado, falta dinheiro para investir em informação para os turistas, banheiros limpos, locais de descanso e acessos facilitados.
Outro efeito negativo da crise econômica é o aumento do assédio de vendedores —ou moradores comuns, interessados nas comissões que podem receber de lojistas se o turista fizer compras.
Essa é uma das grandes dificuldades do turista que está sozinho no Egito: em todo lugar há alguém tentando arrumar um dinheiro.
Você para um segundo para olhar o mapa no celular e aparece alguém puxando conversa, garantindo que não quer vender nada, apenas praticar o inglês. Mas antes que você pisque ele já o está guiando para uma loja na qual espera ganhar comissão.
A saída, infelizmente, é ser antipático e evitar dar conversa para estranhos.
Mesmo funcionários de locais turísticos vão tentar vender algo que deveria ser de graça. O sujeito diz “pode entrar, pode olhar” numa mesquita ou museu, e vai mostrando tudo sem que você peça. Lá no meio, para e pede uma gorjeta.
Outra tática é criar problemas para vender soluções. Não é incomum que guardas ou guias improvisados digam que é proibido fotografar ou passar de certo ponto para, logo depois, propor “dar um jeito” em troca de dinheiro.
Nesses casos, avise antes de entrar que não há interesse em guia —ou, no limite, aceite, mas combine logo o preço (em geral 20 libras —US$ 1— devem resolver).
Dito isso, para andar pela cidade, visitar mesquitas, igrejas e museus, não há necessidade de contratar guias. Para ir a monumentos, pirâmides e templos, porém, pode ser uma forma de economizar tempo e estresse. No Egito, pouca gente fala inglês, algumas atrações são distantes e há pouca informação.
Na internet dá para comparar preços dos passeios e reservar já do Brasil (algumas empresas têm guias que falam português). Ainda assim, fique atento. Os guias tentarão levá-lo a lojas de perfume, papiro, algodão, tapetes ou especiarias onde, teoricamente, alguém lhe contará a história dos produtos ou mostrará como são feitos.
Na prática, o objetivo é vender os produtos, de qualidade duvidosa e cujos preços exigem bastante pechincha até chegar a patamares aceitáveis. A não ser que esteja muito interessado, evite.
Assédio a turista é punido com multa
Uma lei aprovada em abril prevê multa de até 10 mil libras egípcias (equivale a oito salários no Egito) para casos de assédio a turistas.
Vale para qualquer um que seja pego “pedindo esmola ou gorjeta, promovendo uma loja ou tentando vender insistentemente um bem ou serviço”.
A lei mostra preocupação com a imagem do país, que depende do turismo. Aplicá-la pode não ser fácil: muitos dos que pediram gorjetas à Folha eram funcionários que deveriam proteger atrações turísticas e seus visitantes.
Pacotes
US$ 865 (R$ 3.217)
4 noites, na RCA Turismo (rcaturismo.com.br)
Inclui café da manhã e visita às pirâmides. Sem aéreo (apenas no trecho Cairo-Luxor-Cairo). Para saídas até 31 de agosto
US$ 1.418 (R$ 5.274)
7 noites, na CVC (cvc.com.br)
Três noite no Cairo e quatro em cruzeiro pelo rio Nilo. Inclui traslados e aéreo para trechos internos
US$ 1.789 (R$ 6.655)
3 noites, na New Age Tour (newage.tur.br)
Hospedagem em quarto duplo. Inclui passeio no Cairo, café da manhã e aéreo a partir de São Paulo
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