Descrição de chapéu The New York Times

Conheça lojas oficiais da família real em Londres

Monarquia dá selo de garantia a estabelecimentos tradicionais que vendem de chapéus a queijos

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Homem mede cabeça de outro homem, que usa chapéu
Cliente tem cabeça medida na chapelaria Lock & Co. Hatters - Andy Haslam/'The New York Times'
Londres | The New York Times

A família real britânica fascina, há muito tempo, cativando os simples mortais, no Reino Unido e em outras partes, e despertando paixão por tudo que se refere aos Windsor.

Se adicionarmos um casamento à receita —especialmente um casamento de conto de fadas como o de príncipe Harry e sua noiva americana Meghan Markle, no sábado (19)—, a empolgação só vai aumentar. Onde Meghan fará suas compras em Londres? Onde Harry comprará joias para ela? Será que ela tem perfume, chocolate ou chapeleiro favoritos? (O que desperta uma questão: será que Catherine, a duquesa de Cambridge, inspirará sua nova cunhada, ex-atriz e modelo, a usar um chapéu em estilo "fascinator"?)

Os paparazzi não conseguirão capturar tudo. Outra maneira de aprender sobre as predileções da família real é examinar as marcas que detêm o chamado "royal warrant" —os fabricantes britânicos de primeira linha que mereceram o "selo de preferência real".

Os "royal warrants", que a família real britânica concede desde o século 15, são uma marca de distinção para empresas que forneçam produtos e serviços por pelo menos cinco anos à rainha Elizabeth 2ª, ao seu marido, o príncipe Philip, e ao seu filho, o príncipe Charles. São fabricantes de prataria, champanhe, perfumes e calçados, mas também de sistemas de fumigação agrícola e biscoitos. Hoje, 800 empresas britânicas têm o selo real de aprovação.

O processo seletivo é rigoroso. Se aprovada (a maioria dos candidatos não o é), a empresa conquista a maior honraria: o direito de exibir o brasão de armas da família real e o prestigioso rótulo "by appointment" ao lado de seu logotipo, uma prática que remonta ao reinado de Elizabeth 1ª.

Com a ajuda deste guia sobre as empresas detentoras de "royal warrants", um turista pode comprar as marcas oficiais da coroa, produtos de empresas seculares que representam o máximo da qualidade, legado e técnica.

É um guia que oferece alguma coisa para todos os leitores. Não estamos falando apenas de produtos para alguém que possa pagar 5.000 libras por um terno feito sob medida, mas também de fornecedores de queijo, chá, livros e produtos de cuidados pessoais. O guia representa uma oportunidade de comprar suvenires representativos sem gastar uma fortuna.

As empresas que detêm o "royal warrant" são tão respeitadas que ao menos dois hotéis elegantes, o Beaumont e o Hotel Cafe Royal, estão oferecendo pacotes para o casamento real que incluem excursões a algumas dessas renomadas lojas.

Embora ninguém possa prever como serão os hábitos de consumo de Meghan e Harry, veja abaixo alguns dos locais que eles podem escolher para suas compras —todos detentores do "royal warrant".

Hatchards

Aquilo que começou em 1797 como um café literário que produzia panfletos políticos e publicações sobre as questões sociais da era se tornou a mais duradoura livraria de Londres. O charme antiquado da loja  —painéis de madeira elegantes, lareiras escondidas e uma escada de madeira em espiral— é ainda mais enfatizado pelas mesas de livros organizadas pela equipe da casa contendo trabalhos de escritores britânicos dos mais conhecidos aos mais exóticos, como P.G. Wodehouse, Nancy Mitford, Evelyn Waugh, Agatha Christie e Kingsley Amis.

O calendário da loja lista as noites de assinaturas; autores conhecidos (Julian Barnes é um exemplo recente) muitas vezes estão na lista. Além de comprar um livro (a loja é conhecida por cópias autografadas de edições em capa dura e por primeiras edições encadernadas em couro, com ilustrações decorativas de William Morris nas folhas de rosto), os bibliófilos poderão se inscrever para o serviço mensal por assinatura da Hatchards, com entrega no mundo inteiro.

A Hatchards recebeu seu primeiro "royal warrant" no século 18, da rainha Charlotte, mulher de George 2º, e continua a deter selos de aprovação da rainha Elizabeth 2ª, do príncipe Philip e do príncipe Charles.

187 Piccadilly, Londres; hatchards.co.uk

Truefitt & Hill

William Francis Truefitt começou sua trajetória fazendo perucas para o rei George 3º e, em 1805, abriu uma barbearia de luxo, inicialmente fabricando e penteando perucas, um trabalho demorado, e depois oferecendo cortes de cabelo aos londrinos endinheirados.

A combinação entre um corte de barba acompanhado por toalhas quentes e o jeitão de clube para cavalheiros que a casa oferecia (com serviços de engraxate para todos os fregueses) conquistou a alta sociedade, atraindo fregueses como Oscar Wilde, lorde Byron, Beau Brummell, Charles Dickens, Sir Winston Churchill e a família real.

Em 1875, "preparados para cabelos" foram introduzidos, abrindo caminho para acessórios de barba (um conjunto de escova de cabelo em estilo clássico, com cerdas de pelo de castor e cabo prateado, navalha e aparador pode servir como um suvenir elegante), fragrâncias e produtos para a pele, todos fabricados no Reino Unido.

Hoje, os serviços de barba e cabelo são executados por barbeiros uniformizados, com camisas brancas, um paletó monogramado e gravatas (e os sapatos dos fregueses continuam a ser engraxados gratuitamente). A empresa teve o "royal warrant" de nove monarcas consecutivos, e hoje detém o do príncipe Philip.

71 St James’s Street, Londres; truefittandhill.co.uk

The Goring Hotel

O Goring, que fica a poucos metros de distância do palácio de Buckingham, foi onde Kate Middleton (e toda a sua família) se hospedaram na noite anterior a seu casamento com o príncipe William. Também foi o paradeiro preferencial para a realeza nas coroações de George 6º, em 1937, e Elizabeth 2ª, em 1953; o hotel serve como uma espécie de anexo extraoficial do palácio, para receber dignatários visitantes.

Em uma era de designs minimalistas e muito parecidos, e de hotéis clássicos devorados por corporações gigantescas, é inspirador ficar em uma casa secular que continua a ser controlada e dirigida pela família que a construiu.

O Goring é britânico até a medula. Seu restaurante, estrelado pelo Guia Michelin, naturalmente oferece clássicos da culinária inglesa como eggs drumkilbo, uma combinação entre ovos, camarões e lagosta que era um dos pratos preferidos da Rainha Mãe (a mãe da rainha Elizabeth 2ª); a sala foi projetada por David Linley, sobrinho da atual rainha e um dos pesos pesados da decoração britânica.

Os quartos e o saguão são grandiosos e foram recentemente restaurados pelos mais conhecidos artesãos do país para ressaltar o charme londrino do local. A mobília foi produzida especialmente pela respeitada companhia Manborne, os papéis de parede artesanais são da Fromental, e as cortinas e outros revestimentos têxteis foram fornecidos pela Gainsborough Silk.

Em lugar de mordomos comuns, há criados com casacas vermelhas, um detalhe que poderia ser cafona não fosse o ambiente suntuoso e o legado da família real. Em 2013, The Goring se tornou o primeiro e único hotel a receber um "royal warrant" da rainha Elizabeth 2ª. Se você não tiver dinheiro para uma estadia, tome um chá da tarde (no salão em que a rainha realiza seu almoço de Natal) ou um coquetel no glamoroso bar, em tons de escarlate.

15 Beeston Place, Londres; thegoring.com

Paxton & Whitfield

O aroma pungente do queijo de crosta alaranjada (o nome stinking bishop [bispo fedorento] existe por uma razão) é o cartão de visitas desta loja, estabelecida em 1797. Sua ampla oferta de queijos artesanais (em sua maioria britânicos) abastece hotéis elegantes, grandes restaurantes e os mais sofisticados consumidores londrinos, além do palácio, com laticínios de primeira linha.

A rainha Vitória concedeu o primeiro "royal warrant" da Paxton & Whitfield como fornecedora de queijo da casa real, em 1850. A marca reteve essa honraria, com "royal warrants" concedidos pelo rei Eduardo 7º, pelo rei George 5º, pelo rei George 6º e pela rainha Elizabeth 2ª, bem como pela Rainha Mãe e pelo príncipe de Gales.

Uma novidade lançada neste ano é a Academia do Queijo, um curso de um dia de duração para os entusiastas do queijo. Dica: vá sem comer e peça amostras de produtos exóticos como o fleur de maquis, um queijo de leite de ovelha produzido na Córsega e temperado com rosmaninho e folhas de juníperos.

93 Jermyn Street, Londres; paxtonandwhitfield.co.uk

Floris

A Floris é uma companhia independente, sob controle familiar, que opera de instalações na rua Jermyn, onde foi fundada em 1730. Originalmente barbeiro, mas também perfumista, Juan Famenias Floris lançou uma fragrância refrescante de limão no final do século 18, e ela se tornou sucesso instantâneo, tanto pelo perfume agradável quanto como forma de combate ao fedor das ruas londrinas recobertas de lixo.

Logo outras fragrâncias florais surgiriam —rosas, lírios, violetas, jasmins—, e a loja as vendia em companhia de produtos para cuidados pessoais, e fragrâncias personalizadas criadas para clientes ricos.

A maioria dos detentores de "royal warrants" mantém sigilo sobre seus clientes, mas a Floris tem um pequeno museu nos fundos da loja com cartas e recibos assinados por aristocratas e figuras famosas como sir Winston Churchill; Ian Fleming (que menciona a Floris em diversos romances de James Bond); Marilyn Monroe; e a rainha Elizabeth 2ª. A Floris recebeu seu primeiro "royal warrant" do rei George 4º, em 1820.

89 Jermyn Street, St. James’s, Londres; florislondon.com

Henry Poole & Co.

Alfaiataria militar inaugurada durante as guerras napoleônicas, a Henry Poole se tornou a alfaiataria oficial da corte da rainha Vitória em 1869, produzindo as librés do pessoal do palácio. Depois que a alfaiataria passou a produzir as roupas do filho da rainha Vitória, conhecido popularmente como Bertie, sua popularidade disparou.

O relacionamento entre a alfaiataria e a família real criou o padrão black tie moderno. Em 1865, cansado de ter de vestir casacas formais e gravatas brancas em seus jantares, Bertie, que sempre se interessou por moda, pediu que Poole criasse um traje mais informal —"uma jaqueta curta de seda, com colarinho e mangas de seda; calças que acompanhem"— para receber convidados em sua casa de campo em Sandringham. Esse traje viria a ser conhecido como "smoking".

Poole também foi o primeiro alfaiate em Savile Row, a rua que concentraria as grandes alfaiatarias londrinas. A produção de ternos sob medida pela empresa (o processo requer três provas e entre 80 e 120 horas de trabalho manual) atraiu clientes internacionais como o czar Alexandre 2º da Rússia, sir Winston Churchill, Charles de Gaulle, o banqueiro J.P. Morgan, o editor William Randolph Hearst e o arquiteto Frank Lloyd Wright, entre outros.

A alfaiataria atendeu a todos os monarcas britânicos desde a rainha Vitória, o que significa que as librés da Poole foram usadas em todas as coroações, jubileus e casamentos da família real desde que a empresa recebeu seu primeiro "royal warrant", em 1869. Os interessados em moda podem agendar uma visita ao arquivo da loja, onde livros encapados em couro guardam detalhes de todos os clientes atendidos desde 1846.

15 Savile Row, Londres; henrypoole.com

Garrard

Estabelecida em 1735, a House of Garrard, que trabalha também com prataria, recebeu sua primeira encomenda da família real de Frederick, príncipe de Gales (um cabo de bule de ébano negro), naquele mesmo ano.

A rainha Vitória apontou a Garrard como joalheria oficial da casa real em 1843, e a empresa atendeu a todos os monarcas britânicos desde então, criando cinco coroas (ainda usadas em ocasiões de Estado) que podem ser vistas na Casa das Joias da Torre de Londres, uma cintilante exposição de adereços reais, entre as quais as joias da coroa. Os visitantes são conduzidos pela exposição em uma correia transportadora.

Além dos numerosos pedidos da família real, a Garrard é conhecida por requintadas tiaras, entre as quais a Cambridge Lover’s Knot, uma peça com 19 arcos nos quais diamantes emolduram grandes pérolas, criada para a casa real na era da rainha Mary; a peça é propriedade da rainha Elizabeth 2ª, mas foi emprestada a Diana, princesa de Gales; recentemente, ela foi usada pela duquesa de Cambridge.

Outra peça conhecida é a tiara Girls of Britain and Ireland, um diadema com diamantes redondos e em formato de losango, usada frequentemente pela rainha Elizabeth 2ª. A rainha está usando essa tiara na imagem dela que ilustra o dinheiro britânico.

As coleções atuais da casa são discretas, inspiradas pelo legado da casa real, mas orientadas à vida contemporânea. Você pode visitar o salão Rainha Mary, no piso superior (mas precisa agendar a visita), e ver quadros que mostram as coroas reais; a visita também permite experimentar tiaras que reproduzem as peças da coleção real.

24 Albemarle Street, Londres; garrard.com

Lock & Co. Hatters

Desde 1676, a Lock & Co. cria chapéus para a casa real e a aristocracia britânica. O negócio começou com a criação do chapéu bicorne, uma peça obrigatória para os militares da época, usada pelo almirante lorde Nelson na batalha de Trafalgar, em 1805; a casa inventou o chapéu-coco, popularizou o modelo fedora e o newsboy cap, e sempre foi a fornecedora de referência para cartolas (sir Winston Churchill usou uma cartola da Lock & Co., em seu casamento, em 1908).

A empresa continua a operar sob controle familiar e ocupa o mesmo edifício de quatro pavimentos desde 1759. Em 1933, a Lock começou a produzir chapéus femininos de gala (um tipo de produto muito popular no Reino Unido; a duquesa de Cambridge usou modelos criados pela empresa em diversas ocasiões formais), mas os modelos clássicos continuam a ser suas peças de maior sucesso.

Como no passado, as cabeças dos compradores são medidas por uma engenhoca vitoriana chamada "conformador"; os produtos são entregues em caixas de papelão e tecido produzidas à mão, que por si sós já são ótimos suvenires.

A empresa detém dois "royal warrants", o do príncipe Philip e o do príncipe Charles. A Lock & Co. formou uma parceria com a joalheria Garrard, também detentora de um "royal warrant", a fim de adaptar a coroa de George 4º à cabeça da rainha Elizabeth 2ª, para sua coroação em 1953, criando um novo forro de arminho e veludo púrpura para a peça.

6 St James’s Street, Londres; lockhatters.co.uk

Prestat

O legado exótico dessa fabricante secular de chocolates a ajudou a conquistar muitos clientes leais: John Gielgud, Cher, Tina Turner e Paul McCartney estão entre os famosos que foram à loja para experimentar os "fruity babes", chocolates com pasta de frutas, e os "ginger hunks".

Sarah Bernhardt, atriz francesa dos séculos 19 e 20, encomendou um chocolate com creme de violeta invertido, em 1910, que se tornou um clássico da Prestat e o chocolate favorito da Rainha Mãe. Um relacionamento famoso da loja foi com o escritor Roald Dahl, cuja paixão pelas trufas da Prestat valeu à loja um papel de destaque no romance "My Uncle Oswald" [meu tio Oswald] e aparentemente inspirou o livro infantil "A Fantástica Fábrica de Chocolate".

As trufas (William e Kate as serviram em seu casamento) são o grande sucesso da Prestat. A popping pink prosecco, recheada com vinho espumante, e versões contendo saquê Yuzu e gim londrino são as novas encarnações do produto, mas o clássico Marc de Champagne (feito com a receita do fundador da casa, Antoine Dufour, desde 1895) continua procurado.

A loja está fechada para reformas e deve reabrir na segunda-feira (21).

14 Princes Arcade, Londres; prestat.co.uk

Tradução de Paulo Migliacci

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