Descrição de chapéu The New York Times

Festival de festivais comemora o verão europeu

Eventos aproveitam chegada da estação para celebrar de barcos antigos ao jasmim

Embarcações no porto de Portsoy, na Escócia, no Festival de Barcos Tradicionais
Embarcações no porto de Portsoy, na Escócia, no Festival de Barcos Tradicionais - Andy Haslam/The New York Times
The New York Times

Festival do jasmim na França, festa medieval na Alemanha: para além dos conhecidos eventos de música e literatura da Europa, existe uma profusão de celebrações, das convencionais às exóticas.
 
Solstício de verão, Suécia

Há uma cena enraizada no inconsciente coletivo da Suécia: um mastro cruciforme envolto por folhas de bétula e flores, com duas coroas floridas pendentes dos braços da estrutura; uma longa mesa preparada para uma festa, na varanda de uma casa de campo; vasilhas repletas de morangos —os primeiros da estação; e os convidados, muitos dos quais usando guirlandas de flores, que vão cantar, beber e dançar até a madrugada, no dia mais longo do ano.

O solstício de verão é um dos feriados mais importantes do calendário sueco. As festividades começam na “midsommarafton”, ou véspera do solstício, sempre uma sexta-feira no final de junho. 

É nesse momento que, como diz a letra de uma canção do grupo de rock da Suécia Kent, “Bebemos a um novo solstício de verão/Batatas frescas e arenques/Como se o tempo parasse”.

A celebração tem um cardápio específico —batatas frescas, arenque em conserva e morangos— e uma lista de canções obrigatórias, entre as quais “Sma Grodorna” (“as pequenas rãs”), com uma coreografia que envolve saltitar em volta do mastro. 

Os tradicionalistas tiram do armário suas roupas folclóricas, e buquês de flores são transformados em coroas. A cerveja flui livremente durante todo o dia, e cada prato vem acompanhado por doses de aquavit (destilado de cereais ou batata) geladíssimo.

Quem não pode viajar ao campo participa de celebrações públicas nos parques das cidades do país ou vai ao festival de Skansen, um evento a céu aberto de três dias de duração, em um museu e zoológico de Estocolmo.

 
Festival do Jasmim, Grasse (França)

A cada agosto, a cidade medieval de Grasse, na Provença —também conhecida como a capital mundial da perfumaria—, para por três dias para prestar uma homenagem a uma das flores fragrantes que ajudaram a orientar o seu destino: o jasmim.

No Festival do Jasmim (o primeiro foi realizado em 1946), as casas de campo são decoradas com guirlandas, e o mesmo acontece em boa parte da cidade e sua praça central. As mulheres usam roupas com estampas floridas e tocam instrumentos medievais. E, nas ruas ladeadas por cafés rústicos, crianças assistem a espetáculos de marionetes com temas ligados às flores.

O principal evento é um desfile durante o qual um caminhão de bombeiros carregado de água com essência de jasmim circula pela cidade e encharca a multidão. 

Os carros do desfile circulam pelas ruas tortuosas, mulheres jovens lançam flores para os espectadores e homens de chapéu-coco caminham sobre pernas de pau pelas ruas cobertas por pétalas.

O lugar de Grasse na história do perfume é incontestável. Em séculos passados, a cidade foi um próspero centro de produção de couro, mas o curtimento deixava odores fortes nas peças produzidas. 

Um perfumista local ofereceu um par de luvas de couro perfumadas a Catarina de Médici, rainha da França entre 1547 e 1559, e com isso a indústria da perfumaria da cidade nasceu. 

Tanto o jasmim quanto a rosa de maio, ou de damasco, desempenharam papéis importantes no setor de perfumaria e em fragrâncias famosas.

As datas e informações sobre as festividades deste ano estão disponíveis no site do escritório de turismo de Grasse: grassetourisme.fr.

La Tomatina, Buñol (Espanha)

A Espanha é famosa por seu número de celebrações. Cada canto do país oferece seu quinhão de festivais, a maioria dos quais encoraja longas noitadas de comilança e bebedeiras prodigiosas.

Uma das celebrações mais amadas dos espanhóis é La Tomatina, uma imensa briga por arremesso de tomates realizada na minúscula cidade de Buñol, a 40 quilômetros de Valencia. O festival, que dura menos de duas horas e envolve o arremesso de quase 180 toneladas de tomates que passaram do ponto, é parte fixa do calendário espanhol de festas desde o final dos anos 50.

Realizada anualmente na última quarta-feira de agosto, a festa começa quando um presunto é colocado no alto de um pau de sebo, na praça central da cidade. Quando alguém consegue galgar e apanhar o presunto, caminhões abastecem os espectadores de tomates murchos. Os caminhões percorrem as ruas estreitas, e os participantes ficam confinados em espaços tão apertados que é praticamente impossível jogar um tomate sem acertar alguém. 

A Tomatina deste ano acontecerá em 29 de agosto. Depois que o número de participantes passou dos 50 mil, alguns anos atrás, as autoridades decidiram limitar o acesso à cidade aos 22 mil primeiros foliões que comprarem os ingressos vendidos por 10 euros.

Se você estiver pensando em ir, considere levar um visor de proteção para os olhos, um par de tênis velhos (eles terminarão na lata de lixo) e uma muda de roupas em uma sacola bem protegida. Depois da batalha, os moradores usam as mangueiras de suas casas para esguichar tudo e todos. Mais informações no site latomatin.info.

Festival Mediaval, Selb (Alemanha)

Selb, uma cidadezinha da Baviera, na fronteira com a República Tcheca, se transforma, durante quatro dias de setembro, em um reino de elfos, donzelas encantadas, guerreiros sempre dispostos a bater capacetes e comerciantes usando trajes medievais que oferecem todo tipo de produto, de vitrais a Mutzbraten, um prato bávaro de carne de porco com especiarias.

O Festival Mediaval (que neste ano acontece entre 6 e 9 de setembro) afirma ser o maior da Europa e segue a regra não escrita desse tipo de evento, combinando encenações vagamente baseadas em acontecimentos históricos e personagens e iconografia inspirados pelos mundos mágicos de J.R.R. Tolkien, “Game of Thrones” e o jogo Dungeons & Dragons, entre outros.

O evento também oferece cursos nos quais os visitantes aprendem, por exemplo, a fazer tinturas herbáceas de acordo com as receitas originais da visionária abadessa beneditina Hildegard von Bingen, além de aprender a tocar apitos de estanho e ter seus manuscritos avaliados pelo autor de literatura de fantasia Bernhard Hennen.

Um passe com validade de quatro dias custa de 90 a 111 euros (R$ 387 a R$ 477). O preço inclui espaço para acampar, ingressos para demonstrações de falcoaria, dança medieval e participação em um cabo de guerra gigante.

Festival de Barcos Tradicionais, Portsoy (Escócia)

Barcos de pesca e equipes de remo competirão na 25ª edição anual do Festival de Barcos Tradicionais da Escócia, que neste ano acontece de 30 de junho a 1º de julho, na cidade costeira de Portsoy, na parte norte do condado de Aberdeenshire (nordeste do país).

Famosa por seu pitoresco porto do século 17 e edificações de pedra, a aldeia costuma servir como cenário para comerciais de TV e filmes.

Mas, quando as águas locais ficam lotadas de elegantes barcos antigos, as câmeras se voltam em direção do mar.

Entre as embarcações que participam regularmente do festival estão o White Wing, um veleiro de 33 pés construído em 1917, e o Waterwitch, um barco de pesca de 1923.

O evento atrai ainda uma frota de barcos menores. Em meio às provas de remo e a visitas às embarcações de grande porte que chegam ao porto, os turistas podem até tentar pilotar barcos. Mais informações no site stbfportsoy.org.

Festival do Casamento, Galicnik (Macedônia)

Sob qualquer que seja o padrão, Galicnik é minúscula.

Apenas duas pessoas vivem durante o ano todo nesse assentamento montanhoso no maciço de Bistra, região remota a cerca de dez quilômetros da fronteira com a Albânia. 

Durante o Festival do Casamento, que a aldeia realiza todo ano —no final de semana mais próximo de 12 de julho, o dia de São Pedro para os cristãos ortodoxos—, a população do local explode. 

Milhares de viajantes e de antigo moradores lotam as casas penduradas nas encostas íngremes para três dias de festa, ritos, procissões e desfiles, culminando com o casamento de um casal, previamente selecionado, que tenha raízes locais.

“Tudo começou para que as pessoas da aldeia que se mudaram pudessem voltar para se casar, e com isso manter as tradições. Nos primeiros anos, dezenas de casamentos eram realizados”, disse Marko Bekric, neto dos moradores permanentes. O festival deste ano deve acontecer entre 13 e 15 de julho. Mais informações em galichnik.mk/GalichnikJ.
 
Festival da Cerveja, Pilsen (República Tcheca) 

Enquanto as cervejas ​pilsner, dunkel e outras lagers tradicionais continuam a ganhar terreno entre os fãs das bebidas artesanais, os consumidores mais curiosos começam a visitar a Europa Central para experimentá-las nos lugares em que foram criadas.

Os conhecedores recomendam uma visita a um dos pequenos festivais da região. Para os bem informados, um dos melhores é o Slunce ve Skle, ou “sol no vidro”, realizado em Pilsen, a cidade onde nasceu a cerveja pilsner.

Após estrear, em 2008, o evento foi realizado por alguns anos com apenas um dia de duração, um sábado na metade de setembro, no pátio da fábrica de cerveja Purkmistr. Desde 2017, o festival acontece na sexta e no sábado (neste ano, 21 e 22 de setembro.)

A combinação entre cerveja tradicional e técnicas de produção artesanal modernas cria um paraíso para os amantes da bebida e uma oportunidade de experimentar marcas que você provavelmente nunca mais verá. 

Em 2017, o Slunce ve Skle destacou cervejas de 78 produtores, de sete países. Mais informações no site slunceveskle.cz.

Vinho, fantasia e canções, Montmartre, Paris (França)

Os sinos da igreja mal anunciaram as 10h em Montmartre, um bairro arborizado em uma região de colinas em Paris, berço da arte moderna francesa e da vida noturna boêmia da cidade, mas o vinho e a festa já estão correndo.

Sob o pálido sol de outubro e com uma trilha sonora de melodias executadas em um órgão portátil antigo, multidões de pessoas fantasiadas galgam as ruas íngremes do bairro, pavimentadas com pedras, na colina que abriga o clube de música Lapin Agile e a casa em que o pintor Auguste Renoir viveu (hoje o Musée de Montmartre), até que chegam a um vinhedo.

Os convivas se vestem de bobos da corte e de oficiais do exército napoleônico. Alguns usam chapéus pretos de abas largas, capas pretas e lenços vermelhos  —o uniforme da République de Montmartre, uma associação local que existe há cem anos. 

Talvez não exista vinhedo na França que inspire tamanha folia por metro quadrado quanto o pequenino Clos Montmartre, plantado por organizações comunitárias nos anos 30 e operado pela prefeitura da cidade.

Ainda que o terreno tenha pouco mais de um décimo de hectare, que colher as uvas plantadas nele demore só um dia, e que a produção anual seja de apenas mil garrafas de vinho tinto e rosé, prensadas na sede da prefeitura local e vendidas no escritório de turismo de Montmartre, o festival deflagra dias de eventos musicais, artísticos, teatrais, gastronômicos e vinícolas no 18º arrondissement, o distrito boêmio de Paris.

Os participantes da celebração se inscrevem no site do festival (fetedesvendangesdemontmartre.com) para visitar o vinhedo com especialistas locais, participar de uma excursão ao cabaré Moulin Rouge e ver palestras culturais no Musée de Montmartre, antes de cambalear pelo "Parcours du Gout", uma trilha de cerca de cem barracas de vinho e comida em torno da basílica de Sacré Coeur, e de dançar na praça Louise-Michel.Neste ano, o festival está marcado para os dias 10 a 14 de outubro.

Festival das Trufas Brancas, Alba (Itália)

Impossível de cultivar e cada vez mais rara devido à mudança nas condições climáticas, a trufa branca de Alba cresce na região do Piemonte, noroeste da Itália, onde os trifolao (caçadores de trufas) empregam cachorros especialmente treinados para localizar e desenterrar os tubérculos de aroma intenso.

O outono é o pico da temporada de trufas, e é também a época em que multidões tomam a cidade de Alba para o festival anual da trufa, que neste ano acontece entre 6 de outubro e 25 de novembro.

O coração do festival, o Mercado Mundial de Trufas Brancas de Alba, ocupa um grande pavilhão coberto no centro da cidade, pavimentado com pedras. É para lá que os trifolao do Piemonte transportam suas cargas, para inspeção, medição, pesagem, julgamento e avaliação, de acordo com o valor da trufa no mercado mundial de commodities, que determina preços com base na qualidade e quantidade da oferta anual do produto.

É claro que poucos dos visitantes de Alba compram trufas por quilo. Mas os comerciantes permitem que os visitantes manipulem e farejem seus produtos, que variam de tartufi do tamanho de uma noz vendidos por menos de 100 euros (US$ 132) a raridades do tamanho de uma toranja vendidas por centenas ou milhares de euros.

Além dos vendedores de trufas, há barracas lotadas de produtos associados: queijo pecorino recheado com trufas, mel e óleos com aroma de trufas, ferramentas especiais para ralar trufas, e massas frescas sobre as quais aspergir as trufas raladas. Nos finais de semana, multidões assistem a demonstrações de culinária e a participações especiais de celebridades, desfrutam de degustações de vinhos e de corridas de jumentos, e assistem a encenações de cenas históricas realizadas em toda cidade.

E quanto a comer o ilustre tartufo bianco de Alba? Durante o festival, os restaurantes e até barracas de mercado locais servem praticamente qualquer prato acompanhado por trufas raladas. Informações no site fieradeltartufo.org.

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