Balonismo tira proveito dos famosos bons ares de Campos do Jordão

Circuito de aventura ganha fôlego com passeios de balão e arvorismo na cidade mais alta do país

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Luiz Antonio Del Tedesco
Campos do Jordão

​Não fosse um certo Manuel Rodrigues Jordão, dito brigadeiro, ter sido o senhor absoluto daquelas terras por muito tempo (reza a lenda que sem nunca ter lá posto os pés), talvez a cidade tivesse sido batizada como Nossa Senhora dos Bons Ares, Santo Antônio do Bom Clima, ou algo do gênero.

O brigadeiro era, porém, homem afamado. E ficou então Campos do Jordão.

Balão sobrevoa a região Campos do Jordão
Balão sobrevoa a região Campos do Jordão - Tarundu Balonismo/Divulgação

Mas o fato é que foi a qualidade de seu clima que fez a fama da cidade fundada em 1874. Já naquele final de século 19, era para lá que acorriam tuberculosos e os que sofriam de outros problemas pulmonares em busca das características curativas daquele ar. Depois surgiram os antibióticos, e a história mudou.

O ar jordanense, entretanto, continuou atraindo forasteiros. Luciano Gross Caetano, 39, é um dos mais recentes.

Gaúcho de Torres, cidade onde há 30 anos ocorre um renomado festival de balonismo, Caetano vive literalmente no ar: é piloto profissional de balão há dez anos.

Em dezembro de 2016, foi chamado para fazer um trabalho em Campos do Jordão. Apaixonou-se pela região e decidiu ficar. “Assim que pousei do primeiro voo, liguei para minha mulher em Torres e disse:

‘Pode arrumar as coisas que a gente vai se mudar’. É lindo voar aqui. O visual é fantástico, não conheço outro tão lindo no Brasil”.

A região montanhosa, cheia de florestas, agarrou o gaúcho, e, em janeiro de 2017, ele, a mulher e a filha já estavam morando na cidade.

Hoje, ele é o piloto da Tarundu Balonismo Adventure, que oferece voos turísticos o ano todo (R$ 650 por pessoa).

Quando decidiu começar a voar em Campos do Jordão, ouviu dos amigos balonistas do Sul que era “um louco”. Mas não entendia por quê.

Foi então que um desses amigos lhe perguntou com quantos quilos de gás tinha decolado e com quantos tinha aterrissado em sua primeira viagem. Ele saíra com 80 quilos e descera com 20. Esse era o problema. Pousara com pouca reserva.

Como a região é montanhosa e cheia de matas, e como o balão vai para onde o vento leva, há o risco de o gás começar a chegar ao fim quando o balão estiver em uma área onde é impossível aterrissar.

A cura da “loucura” era então bastante simples. Bastava ter um suprimento extra de gás. Caetano diz sempre voar com muita reserva. Seu balão é planejado para decolar com quatro tambores, mas ele sempre leva seis.

O voo do qual a reportagem da Folha participou durou duas horas, e foram usados apenas três tambores.
Além de levar um estoque extra de gás, o balonista ressalta o fato de o parque ficar perto do Vale do Paraíba, onde há muitos locais para pousar.

Cidade de maior altitude no Brasil (está a 1.628 metros acima do nível do mar), Campos do Jordão tem um clima ameno, o que, segundo Caetano, lhe confere uma vantagem em relação a algumas outras regiões quando o assunto é balonismo.

A diferença de temperatura dentro e fora do balão tem que ficar em torno de 70°C, e no teto do balão ela não pode passar de 120°C. “Num local de clima mais quente, no verão, é preciso aquecer muito o balão para que a diferença externa-interna seja de 70°C. Aí pode-se chegar perto de 100°C”, diz.

De todo modo, uma fita de segurança cai para dar o alerta quando a temperatura no teto do balão chega perto de 120°C. Aí é só começar a descer.

A duração dos passeios depende da intensidade dos ventos, mas os voos ofertados pelo gaúcho duram entre uma hora e uma hora e meia. As decolagens são feitas de manhã cedinho ou ao entardecer. 

Para quem é mais temeroso, uma opção é tentar o chamado voo cativo (R$ 90 por pessoa), em que o balão fica preso ao chão por cordas e pode subir até 50 metros do solo, dependendo do vento e das condições de segurança.

O parque Tarundu, que em tupi significa “em estado de graça”, oferece também outras atividades, como patinação no gelo, arvorismo, arco e flecha e passeio a cavalo.

O mais novo brinquedo é o “tubo insano”, um escorregador gigante, com 110 metros de comprimento e cheio de curvas, que sai do alto da montanha e no qual o visitante desliza enrolado num tapete.

Mas o mais radical é mesmo a tirolesa “high fly”. O turista precisa ter coragem de se jogar —amarrado a um cabo, obviamente— de uma torre de 50 metros de altura instalada no alto de uma montanha.

Provavelmente vai hesitar por um segundo na primeira vez, mas no meio do percurso de 780 metros, dividido em duas partes, já terá esquecido o medo e sentirá que a viagem até parece curta demais.

O ingresso que permite ao visitante utilizar os brinquedos quantas vezes quiser no mesmo dia custa R$ 250.

Vida cultural em estância vai além de Festival de Inverno

Muitos conhecem “apenas” o belo e arrojado auditório Claudio Santoro, sede há 49 anos do Festival de Inverno de Campos do Jordão, o maior encontro de música clássica da América Latina.

Mas nem todos sabem que em torno auditório, em uma área de 35 mil m2, estão distribuídas 85 esculturas da artista plástica Felícia Leirner (1904-1996). As obras formam o museu que leva o nome da artista, nascida na Polônia e que viveu no Brasil desde 1927, quase o tempo todo em Campos do Jordão.

Em 1978, quando o auditório estava sendo erguido, o governo do estado convidou a artista jordanense para instalar suas obras no espaço que envolve o auditório. Começava a surgir então esse enorme museu monográfico –apenas esculturas, e de uma única escultora.

Leirner começou então a transpor para o local as suas esculturas, feitas em bronze, cimento branco e granito. A própria artista cuidou da disposição dos trabalhos, que seguem cinco fases, segundo o período de produção: figurativa (1950-1958), a caminho da abstração (1958-1961), abstrata (1963-1965), orgânica (1966-1970) e recortes na paisagem (1980-1982).

Única mulher a ter sido aluna de Victor Brecheret (1894-1955), Felícia estudou no ateliê do escultor ítalo-brasileiro de 1951 a 1954 e colaborou com sua obra mais conhecida, o Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, em São Paulo.

Duas obras foram recentemente incorporadas ao acervo do museu. “Estudo sobre Pássaros”, em 2017, e, em 2014, a escultura em granito “Maternidade”, que mostra forte influência de Brecheret sobre sua obra e está posicionada logo na entrada do museu-parque.

Cercado de verde, o local é um misto de obra humana e da natureza. Uma tarde é pouco para visitá-lo.

O museu conta com um circuito sensorial para pessoas com deficiência visual e auditiva.

Campos também abriga a Casa da Xilogravura, que funciona num imóvel que pertencia a monjas beneditinas no bairro de Jaguaribe, perto do local de fundação da cidade. 

O pequeno museu é obra do “quixote” Antonio Costella, professor aposentado, que lecionou por 30 anos na Faculdade de Direito e na Escola de Comunicações e Artes da USP. Em 1978, o professor comprou uma casa que pertencia a monjas beneditinas e, em 1987, transformou-a na Casa da Xilogravura.

Costella mantém com recursos próprios o museu, onde expõe obras de artistas de várias partes do mundo e explica de forma didática não só a xilografia mas os diversos métodos de impressão de obras de arte (e de jornais e revistas também).

Há uma equipe de acolhimento no museu, principalmente para atender excursões escolares, e vídeos explicativos, mas muitas vezes é o próprio Costella que acompanha o visitante pelas várias salas do museu.

Além do acervo fixo, que conta com obras de 1.257 artistas, a Casa da Xilogravura recebe mostras temporárias.

O jornalista viajou a convite do Conselho Municipal de Turismo de Campos do Jordão
 

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