Bombinhas investe em ecoturismo para receber mais visitantes no frio

Em Santa Catarina, cidade turbina trilhas na mata com visões do éden e busca selo ambiental

Marcelo Toledo
Bombinhas (SC)

Os quase 200 degraus até a chegada ao mirante Eco 360º, na cidade catarinense de Bombinhas, são reveladores a cada passo. Conforme a subida se aproxima do fim, é possível observar fazendas de mariscos de um lado, no mar de dentro, sem ondas, e surfistas no chamado mar de fora, do outro.

Entre os dois há o istmo, faixa ligando a península ao continente e uma marca desse destino turístico que, com visuais como este, espera atrair mais visitantes também fora da alta temporada.

Chega-se ao mirante por meio de uma trilha leve, de 40 metros, por um trecho preservado de mata atlântica. Quando você atinge o pico, está 240 metros acima do nível do mar.

Menor município de Santa Catarina, com 36,6 quilômetros quadrados, dos quais 70% são área de preservação ambiental, Bombinhas vê, nos meses quentes, a sua população aumentar até 15 vezes: o número de habitantes salta de 18 mil para cerca de 300 mil.

Com 39 praias, das quais 26 de fácil acesso (até as outras só se chega por meio de trilhas ou embarcações), a cidade aposta no mergulho, na pesca, em passeios ecológicos e outros atrativos que independem dos banhos de sol e de mar para atrair público fora dos meses de pico.

“Trabalhamos para acabar com a visão de que há baixa temporada”, disse o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico da cidade, Carlos Cândido Silva. Mas, nos meses de verão, agradeça se ficar menos de uma hora no congestionamento, porque só há uma entrada para a cidade.

Já na baixa temporada, sem trânsito nem filas, os preços são menores em hotéis e restaurantes, segundo operadores de turismo locais. E até o peixe é mais fresco.

Em qualquer época do ano vale a visita ao Museu de História Natural Charles Darwin, que integra um complexo com aquário, mirantes como o descrito anteriormente e armamentos da Segunda Guerra.

Localizado na região da praia Canto Grande e implantado há 15 anos, o museu foi reestruturado nos últimos quatro, após um incêndio, informa o curador, Luís Eduardo Martins da Silva.

Logo na entrada, o visitante se depara com um torpedo de navio, uma mina submarina e uma artilharia antiaérea, que pertenceram a um navio brasileiro. As peças foram doadas para a criação do acervo local na década de 1980.

Se a preferência for mesmo por água, a cidade que é referência em mergulho ecológico (justamente porque pode ser praticado durante o ano todo lá) tem opções de experiências nesse esporte para principiantes e profissionais, na praia da Sepultura.

Apesar do nome, a bela praia dá ao turista a chance de ver muita vida colorida: há pequenos peixes e corais a poucos metros da margem.

Estudo envolvendo professores e alunos da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) busca diagnosticar a cobertura do fundo do mar na praia da Sepultura, para que o mergulho seja feito com aprendizado sobre a vida marinha.

“Estamos mapeando se é areia, alga ou esponja, além, é claro, de peixes e outros organismos e da temperatura da água ao longo do ano”, afirmou o oceanógrafo Ewerton Wegner, docente da Univali.

O binômio “tomar sol e entrar no mar”, regra no verão, tem restrições nos meses mais frios do ano na maioria das praias locais.

Não pela temperatura da água, que fica em torno de 22°C em junho e julho, mas devido à pesca da tainha, prática centenária repleta de lendas e regras que incluem proibição ao surfe, por exemplo.

A pesca também atrai turistas fora da alta temporada, que podem sair em grandes embarcações preparadas para isso e passar a noite pescando, a partir de R$ 80 per capita.

De olho também no viajante de fora do Brasil, o município de Bombinhas acaba de pleitear uma certificação internacional para duas de suas praias —Quatro Ilhas e Mariscal.

O selo global Bandeira Azul, criado pela FEE (Foundation for Environmental Education) e representado no Brasil pelo IAR (Instituto Ambientes em Rede), é um título ecológico que desafia autoridades e gestores de praia a alcançar padrões altos em qualidade da água, gestão ambiental, educação ambiental e segurança.
De acordo com a Secretaria de Turismo, 70% da economia de Bombinhas depende do turismo. Há cerca de 400 pousadas na cidade.

Para desenvolver o setor, a prefeitura adotou uma taxa de preservação ambiental, que é paga entre os meses de novembro e abril, de R$ 28,90 por veículo que entra na cidade.

A iniciativa gerou um fundo turístico de R$ 6 milhões, no último período, montante que segundo a secretaria foi investido na limpeza de praias, na compra de uma lancha para agilizar a chegada às encostas e na estruturação de trilhas.

Por sinal, as 13 trilhas catalogadas na cidade cortando a mata atlântica e passando por praias desertas têm atraído ecoturistas para Bombinhas.

Um desses circuitos, pelo parque municipal Costeira de Zimbros, foi testado pela reportagem da Folha.

São quatro quilômetros pela mata, com trechos de areia e algumas subidas íngremes, vencidos em caminhada de pouco mais de uma hora.

A trilha margeia a costa e passa por dez praias, algumas minúsculas, como a do Pasto, com apenas 20 metros de extensão, ou a do Casqueiro, com 35 metros. 

A maior é a Vermelha, com 618 metros de extensão, totalmente deserta, que encerra a caminhada. Vale a pena.

É possível cumprir a missão sem ser atleta, desde que a rota seja feita no ritmo próprio do turista, preferencialmente munido de garrafinhas de água e repelente. Não há uma barraquinha sequer no caminho, em nenhuma das praias.

Não é um roteiro recomendado para crianças pequenas. Uma placa instalada na entrada da trilha orienta o visitante a não se arriscar, por questões de segurança.

Há duas opções: fazer a rota apenas pela mata ou passando também pelas praias.

Na mata, alguns trechos chegam a ser pouco mais largos que um veículo de passeio, enquanto em outros a largura não alcança um metro.

A primeira parada da trilha, cujo ponto de partida é a praia de Zimbros, é a praia do Cardoso, que tem como característica principal uma areia mais grossa e fofa que a de Zimbros. Vale percorrer seus 285,5 metros de extensão com calma, observar as aves, curtir o silêncio e se preparar para a trilha até a praia da Lagoa, que recebe este nome por... abrigar uma bela lagoa. É a terceira das praias, após passar por Basílio.

A saída de lá até a praia Triste, a sétima da rota, compõe o trecho mais complicado do passeio ecológico. Além de íngreme na parte inicial, tem muita erosão na parte final, de descida.

Por isso, os guias recomendam que as pessoas não se aventurem a tentar fazer o caminho de bicicleta e que o visitante não faça o trajeto sozinho, caso não tenha experiência em atividades do gênero. Há locais de difícil acesso para eventual socorro.

A reportagem encontrou três grupos pelo caminho, um deles sem guia, que não sabia qual a direção correta a tomar em uma bifurcação —e sempre há uma.

Basta pegar à esquerda para alcançar a praia Triste, que não honra a denominação. Cercada por mar de um lado e morros e pedras de outro, tem uma paisagem que encanta os turistas.

“É muito bonita e tranquila”, disse a comerciante Priscila Mantovani, de Curitiba.

Antes de chegar à praia Vermelha, o viajante passa ainda pelas pequenas praias de Mauri e Santa que, somadas, têm 62 metros de extensão.

O percurso é feito todo dentro de uma das três unidades de conservação locais e apresenta bons cuidados ambientais. Guias encontrados no trecho portavam sacos para recolher lixo encontrado eventualmente no caminho.

Além dessa trilha, há outros seis passeios ecológicos mais frequentes em Bombinhas: da Galheta, da Sepultura, do Retiro dos Padres, de Quatro Ilhas, do Morro do Macaco e da Tainha.

Fazer o caminho de ida e volta a pé é bem custoso. São oito quilômetros e, possivelmente, na volta, o turista já terá consumido toda a água que levou. Uma alternativa oferecida por receptivos turísticos é voltar da trilha de barco. O visual é diferente. E não cansa.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.