Companhias aéreas tentam combater jet leg com spa em aeroportos

Áreas para passageiros ganham teto solar, cromoterapia e aula de meditação

Eric Rosen
Nova York | Bloomberg

Um estúdio onde o passageiro pode fazer alongamento. Sessões de meditação orientadas. Suítes de banho com terapia leve. Isso parece coisa de spa new age. Mas estamos falando do novo lounge de trânsito internacional da Qantas Airways no aeroporto de Perth. E ele foi projetado com um propósito em mente: ajudar os passageiros a combater o jet lag.

Área de relaxamento, com sofás para sonecas, da Air France, no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris  Divulgação 
Air France
Área de relaxamento, com sofás para sonecas, da Air France, no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris  Divulgação Air France - Air France/Divulgação

Essa é uma proposição especialmente relevante para a companhia de aviação australiana, que em março lançou um voo sem escalas entre Perth e Londres o qual, com 17 horas e 20 minutos de duração, está entre os mais longos do planeta. A Qantas não está sozinha: a Singapore Airlines acaba de estrear uma rota recorde que cruza 12 fusos horários, do aeroporto de Singapura a Newark, Nova Jersey, em um voo de 18 horas e 45 minutos.

Com o número cada vez maior de conexões diretas entre cidades, cada vez mais companhias de aviação dotam os seus lounges de recursos de bem estar. E a promoção desses serviços traz uma mensagem constante: se você quer dormir, dispense o champanhe.

“Os viajantes que fazem nossa rota de Perth a Londres ficam no ar por cerca de 17 horas, e por isso era importante melhorar sua experiência não só a bordo mas também antes e depois do voo”, disse Phil Capps, vice-presidente de experiência para o consumidor da Qantas.

O novo lounge de trânsito da empresa, construído especialmente para esse fim, atende apenas a passageiros de classe executiva na rota Perth-Londres. (Os passageiros Qantas Gold, Platinum e Platinum One desses voos também têm direito de acesso.) O projeto contou com a colaboração de cientistas do Centro Charles Perkins, da Universidade de Sydney, um instituto de pesquisas interdisciplinares que estuda o bem-estar e problemas crônicos de saúde, muitos dos quais apresentam sintomas semelhantes aos do jet lag.

Como a maior parte dos lounges de primeira linha das companhias aéreas, a nova unidade inclui serviços de spa e refeições gastronômicas. Mais notáveis são os detalhes que ajudam na “recuperação de voo” dos viajantes. Um pátio espaçoso conta com teto solar, para permitir a entrada de luz natural e oferecer mais vitamina D aos passageiros, o que promove um padrão de sono mais saudável.

As 15 suítes de banho do lounge são essencialmente banheiros privativos com pias mas sem vasos sanitários, e oferecem iluminação especial: aperte o botão “terapia luminosa/intervenção no relógio biológico” e a luz do espelho brilhará em uma frequência de cerca de 480 nanômetros, com uma cor azul forte. Esse comprimento de onda torna o passageiro mais alerta e mais desperto, de acordo com Yu Sun Bin, epidemiologista do Centro Charles Perkins.

“O voo de partida sai de Perth para Londres às 18h”, disse Bin, “o que quer dizer que o relógio biológico da maioria dos passageiros estará começando a registrar o final do dia”. A luz azul pode fazer com que o corpo acredite que está vivendo algumas horas mais cedo, mais perto do horário de Londres - uma maneira discreta de estimular o ritmo circadiano a se adaptar ao fuso horário de destino um pouco antes.

A Qantas também formou parceria com uma cadeia de spas chamada Bodhi J Wellness Spa Retreats, de Perth, para criar um estúdio no lounge, em que os passageiros poderão participar de sessões orientadas de alongamento, respiração e meditação, com 15 minutos de duração. De acordo com Bin, participar de atividades físicas leves pode elevar a probabilidade de que os passageiros durmam durante o voo, e reduzir seu jet lag na chegada.

Passageiro recebe massagem nos pés no aeroporto de Hom Kong
Passageiro recebe massagem nos pés no aeroporto de Hom Kong - Cathay Pacific

Mesmo o cardápio do lounge é estratégico. Para acompanhar as salsichas produzidas por um açougue artesanal de Perth, o restaurante oferece crudités (legumes fatiados), com alto teor de água, e embora haja vinho australiano disponível, os passageiros também encontrarão infusões de água com murta limão e salsa, sem açúcar, e uma estação que permitirá que preparem seu próprio chá, com chás e ervas locais.

“Os voos de longa duração significam que os passageiros ficam expostos a níveis mais baixos de umidade por períodos prolongados, e isso pode resultar em desidratação”, disse Monica Nour, nutricionista que está fazendo seu doutorado no Centro Charles Perkins. As opções de bebidas oferecidas não contêm cafeína, ela diz.

“Ao projetar o lounge, trabalhamos com alguns dos melhores cérebros australianos nas áreas de design, ciência e nutrição, para ajudar nossos passageiros a se sentirem melhor em sua jornada”, disse Capps, da Qantas.

A companhia está adiante dos concorrentes quanto à ciência do jet lag, mas outras empresas de aviação já estão dedicando atenção ao assunto.

Em três dos terminais da Delta Airlines, nos aeroportos Kennedy, em Nova York; Hartsfield-Jackson, em Atlanta; e Seattle-Tacoma International, a empresa formou parcerias com o Asanda Spa para oferecer massagens nos pés e pernas que ajudam a combater o jet lag, e tratamentos para os olhos que reduzem a fadiga.

O serviço mais conhecido do spa, a sessão Deepak Chopra Dream Weaver, acomoda o usuário em uma cadeira de gravidade zero e o equipa com fones de ouvido e visores especiais, para uma sessão de meditação orientada. “Ainda que não tenha sido especificamente criado para combater o jet lag, os comentários dos passageiros indicam que isso os ajuda a combater alguns de seus sintomas, entre os quais o sono ruim”, disse Gene Frisco, diretor executivo do Asanda Spa.

A Air France fez do wellness a peça central de seu lounge de classe executiva recentemente expandido no Terminal L do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. “Nosso novo lounge executivo tem 550 metros quadrados de espaço de wellness, o que representa a maior área de wellness entre todos os lounges da Air France”, disse Anne Rigail, vice-presidente executiva de experiência para o cliente da companhia.

O lounge inclui duas saunas privativas, grandes suítes de banho e um spa Clarins com duas salas de tratamento, e serviços gratuitos. Também há uma área de relaxamento, com sofás que permitem sonecas e iluminação especial que simula o céu noturno.

A maioria desses lounges orientados ao wellness deve ter custo mais baixo em sua área de comida e bebida, porque a ênfase está no chá e não no champanhe.

No novo lounge da Air France, a companhia oferece um bar detox, com chás da Palais des Thés e água Evian com infusão de verbena e amoras. “Tanto a água quanto os chás que servimos são hidratantes, revitalizadores e uma fonte rica de antioxidantes que podem minimizar alguns dos efeitos do jet lag”, disse Rigail. Mas o bar projetado por Mathieu Lehanneur para o lounge também oferecerá champanhe e vinhos finos, quando for inaugurado no mês que vem.

Em junho de 2016, os passageiros premium da Cathay Pacific Airways ganharam acesso a um novo espaço chamado Tea House, em um canto tranquilo do Pier Business Class Lounge, no aeroporto internacional de Hong Kong.

Criada em parceria com a Jing Teas, a Tea House é adjacente a uma área de relaxamento com 14 leitos diurnos semiprivados, e inclui um acervo de cerca de uma dúzia de misturas de folhas que o usuário pode escolher pelo cheiro. As descrições destacam os sabores e os benefícios para a saúde de cada mistura, que variam de melhor digestão (camomila) a ganho de energia (jasmin agulha prateada). Os chás são preparados por um especialista, de acordo com a preferência do passageiro.
 

E há a Qantas, com sua mistura “Rockpool” de rosela, murta limão e chá de laranja. A bebida talvez não tenha o brilho do champanhe, mas pode ser o truque de que você precisa para sobreviver a um voo de 17 horas.
 

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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