Daria para jogar sinuca lá em cima, diz repórter sobre voo de balão

Jornalista descreve a sensação de voar a 700 m do solo com vista da mata em Campos do Jordão

Luiz Antônio del Tedesco
Campos do Jordão

O dia estava clareando e o sol nem tinha se levantado quando saímos da pousada e vimos ao longe, lá no meio do vale, a enorme bola colorida surgindo em meio à bruma da manhã em Campos do Jordão.

Balão da Tarundu Balonismo Adventure logo após pousar ao pé da serra da Mantiqueira, em Campos do Jordão
Balão da Tarundu Balonismo Adventure logo após pousar ao pé da serra da Mantiqueira, em Campos do Jordão - Tarundu Balonismo/Divulgação

De início, a equipe apenas soprava o ar frio para dentro da bolsa com um megaventilador. Mas bastou ligar o maçarico na boca do balão e em poucos minutos o envelope de 6.000 m³ pôs-se na vertical, pronto para partir.

 

Os cinco passageiros foram embarcando aos poucos no cesto, enquanto o balonista Luciano Gross Caetano, abrindo e fechando a labareda, controlava o balão para que ainda não se descolasse do chão.

Bastou eu me abaixar um minuto para amarrar o sapato e quando me reaprumei estávamos já a um metro do gramado. Nenhum balanço, nenhuma turbulência.

A terra ia se afastando lentamente. Em poucos minutos estávamos a dezenas de metros do chão, em total tranquilidade. Daria para disputar ali uma partida de sinuca.

Começamos a ver de cima aquele mar de araucárias. Cobertas pelas árvores, as encostas das montanhas pareciam imensas ondas verdes.

Nos momentos em que Caetano não precisava ligar o maçarico, o silêncio era total. Só o chilreio dos passarinhos e o murmurejo das cachoeiras chegavam até nós. 

Usando a enorme labareda para mudar de altura, Caetano buscava uma corrente que nos levasse em direção ao vale, onde mais tarde aterrissaríamos.

De repente, zero vento. Apesar de totalmente livres, estávamos estáticos no ar, a 700 metros do solo, a 2.400 metros de altitude. Uma sensação de leveza incrível. 

Mais uns bons minutos se passaram e então, aos poucos, Caetano foi nos conduzindo em direção ao vale, avisando pelo rádio ao pessoal da caminhonete em terra qual seria nosso provável destino.

O balão descia lentamente, se aproximando das copas das árvores, à medida que nos dirigíamos ao descampado que seria o nosso local do pouso.

A cerca de 20 metros do solo, sobre uma encosta de montanha, o balonista jogou uma longa corda e dois funcionários em terra nos puxaram para uma área plana. Logo tocamos novamente o solo.

É muito diferente de voar em um avião. A terra está sempre ali, ao alcance dos olhos e da mão, sem intermediários.

“Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta”, escreveu o gaúcho Mario Quintana.

Se não o fez, ele teria amado voar em um balão.

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