Ariano Suassuna, Clarice Lispector e Manuel Bandeira conduzem roteiros pelo Recife

Programa da prefeitura oferece passeios baseados em escritores que nasceram ou viveram na cidade

João Valadares
Recife

Cresce o número de interessados em tours literários no Recife. Segundo dados da prefeitura, nos últimos seis meses, aumentou em 30% o total de turistas inscritos em passeios ligados à vida e à obra de escritores que nasceram ou viveram na cidade.

Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Ariano Suassuna e Gilberto Freyre, por exemplo, são temas de roteiros oficiais e gratuitos, que acontecem uma vez por mês como parte do programa Olha!Recife (olharecife.com.br).

Segundo Bráulio Moura, gerente de projetos turísticos da Secretaria de Turismo do Recife, a programação até o fim do ano já foi decidida. 

Em 15 de agosto, o roteiro seguirá os passos do poeta Ascenso Ferreira (1895-1965) pela cidade. Em setembro, será a vez do também poeta Carlos Pena Filho (1928-1960) e em outubro, a de Manuel Bandeira (1886-1968).

"É uma maneira de as pessoas se apropriarem da cidade a partir da literatura e criarem uma relação afetiva, para gerar preservação", diz Moura. 

Alguns pontos estão abertos para visitação também fora dos passeios. 

O sobrado número 263, da rua da União, casa do avô de Bandeira, onde o poeta passou a infância, por exemplo, virou o Espaço Pasárgada.

De segunda a sexta, sempre das 9h às 15h, o visitante pode visitar a biblioteca do local, que conta com manuscritos e edições originais dos livros do escritor. Ainda há uma curiosidade exposta: os óculos que pertenceram a Bandeira.

"...Rua da União / Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância / Rua do Sol / Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal / Atrás de casa ficava a rua da Saudade, onde se ia fumar escondido..."

O trecho, do poema "Evocação do Recife", é um passeio pela cidade da infância do poeta, ainda desconhecida por boa parte dos recifenses.

Na rua da Aurora, pertinho da rua da União, a estátua de Manuel Bandeira foi fincada à beira do rio Capibaribe.

Já no passeio guiado pela prefeitura, que conta com atores, os turistas ainda passam pela casa onde o escritor nasceu, na avenida Joaquim Nabuco, no bairro da Capunga.

Hoje, o imóvel, que já foi um bar, funciona como anexo de uma universidade particular.

O passeio acaba na rua São Francisco de Paula, no bairro da Caxangá, onde há casarões do século 19. Vale a visita ao ateliê de esculturas do artista Genézio Gomes.

Foi nessa via que Bandeira diz, também em "Evocação do Recife", ter tido o seu primeiro alumbramento.

"...Lá longe o sertãozinho de Caxangá / Banheiros de palha / Um dia eu vi uma moça nuinha no banho / Fiquei parado e o coração batendo / Ela se riu / Foi o meu primeiro alumbramento..."

No centro do Recife, na esquina da rua do Aragão com a travessa do Veras, fica o sobrado antigo de número 387, onde Clarice Lispector (1920-1977) viveu dos 2 aos 14 anos, quando sua família se transferiu para o Rio de Janeiro. O imóvel, fechado para visitação, pertence à Santa Casa. No ano passado, a Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) abriu um processo para tombamento da casa, que ainda não tem previsão para ser concluído. Há apenas uma placa indicando que ali morou, entre 1925 e 1937, uma das escritoras mais importantes do modernismo brasileiro. 

Há outras duas marcas de Clarice Lispector no Recife. A praça Maciel Pinheiro, em frente ao sobrado, abriga uma estátua dela com uma máquina de escrever no colo. A escola pública Ginásio Pernambucano, na rua da Aurora, onde ela estudou, recebe visitantes.

Gilberto Freyre (1900-1987), autor de "Casa Grande e Senzala", ganhou um roteiro caprichado. Aos sábados, sempre às 20h, há um passeio noturno de catamarã pelas águas do rio Capibaribe, cujo percurso é baseado em sua obra "Assombrações do Recife Velho".

A excursão dura aproximadamente uma hora e meia. Os ingressos custam R$ 60 para adultos e R$ 10 para crianças de até dez anos. Há cem vagas.

"O Recife tem um potencial muito grande para contar histórias. Temos patrimônio histórico espalhado por tudo que é canto. A gente precisa se apropriar disso para que a próxima geração possa usufruir melhor. O bairro do Recife, por exemplo, é um museu a céu aberto", diz Gilberto Freyre Neto, coordenador-geral de projetos na Fundação Gilberto Freyre.

Também há um passeio em homenagem a Ariano Suassuana (1927-2014), que tem tem início no Teatro Arraial, na rua da Aurora, inaugurado pelo escritor em 1997, quando exercia o cargo de secretário de Cultura na terceira gestão do governador Miguel Arraes. 

De lá, os turistas podem conhecer o parque de Santana, que hoje leva o seu nome. Ao lado, na rua do Chacon, no Poço da Panela, fica a casa onde Suassuana morou com sua mulher, Zélia, até a morte dele. Do portão de ferro, é possível avistar obras de arte no quintal.

 No Recife, há ainda o Circuito da Poesia. São 17 estátuas de bronze de vários poetas, escritores e músicos espalhadas por toda a cidade.

 

Olha!Recife
Passeio gratuitos; inscrições em olharecife.com.br

15 de agosto - roteiro baseado em Ascenso Ferreira; 14h às 16h30; saída da praça do Arsenal

22 de setembro - roteiro baseado em Carlos Pena Filho; 14h às 16h30; saída da praça do Arsenal

20 de outubro - roteiro baseado em Manuel Bandeira; das 14h às 16h30; saída da praça do Arsenal

17 de novembro - roteiro baseado em Solano Trindade; saída da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no bairro de Santo Antônio

Passeio de catamarã noturno baseado no livro 'Assombrações do Recife Velho'
Todos os sábados, às 20h; R$ 60 para adultos e R$ 10 para crianças de até 10 anos; embarque no restaurante Catamaran, no bairro de São José; tel. (81) 3424-2845

Espaço Pasárgada
Rua da União, 263; de segunda a sexta, das 9h às 15h; entrada gratuita; tel. (81) 3184-3165

Casa de Clarice Lispector
Rua do Aragão, 387, esquina com a travessa do Veras, ao redor da praça Maciel Pinheiro

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