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Mandela escreveu texto sobre África do Sul na Folha em 1994; leia a íntegra

Então presidente defendeu melhora da qualidade de vida para consolidar democracia em seu país

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São Paulo

Em 3 de novembro de 1994, a Folha dedicou a edição de Turismo para a África do Sul e pulicou um texto de Nelson Mandela (1918-2013). Naquele ano, no dia 27 de abril, Mandela foi eleito presidente do país após ficar preso por 27 anos. Chegava ao fim os 46 anos de apartheid.  

Símbolo mundial da luta contra o regime de segregação racial e Nobel da Paz, Mandela, afirmou que a consolidação da democracia em seu país era um desafio urgente e que só a a melhora da qualidade de vida dos sul-africanos garantiria a estabilidade política.

Capa do caderno de Turismo de 3 de novembro de 1994, com texto de Nelson Mandela
Capa do caderno de Turismo de 3 de novembro de 1994, com texto de Nelson Mandela - Gabriel Cabral/Folhapress

Leia o texto abaixo:

 

Passada a fase dos conflitos, país busca a reconciliação

NELSON MANDELA
ESPECIAL PARA A FOLHA 

O país caminhou um longo percurso desde os tempos de opressão. Um consenso nacional duradouro foi forjado, fundado em uma convicção de que a única forma de avançar é unir o povo em torno da reconciliação. Celebramos essas realizações porque estabelecem uma fundação sólida a partir da qual enfrentaremos o desafio de superar as privações sofridas por milhões de pessoas, e elas dão razão para a confiança de que as tarefas serão cumpridas.

Entre nossos desafios mais urgentes está a consolidação de nossa recém-adquirida democracia. Acima de tudo, nós entendemos que a democracia seria um ideal nobre e pio se não fosse acompanhada por programas concretos para melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos sul-africanos.

O sucesso de nosso Programa de Reconstrução e Desenvolvimento é crucial para a sobrevivência e desenvolvimento da democracia. Se nós não estivéssemos começando a atender com sucesso a questão de crescimento econômico, desenvolvimento e distribuição equitativa de riquezas para acabar com as iniquidades impostas pelo apartheid, nós não seríamos capazes de falar de maneira convincente sobre justiça e estabilidade social.

Nossa economia começou a mostrar sinais de recuperação –resultado, em grande parte, das realizações políticas que nós alcançamos. Isso, no entanto, não será fácil. Nós sofremos o problema de uma injeção lenta de investimentos estrangeiros, de inflação e de baixas reservas.

Entre os desafios que o governo enfrenta com sucesso está a criação de um ambiente no qual os pequenos e grandes negócios possam empenhar-se. Estamos comprometidos com a disciplina fiscal e com a administração prudente dos recursos nacionais.

Nossos esforços estão marcados pelo compromisso em envolver a sociedade como um todo. Essa é uma parceria que deve atender à reestruturação de nossas indústrias para torná-las mais competitivas no mercado internacional, melhorar a produtividade e conferir habilidades para os empregados.

É uma parceria com a qual não apenas o governo, mas também os negócios organizados e o trabalho estão comprometidos, e que está na base de nosso recém-formado Conselho Nacional de Economia, Desenvolvimento e Trabalho. Esse conselho será o berço de estratégias para um crescimento econômico sustentável e equitativo.

Sabemos também que, através de filtros da mídia internacional, o público pode ter a percepção de que o crime e a impunidade estão correndo soltos em nosso país. O crime é de fato um problema sério e que nos preocupa profundamente. Mas os desenvolvimentos mais importantes nesse sentido dizem respeito à transformação de uma força policial considerada pela maioria dos sul-africanos como ilegítima em uma baseada no policiamento comunitário.

No entanto, o que é necessário é implementar velozmente o Programa de Reconstrução e Desenvolvimento, para eliminar as causas de instabilidade e desconfiança do passado. Nós estamos determinados a ter sucesso em nossos esforços. E estamos confiantes de que, com o auxílio da comunidade internacional, conseguiremos.

Nelson Mandela, 76, é presidente da República da África do Sul. O texto acima é uma edição, especialmente autorizada para a Folha, de um discurso feito no Clube Nacional de Imprensa dos EUA.

Tradução de Fernando Rossetti

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