Descrição de chapéu The New York Times

Minúsculo, Montenegro tem tamanho ideal para férias curtas

Roteiro de oito dias contempla os alpes, ao norte, e a antiga capital, coração cultural do país

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Baía de Kotor, em Montenegro

Baía de Kotor, em Montenegro Susan Wright/The New York Times

Elaine Glusac
Podgorica (Montenegro) | The New York Times

​Ao planejar uma viagem de família a Montenegro, no segundo trimestre, me vi dizendo a amigos perplexos, que pouco conheciam sobre o país dos Bálcãs: “Imagine que você esteja em Veneza e saia navegando pelo mar Adriático; basta olhar para o leste e parar antes de chegar à Albânia”.

Mas, desde que o presidente americano, Donald Trump, descreveu o país em julho, em entrevista à rede de notícias Fox News, como provável gatilho da Terceira Guerra Mundial, e os montenegrinos como “muito agressivos”, as perguntas passaram a ser menos “mas onde fica esse negócio?”, e mais do tipo “mas o que acontece por lá?”

Para começar, há uma beleza natural dramática, com montanhas imponentes que emolduram a costa e inspiraram os venezianos do século 15 a batizar o território como Monte Negro.

Agora mais interessado em turismo —que responde por 20% da economia do país— do que em guerra, Montenegro atraiu mais de 2 milhões de visitantes no ano passado, três vezes sua população, de acordo com o escritório nacional de turismo.

Uma declaração do governo em reação à caracterização do país por Trump menciona a “política pacífica” de Montenegro, apontando que no conflito dos Bálcãs, na década de 1990, o país “foi o único Estado no qual não houve guerra durante a desintegração da antiga Iugoslávia”, da qual o Montenegro fazia parte.

Como neta de imigrantes montenegrinos e turista frequente na região, minha experiência com a agressividade dos moradores está limitada a ver porções imensas de comida servidas em meu prato, acompanhadas pela insistência dos anfitriões para que eu coma tudo.

Trump não estava errado, no entanto, quanto ao tamanho do país. O membro mais recente da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte), que declarou independência da Sérvia em 2006, é de fato minúsculo (13,8 mil km²). Pouco menor que o estado de Connecticut, nos EUA (ou quase duas vezes o tamanho da Grande São Paulo), ele tem o tamanho ideal para as férias curtas —no nosso caso, uma viagem de oito dias.

 

“Não dá para imaginar que um país assim pequeno tenha tudo —parques nacionais, montanhas, praias, vida noturna, história, mosteiros ortodoxos”, diz Nina Batlak, gerente de produtos da Super Luxury Travel, uma agência de viagens em Dubrovnik (Croácia) que oferece viagens a Montenegro. “E tudo isso se acomoda dentro daquelas fronteiras tão modestas.”

Muitos viajantes partem de Dubrovnik, uma cidade murada que atrai muitos turistas, no sul da Croácia, e fica a cerca de uma hora de carro da fronteira montenegrina. 

Mas descobrimos que ir de avião para a capital de Montenegro, Podgorica, nos deixava bem perto de diversas atrações —os Alpes Dináricos, ao norte; a costa do Adriático, ao sul; e os tesouros culturais de Montenegro central.

A maioria dos visitantes chega por mar, uma alternativa que permite evitar multidões e costuma ser popular entre os russos e ucranianos que viajam em busca de um clima mais quente. Comparado ao país vizinho do lado oposto do Adriático, Montenegro é “uma Itália de preço acessível”, diz Joanna Millick, diretora de vendas e jornadas privativas da MIR Corp., que organiza excursões pelos Bálcãs.

Cidades antigas como Herceg Novi, à beira da baía de Kotor, e Ulcinj, uma cidade murada próxima da fronteira com a Albânia, se espalham pela rodovia costeira de 110 quilômetros de extensão. 
Há muitos canteiros de obras, o que sugere que um movimento turístico muito maior está a caminho. Havia operários restaurando os antigos palácios venezianos à beira-mar em Perast.

Os palácios, e os fortes otomanos espalhados ao longo da costa, são testemunhas dos séculos de disputa por essa região estratégica entre as potências marítimas do século 14 à metade do século 19. (Montenegro só conseguiu ganhar acesso à sua costa, expulsando os otomanos e os austríacos, no final do século 19.)

Não que o turismo seja novidade. Afinal, na década de 1970, celebridades como Elizabeth Taylor e Sophia Loren repousavam em Sveti Stefan, uma vila peninsular transformada em resort, hoje sob controle dos hotéis Aman, e ainda muito querida dos ricos e famosos (o astro do tênis sérvio Novak Djokovic se casou no resort em 2014). 

Mas investimentos estrangeiros mais recentes alimentam o desenvolvimento da região, com resorts de luxo como o Porto Montenegro, em Tivat, que abriga um hotel Regent e uma marina para iates, e condomínios residenciais, parecidos com os de Miami, que cercam a parte murada de Budva, agora repleta de restaurantes e cafés.

 

Viajando rumo ao sul, mesquitas começam a se misturar aos mosteiros, e o tempo e o turismo parecem distantes. Em Stari Bar, uma cidade-fantasma do século 11 que no passado foi trocada entre os venezianos e os turcos, caminhamos em meio a ruínas desertas e encontramos uma gata que estava cuidando de sua ninhada de filhotes, acomodados em uma urna antiga.

Quando chegamos a Ulcinj, bem no sul do país, tínhamos a cidade murada exclusivamente para nós, do museu de arqueologia repleto de cerâmicas e entalhes em pedra romanos às relíquias otomanas. Também pudemos desfrutar do Pirate, um novo restaurante de frutos do mar com vista para o Adriático.

Para além das montanhas costeiras de Montenegro, por uma tortuosa e estonteante estrada, fica uma terra completamente diferente, rústica, pouco desenvolvida, que oferece verdadeiras pechinchas, como um sanduíche de salsicha cevapcici com 15 centímetros de espessura e preço de dois euros (R$ 10), no restaurante Kole, em Cetinje.

Cetinje, a antiga capital do reino de Montenegro, estabelecida no século 15, continua a ser o coração cultural do país. Um aglomerado de vielas exclusivas para pedestres, onde se vê estudantes pintando ao ar livre, cerca uma série de monumentos nacionais dedicados à arte e à história. 

Um ingresso combinado (vendido por 10 euros, ou R$ 48) oferece acesso a seis museus, entre os quais o Biljarda, que no século 19 servia de moradia ao rei favorito de Montenegro, o poeta e filósofo Petar 2º Petrovic Njegos. 

O nome da residência (Biljarda) é uma referência à mesa de bilhar importada pelo rei, a primeira do país. Ele morreu em 1851 e está sepultado em um mausoléu no monte Lovcen, na entrada da cidade.

O último rei do país, Nikola Petrovic Njegos, habitava um modesto palácio diante do Biljarda, até fugir do país em 1918, quando as forças austríacas conquistaram Montenegro na Primeira Guerra. Agora conhecido como Museu Rei Nikola, o palácio está cheio de tesouros, entre os quais urnas chinesas, tapetes persas, espelhos venezianos, mobília da Indonésia e retratos de famílias reais europeias.

No norte alpino de Montenegro, encontra-se ainda menos visitantes, comida mais rústica —o que inclui o kacamak, uma entrada que mistura batatas e queijo— e porções generosas: um pedido de trutas pescadas localmente, no restaurante Konoba, em Kolasin, o principal centro de esqui do país, trouxe à nossa mesa dois peixes de 30 centímetros.

“As montanhas de Montenegro são de fato a parte não descoberta dos Bálcãs, para a maioria dos americanos”, disse Diana Poindexter, especialista em Bálcãs na agência de viagens Wilderness Travel, que oferece uma excursão com foco na natureza do país. “Você faz trilhas sem encontrar pessoa alguma.”

Muitas das estradas na região são íngremes e tortuosas, com paisagens deslumbrantes, o que inclui o trecho entre Podgorica e o cânion Moraca, em Kolasin. Uma nova rodovia, que deve ser inaugurada em 2019, vai acelerar a viagem entre a cidade e as encostas de esqui. 

Há muitas acomodações disponíveis via Airbnb, para complementar os chalés de esqui em Kolasin e Zabljac, outra cidade de esqui nas imediações, que serve de portão de entrada ao Parque Nacional Durmitor, o maior dos cinco parques nacionais montenegrinos. Abastecíamos as acomodações alugadas com compras nas barracas que vendem vinho, mel e queijo caseiros à beira das estradas.

O rio Tara, com suas águas azul-turquesa, corta os Alpes Dináricos, criando o mais profundo cânion da Europa, a cerca de 1.300 metros de altitude, e oferece oportunidades emocionantes de rafting. Para visitar as regiões mais profundas do cânion, são necessários passeios de mais de uma tarde de duração. 

Excursões mais curtas e populares, a corredeiras de categoria 3 e 4, estão disponíveis no período diurno, a depender da temporada.

Por sugestão de nosso anfitrião em Zabljac, escolhemos a Rafting Tara-Triftar, dirigida por Goran Lekovic. 

Ao chegarmos ao rio, guias rivais, com rádios de emergência e musculatura digna de navegadores fluviais aventureiros, ofereciam um contraste interessante com Lekovic, que fumava sem parar, estava de sapatênis e limitava suas instruções de segurança “a todo mundo remando, pessoal”, quando nos aproximávamos das pedras. A despeito das aparências, ele nos pilotou com competência pelas águas turbulentas.

O almoço prometido como parte da excursão, que custava 45 euros por pessoa (R$ 217), foi um banquete de três pratos, feito em casa e incluindo cordeiro assado, servido na fazenda de Lekovic.

O rio passa pelo parque de Durmitor, que abriga 50 picos com altitude superior a 1.800 metros. Cristas de pedra calcária nua lançam reflexos sobre bolsões de neve, e encostas pedregosas e com vegetação rala conduzem a lagos escavados por geleiras e a riachos margeados por flores do campo. No feriado de maio, que celebrava o 12º ano de independência do Montenegro, percorremos trilhas com pouco movimento, mas bem sinalizadas, vadeamos riachos, passamos por sob cachoeiras e fizemos piqueniques à sombra dos rochedos, em bosques de pinheiros fragrantes.

“País novo”, sorriu o funcionário na bilheteria do parque, permitindo que os visitantes entrassem de graça por conta do feriado, “mas lugar antigo”. Povoado, eu diria, por pessoas curiosas sobre os estrangeiros e não agressivas com relação a eles.

Tradução de Paulo Migliacci

 

Pacotes

R$ 2.799
7 noites, na Maringá Turismo
Cruzeiro MSC Magnifica com partida em 2 de junho de 2019 em Veneza. Com paradas em Bari (Itália), Katakolon, Santorini, Piraeus e Corfu (Grécia) e Kotor (Montenegro). Preço por pessoa para cabine dupla interna com pensão completa. Não inclui passagem aérea

R$ 5.116
9 noites, na Gold Trip
Inclui passeio de um dia para Kotor e Budva, em Montenegro. Com três noites em Zagreb, três em Dubrovnik, na Croácia, e duas em Sarajevo, na Bósnia, todas com café. Sem aéreo

R$ 5.746
5 noites em Radovici, na Expedia
Pacote entre 2 e 7 de novembro. Preço por pessoa com hospedagem em quarto duplo e café da manhã. Inclui aéreo a partir de Guarulhos

R$ 12.508
5 noites, na Interpoint
Entre Dubrovnik, na Croácia (três noites), e Sveti Stefan, em Montenegro (duas noites). Com hospedagem em quarto duplo, café da manhã e traslados. Sem aéreo

R$ 17.303
8 noites, na Highland Adventures
Pacote em quarto duplo com café da manhã entre Liubliana, na Eslovênia (três noites), Split (duas noites) e Dubrovnik (três noites), na Croácia. Passeio de um dia para Montenegro. Sem aéreo

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