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História, religião e natureza são patrimônios da Etiópia

Sítios protegidos e parques nacionais norteiam viagem no Chifre da África

Igreja de Bet Abba Lybanos, ou casa de pai Libânio, escavada em rocha

Igreja de Bet Abba Lybanos, ou casa de pai Libânio, escavada em rocha Francesca Angiolillo/Folhapress

Francesca Angiolillo
São Paulo

A Etiópia ainda é, para muitos, um nome que significa apenas miséria.

De fato, a grande fome que atingiu o país nos anos 1980 produziu imagens em profusão para ocultar, por décadas, qualquer outra informação sobre o país.

No entanto há variadas razões para visitar essa nação do Chifre da África —europeus e americanos já descobriram isso. Em 2015 o país foi escolhido o melhor destino turístico do mundo pela rede de TV americana CNN; no ano passado, figurou entre os dez lugares a visitar segundo o guia “Lonely Planet”.

É um país com belas paisagens e uma grande concentração de sítios protegidos como patrimônio universal da humanidade pela Unesco —são 9 (8 deles culturais e 1 natural, o Parque Nacional do Simien). 

A Etiópia agrupa diferentes etnias. No sul e no leste, ao longo da fronteira com a Somália, somalis e oromos vivem em conflito, o que torna a região instável e perigosa. Os grupos amárico e tigrínio, do norte do país, dominam a classe política.

É o único país jamais colonizado no continente africano —os italianos tentaram no século 19 e durante o fascismo, na década de 1930. Das duas vezes, acabaram expulsos.

Por não ter sido colônia, o país adquiriu importância simbólica e tornou-se a capital da União Africana —organização no molde das Nações Unidas, com sede em Adis Abeba (pronuncia-se Ababa).

Por causa disso, também, o visitante vai sentir o choque cultural possivelmente de maneira mais forte do que em outros países africanos, moldados pelas matrizes coloniais.

A rota histórica pelo norte do país aqui proposta é a ideal numa primeira visita, pois apresenta boa parte da cultura etíope e pode ser feita em dez dias. 

Qualquer roteiro, porém, começa em Adis Abeba, a nova flor —é esse o significado do nome da capital do país no idioma oficial, o amárico. 

O visitante pode preferir um hotel no antigo centro da cidade, a Piazza —embora não haja uma praça propriamente dita—, ou, com mais conforto, embora mais distante, na região da Bole Avenue, parte mais moderna da cidade. 

Há ainda hotéis de redes internacionais, como Radisson e Hilton.

A capital da Etiópia requer de dois a três dias de visita. Comece indo ao Museu Etnológico, situado em um antigo palácio do imperador Haile Selassie, hoje campus da universidade de Adis Abeba. 

Ali é possível aprender o básico da cultura da Etiópia por meio de uma expografia que se baseia no ciclo da vida —infância; vida adulta; morte e além—, além de visitar os aposentos imperiais.

O museu tem ainda uma bela coleção de ícones religiosos, com destaque para as várias imagens do padroeiro, são Jorge —os etíopes são em sua maioria cristãos, muito fervorosos, da Igreja Ortodoxa Tewahido, o ramo ortodoxo local, centrado no culto à arca da Aliança. 

Dedique outro meio dia ao Museu Nacional, onde está Lucy, o fóssil de hominídeo mais antigo do mundo, com 3,2 milhões de anos. 

Não se deixe abater pelo aspecto às vezes depauperado dos museus; há muita informação preciosa neles e é preciso saber ver através da museologia carente de investimento.

Outros pontos de interesse são a catedral de São Jorge, nos arredores da Piazza, e o Museu dos Mártires do Terror Vermelho, dedicado às vítimas do Derg —a junta militar comunista que depôs o imperador Haile Selassie e que governou o país entre 1974 e 1987.

A próxima parada é Gondar, antiga capital do país. O passeio turístico básico é visitar as Termas de Fasiladas, um antigo rei. O grande fosso se transforma numa piscina na Epifania, uma das principais festividades do calendário religioso. 

Visite ainda a cidade-fortaleza de Fasil Ghebbi, uma sucessão de ruínas de antigos palácios às vezes chamada de “Camelot africana” —os etíopes não gostam muito do apelido eurocêntrico, e o chamam, para fins turísticos, de “Royal Enclosure”.

A belíssima igreja de Debre Berhan Selassie também vale a visita, por seus surpreendentes afrescos. Grave-os na memória. A luz é pouca, e fotos com flash não são permitidas.

De Gondar, pode-se partir também para uma expedição ao Parque Nacional do Semien, terra do babuíno-gelada. 

A seguir, vem Axum (pronuncia-se “aksum”), berço do cristianismo etíope. A religião teria nascido após a conversão do soberano local por dois fenícios resgatados de um naufrágio.

No Parque das Estelas erguem-se obeliscos da era axumita; sua origem e significado são incertos. Guias e um museu local dão conta de algumas hipóteses. 

Uma das estelas foi levada pelas tropas fascistas para Roma em 1937, sendo devolvida somente em 2005.

Axum é um local onde mito e história se confundem, sobretudo para falar de Makeda, a rainha de Sabá —as ruínas do que teria sido seu castelo são ponto de visitação de turistas.

Conta-se que Makeda, ansiosa por conhecer o sábio rei Salomão, foi a Jerusalém visitá-lo, regressando grávida. Menelik, seu filho com Salomão, ao viajar para conhecer o pai, teria trazido na volta a Arca da Aliança.

A arca, na qual Moisés conservou as tábuas com os Dez Mandamentos, acredita-se, está numa capela anexa à catedral de Nossa Senhora do Sião. 

Essa capela, que não se visita, é guardada dia e noite por um monge. Ele nunca sai dali, a vida toda, e é a única pessoa a pousar os olhos na relíquia. 

Por fim, Lalibela (pronuncia-se Lalibala). Se Axum é o berço da religião local, sua Jerusalém é essa cidade nas verdejantes montanhas conhecidas como “highlands etíopes”.

São necessários pelo menos dois dias para ver todas as igrejas de Lalibela —e você deve absolutamente ver todos os 11 templos, que não foram construídos, mas esculpidos na pedra, no século 13.

Conta a lenda que o rei Lalibela recebeu diretamente de Deus, num sonho, a ordem para erguê-las —e que, enquanto os homens trabalhavam durante o dia na obra, à noite os anjos a continuavam.

Cada igreja é diferente nesse conjunto sublime. A mais impressionante é Bet Giyorgis, ou casa de são Jorge. Em forma de cruz e isolada dos dois outros grupos de igrejas, é o principal cartão-postal etíope —e não é à toa.

 

Língua, o básico

O amárico é uma língua semítica indecifrável aos ouvidos latinos. Aprenda o básico; você vai pronunciar mal, mas mesmo assim seus anfitriões sorrirão

Selam Olá
Ebaqueh  Por favor, se dirigido a um homem
Ebaquich Por favor, se dirigido a uma mulher
Ebaquon Por favor, forma respeitosa 
(Betam) ameseguednadlahum   (Muito) obrigado ou obrigada
Yquerta Com licença; desculpe
Aználeu Desculpe
Algabanhem Não entendo
Ciao Tchau (sim, vem do italiano)
Makiato Café com leite (de novo, os italianos)
Faranji É você, o estrangeiro
Habesha O local, o etíope

 

Pacotes

US$ 1.692 (R$ 6.345)
7 noites, na Vast Ethiopia Tours (vastethiopiatours.com
Entre Adis Abeba, Jima e Gambela. Com regime de pensão completa (sem bebidas), passeios, traslados e guia falando inglês. Preço por pessoa. Não inclui passagem aérea  

US$ 4.790 (R$ 17.962) 
16 noites, na Highland Adventures (highland.com.br)
Com hospedagem em Adis Abeba, Bahir Dar, Arba Minch, Gondar, Axum, Lalibela, Debre Zait e Turmi. Inclui regime de meia pensão, passeios e voos internos. Preço por pessoa. Não inclui aéreo entre o Brasil e o país africano

US$ 6.318 (R$ 23.692) 
9 noites, na Maringá Lazer (maringalazer.com.br
Entre Adis Abeba, Bahir Dar, Gondar, Montanhas de Semien, Axum e Lalibela. Inclui café da manhã, 7 almoços e 7 jantares, seguro-viagem, traslados, e passeios. Preço por pessoa. Com aéreo a partir de Guarulhos (SP) 

€ 6.840 (R$ 29.275) 
11 noites, na Mundus Viagens (mundus.com.br
Com hospedagem em Adis Abeba, Mekele, Lalibela e num acampamento. Inclui café da manhã nas cidades e pensão completa no acampamento. Com aéreo interno, mas não a partir do Brasil

US$ 13.904 (R$ 52.140) 
11 noites, na Teresa Perez (teresaperez.com.br)
Entre Adis Abeba, Montanhas de Semien, Lalibela, Turmi e Jinka, com pensão completa (sem bebidas), trechos aéreos internos, traslados e passeios. Preço por pessoa. Sem aéreo a partir do Brasil

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