“A gente passa por essa vida sem ver nem metade das coisas...”, devaneou minha dermatologista na semana passada, enquanto examinava minha mão. Mas ela não se referia à minha pele, e sim ao que eu havia contado minutos antes: “Você foi a um resort erótico em Cancún???”
Sim, doutora. Fui ao Temptation Resort. E é isso mesmo que você ouviu, é um resort erótico. E, sabe, tem uma piscina onde cabem umas 200 pessoas e, lá embaixo da espuma e da safadeza, não dá para ver direito o que acontece. E essa mancha aqui na minha pele, fiquei preocupado...
Com sua lupa iluminada, a doutora riu e acabou com meu preconceito de pronto: “É limão. Talvez pimenta”. Aaaaah, tá. Realmente, o que eu bebi de chelada (cerveja com sal e limão), michelada (acrescente molho inglês e pimenta aos anteriores) e ojo rojo (junte molho de tomate a tudo aquilo) não está escrito.
Porque, além de ser erótico e com topless à vontade, o Temptation era também minha primeira incursão num resort all-inclusive (comida e bebida à vontade). Mas caramba! Parece uma sucursal dos melhores pecados capitais. É!
Aqui vai a sensação do ponto de vista masculino: as primeiras duas horas são bem interessantes. Mulheres de peito para fora para lá e para cá. Dos 21 (idade mínima permitida) aos 60. A maioria é formada por casais. Os maridos estão lá para olhar também, portanto não há estresse aí.
Do ponto de vista de feminino (andei perguntando): mas só tem silicone aqui??
Seja como for, há gente bonita no clube do Bolinha. Também há grupos de amigos, alguns pequenos, de 6 ou 10. Outros gigantes, de 200 pessoas, que vêm anualmente da Europa, EUA, Canadá, Colômbia, Argentina, Brasil e do próprio México —eis as procedências principais dos turistas ali.
O hotel tem 426 quartos e foi reformado há um ano sob a tutela do festejado designer egípcio Karim Rashid. O prédio principal foi reconstruído. Rashid o desenhou inspirado pelas “formas femininas”. As cores, vermelho, roxo, remetem à luxúria. Exato: nada que remeta ao sexo escapa do brega. Ainda assim, todos fazem.
No Temptation, há regras: não se pode fazer sexo na piscina, por exemplo. Se alguém diz não, é não. Se alguém reclamar que você incomodou, receberá uma advertência. Na segunda vez, será elegantemente retirado das dependências. Nudez é proibida. Só mesmos os peitos femininos e masculinos ficam à mostra, como nas praias europeias.
Mas pode-se assistir a vários casais transando nas varandas. Não sei se é proibido, mas eu vi. Não se trata de um hotel de swing, pois você pode ir sozinho, ou com um grupo de amigos homens. Isso se vê, mas não é a maioria.
O hotel tem sete restaurantes (e seis bares, mais um café com doces à vontade), todos bons, nenhum ótimo, e não consegue fugir da temática sexy. Pois veja os nomes: o asiático se chama Sutra; o italiano, Romanza; o de frutos do mar, Sea Flirt. A piscina se chama Sexy Pool (porque há uma Quiet Pool, graças!).
Também no quarto não se escapa da retórica. Em vez de “Não perturbe” x “Arrume o quarto”, temos “Hora do sexo” x “A festa acabou”.
Falando em escapar, difícil também é fugir da festa. Há DJs das 14h às 2h, então é bom vir com saúde para a festa do sexo. Isso não chega a atrapalhar o sono, mesmo que você esteja no prédio principal. Um, porque você deverá estar bêbado, dois, porque há janelas antirruído nos quartos.
Essa dica é preciosa caso você se empolgue com a ideia toda: a cada noite há uma festa, tipo “Colegiais e nerds”, “Super-heróis e vilões”, ou “A noite do branco”. E, como muitos dos hóspedes são reincidentes, todos trazem fantasias. Só mais ou menos 5% do pessoal não aparece a contento. De qualquer forma, há uma lojinha no térreo, que mais parece uma sex shop, que poderá prover os interessados.
A praia em frente ao Temptation é decepcionante. A faixa de areia é muito estreita, e o mar, pelo menos em outubro, estava repleto de vegetação no fundo. Por outro lado, quase ninguém do resort a frequenta, então é um bom lugar para recarregar as baterias. Garçons do hotel também servem ali, então é só relaxar e pedir drinques e mais drinques. O topless também é permitido na praia. E caiaques e veleiros estão disponíveis gratuitamente aos hóspedes.
Há uma série de outros passeios a se fazer em Cancún, todos pagos, e alguns saindo do próprio resort. Todos podem ser contratados no hotel, a partir de US$ 100 (R$ 378).
Logo em frente, por exemplo, há a Isla Mujeres, de onde saem barcos com música alta toda manhã. Mas não se empolgue. Isla Mujeres é só o nome, não é uma ilha cheia de mulheres esperando por você.
O jornalista viajou a convite do Temptation Resort
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