Descrição de chapéu Deutsche Welle

O mais novo monumento tombado em Berlim

Antiga estação de espionagem dos EUA foi um dos cenários da Guerra Fria na capital alemã

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Prédio em ruínas
Ruínas da antiga estação de espionagem dos EUA em Berlim, construída em cima de uma montanha de entulhos - Kirill Iordansky - 15.jul.2013/Reuters
Clarissa Neher
Berlim

​Dos arredores é possível ver de longe as ruínas impressionantes da antiga estação de espionagem da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA. Localizada num dos pontos mais altos de Berlim, em Teufelsberg, a Montanha do Diabo, a construção foi um dos principais cenários da Guerra Fria na capital alemã. Desde a década de 1990, o local estava abandonado e exposto às ações do tempo.

Agora, uma ação das autoridades dará nova vida à construção icônica. As ruínas da antiga estação de espionagem, assim como toda a montanha, com 120 metros de altura, sobre a qual ela foi construída, foram, no início de novembro, tombadas pelo patrimônio histórico de Berlim.

A Teufelsberg carrega consigo grande parte da história do século 20. A origem da montanha artificial de entulhos é no regime nazista. Em 1937, Adolf Hitler inaugurou no terreno a construção do prédio que abrigaria uma faculdade técnica militar. No final da Segunda Guerra Mundial, a construção foi implodida, e parte do material acabou sendo usado na reconstrução da cidade.

Localizado no meio do bosque Grunewald, o terreno e os restos da antiga faculdade passaram a receber, a partir de 1950, entulhos da cidade destruída nos bombardeios. Ao longo de 22 anos, 26 milhões de metros cúbicos de entulhos, ou seja, quase um terço das casas bombardeadas em Berlim, foram acumulados no local, dando origem à montanha Teufelsberg.

A natureza, ao brotar do meio dos escombros, fez o resto do trabalho para transformar aquele monte de concreto numa montanha verde.

Prédio em ruínas e grafitado
Ruínas da antiga estação americana de espionagem no Teufelsberg (a montanha do diabo), em Berlim, que funcionou até o início dos anos 90, e agora é usada por grafiteiros - Markus Schreiber - 16.out.2014/AP

Como estava no lado ocidental da cidade dividida após a guerra, no seu ponto mais alto, os americanos resolveram em 1962 construir uma estação de espionagem. As operações realizadas no local e os segredos descobertos a partir dali ainda são um mistério, pois os arquivos são mantidos em sigilo nos Estados Unidos.

Com a queda da União Soviética e a reunificação da Alemanha, em 1991, os americanos retiraram todos os equipamentos e entregaram o prédio à cidade. Desde então, diversos planos foram feitos para a antiga estação, que foi comprada em 1996 por investidores, com o intuito de construir um hotel e apartamentos de luxo no local.

Nada saiu do papel, e os investidores deixaram a estação virar ruínas até se tornar um paraíso para pichadores. Em 2004, após declarar o alto da montanha como região de proteção ambiental, autoridades proibiram a construção de novos prédios no local, jogando um balde de água fria nos planos para transformar a montanha num paraíso imobiliário.

Há cerca de quatro anos, a prefeitura de Berlim tentou recomprar o terreno e as ruínas, no entanto, os donos só aceitaram vender por um valor muito acima do de mercado. Atualmente, são organizadas visitas guiadas à antiga estação. Agora, com o tombamento da montanha, as ruínas precisam ser conservadas.

Um dos donos já reiterou que não pretende vender à cidade a sua parte e anunciou que a ideia é reformar a antiga estação para abrigar galerias de arte, além de disponibilizar mais espaço para a arte dos grafites, que já tomaram algumas das paredes das ruínas.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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