Sem destino: aventureiros transformam veículo em lar para viver na estrada

Casal troca 'home office' por 'road office' e já mora há dois anos dentro de uma minivan

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São Paulo

Impulsionados pelo desejo de morar na estrada, viajantes transformam veículos de todos os tamanhos em lar.

Os publicitários Elka Albuquerque, 29, e Luis Queiros, 30, trocaram o home office pelo “road office”. Há dois anos, o casal vive na estrada, dentro de uma Fiat Doblò, ano 2011.

Juntos há 11 anos, eles trabalharam na mesma agência até 2014. Cansados do escritório, pediram demissão e passaram a atender seus clientes de casa.

A preparação para a viagem começou dois anos antes de eles saírem de Manaus, onde moravam.

Juntaram dinheiro e, aos poucos, transformaram o carro em um motorhome —chamado por eles de Doblosa. 

O plano era viajar até o Sul do país pelo litoral e voltar depois de um ano. Mas, com três meses de estrada, os dois viram que daria para continuar tocando o trabalho à distância, usando um modem de internet e o wi-fi das paradas.

Sem previsão de retorno, eles já rodaram 23.560 km, passando por 15 estados —estão no interior de São Paulo.

Nesse tempo, perceberam também que pagam menos contas morando em um carro do que em uma casa. Juntando todas as despesas, gastam R$ 2.800 por mês. “Na estrada, vimos que precisamos de pouco para viver”, diz Luis.

Cada um tem apenas duas gavetas de roupas. O armário ocupa a parte traseira do veículo e guarda ainda o fogão e uma pequena geladeira.

O móvel serve também como base para a cama do casal. O colchão tem 1,65 m de comprimento —só 3 centímetros a mais que a estatura dos dois. E o espaço entre a cama e o teto do carro não permite que fiquem sentados sobre ela. “No começo, achamos que seria apertado, mas é confortável”, afirma Elka.

Para passar a noite, o lugar preferido de Elka e Luis são os estacionamentos de pousadas. Segundo eles, como esses estabelecimentos não estão acostumados a receber esse tipo de demanda, cobram um valor bem abaixo do praticado em campings.

Nesses lugares, conseguem ainda lavar roupa, na pia mesmo, e tomar banho —já ficaram no máximo dois dias sem entrar no chuveiro.

Também buscam locais para dormir pelo aplicativo iOverlander, no qual viajantes compartilham pontos seguros para estacionar o veículo, postos de gasolina 24h, campings gratuitos e pagos etc.

A dupla tem o cuidado de dirigir somente durante o dia e chegar ao destino ainda com o céu claro, para procurar com calma seu ponto de apoio.

A partir de agora, o casal terá mais autonomia e conforto. Elka e Luis acabam de trocar a Doblò pelo furgão Citroën Jumper, ano 2012, com 200 mil km rodados. Novamente, vão montar o motorhome do zero —desta vez ele terá banheiro.

O veículo custou R$ 55 mil, e os dois esperam gastar até R$ 15 mil para adaptá-lo. “Comprar pronto é absurdamente caro”, diz Elka. 

Equipado da forma como eles queriam, não encontraram nenhum motorhome usado por menos de R$ 150 mil. “Para um novo, então, o céu é o limite”, afirma ela.

Elka e Luis percorreram 23,6 mil quilômetros pelo Brasil -

O casal Rodrigo Coelho, 41, e Carla Sandim, 34, também preferiu montar o próprio motorhome, mas optou por um veículo um pouco diferente: um caminhão militar.

O Volkswagen Worker 15.2010 4x4 chegou a ser encomendado pelo Exército, mas sua compra acabou não sendo efetivada e, então, foi liberada para civis.

A dupla escolheu o veículo por ser forte, rodar em vários terrenos, ter manutenção fácil e aceitar qualquer diesel. Por essas características, ganhou o apelido de Mamute.

Juntos há dez anos, Rodrigo, fotógrafo, e Carla, produtora, trabalhavam viajando e mal paravam em casa. Mineiros de São João Del-Rei, os dois moravam no Rio de Janeiro.

“Em um ano, passamos só dois meses em casa, e ela começou a mofar”, diz Rodrigo.

Resolveram, então, viver sobre rodas, viajando o mundo. Eles saíram de São João Del-Rei em fevereiro deste ano e, em 19 de dezembro, estavam estacionados ao lado da lagoa Bacalar, no México. Com água doce em diferentes tons de turquesa, foi um dos lugares que mais gostaram de visitar até agora.

Quando chegaram à Cartagena, na Colômbia, optaram por mandar o caminhão de navio direito a Vera Cruz, no México. O objetivo é seguir por Estados Unidos, Canadá e, depois, Rússia. Estipularam a duração da viagem em cinco anos, tempo de validade da carteira de motorista brasileira —nesse caso, da categoria D, para caminhões.

O veículo, incluindo a montagem e todos os equipamentos, custou US$ 100 mil. Com 12,5 m², o Mamute é uma casa em miniatura: tem quarto, sala de jantar, cozinha, banheiro e lavanderia.

Para ter energia, o veículo não precisa estar ligado à rede elétrica. Conta com quatro baterias de 220 ampères, que são carregadas pelo movimento do caminhão e por placas solares instaladas no teto.

Em postos, os reservatórios de água são abastecidos: um de 200 litros para pias e chuveiro, e outro de 500 litros com água potável, que fica embaixo da cama para não congelar no frio. Com isso, o motorhome tem autonomia de pelo menos 15 dias.

O esgoto fica armazenado em um tanque e é despejado normalmente em postos.

Para o casal, o melhor de morar na estrada é encontrar pessoas e situações diferentes pelo caminho. “O que encanta não são as atrações visitadas, mas o inesperado”, diz Carla.

Quando eles passaram pela fronteira da Argentina com o Chile, encontraram uma mulher desesperada, de braços abertos, no meio da estrada. Francesa, ela buscava ajuda para resgatar seu carro que havia atolado quando tentava cruzar um rio congelado.

Anoitecia e a temperatura estava abaixo de zero, eles contam. Mesmo com medo, entraram no rio congelado e tentaram puxar o veículo.

“Se atolasse, ninguém conseguiria resgatar a gente”, diz Rodrigo. Mas, depois de muito esforço, conseguiram retirar o carro. “Foi emocionante.”

Carla e Rodrigo foram até a cidade de Bacalar, no México -


 

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