Sem destino: casal que viajou 18 meses em jipe resistiu a brigas e roubo

A meta de Nayara e Ricardo era chegar ao Alasca em um ano, mas mudaram a rota e curtiram o caminho

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São Paulo

​Antes de sair estrada afora é preciso planejamento, claro. Mas roteiros rígidos demais atrapalham justamente o melhor que uma viagem sobre rodas oferece: liberdade de ir aonde a vontade guiar.

A meta de Nayara Freitas, 27, e Ricardo Breda, 29, era percorrer de carro o continente americano de sul a norte em um ano. Administradores, os dois juntaram dinheiro e deixaram seus empregos no fim de 2016. Quatro meses depois, estavam na estrada, em um Land Rover Defender 110, ano 2004 —apelidado de Charlie.

O jipe custou R$ 60 mil. Para adaptá-lo, o casal gastou mais R$ 15 mil. Os bancos traseiros foram retirados para dar espaço a armários, um sofá e uma pequena cozinha.

O item mais caro foi o quarto da dupla: uma barraca de lona resistente, instalada no teto do veículo, que saiu por cerca de R$ 6.000.

Em 3 de abril de 2017, Nayara e Ricardo partiram de Limeira, no interior de São Paulo, rumo a Ushuaia, no extremo sul da Argentina. No primeiro mês, o foco era cumprir a meta de chegar ao Alasca dentro do prazo. Para dar conta do planejamento, dirigiam por muitos quilômetros e mal conheciam as paradas.

“Depois, fomos percebendo que já estávamos desempregados e a viagem estava acontecendo”, diz Ricardo. “Se a gente não chegasse ao Alasca, mas curtisse os lugares, tudo bem”, completa Nayara.

Com uma rota mais flexível, até a convivência entre os dois melhorou, eles contam. Não tinha mais briga por pegar caminho errado, a pressa para chegar não existia mais.

Quando começaram a viagem, eles namoravam havia um ano e só se viam aos fins de semana —Nayara morava em Limeira, e Ricardo, em São Paulo. Então, passaram a ser só os dois dentro de um jipe, juntos 24 horas por dia.

“A gente brigava por besteira, mas, depois, percebeu que não tinha para onde correr e administrou isso”, diz Nayara.

O casal não chegou até o Alasca, mas conseguiu estender a viagem por seis meses além do previsto. Isso porque os dois gastaram menos do que estava calculado. A previsão era desembolsar, em média, US$ 100 por dia. No fim, eles gastaram US$ 65, com todas as despesas incluídas —combustível, pedágios, alimentação, passeios etc.

Uma despesa importante na road trip do casal Nayara e Ricardo foi com campings, onde eles sentiam mais segurança para armar sua barraca. “Se a gente fosse planejar a viagem hoje, talvez escolhesse um carro em que pudesse dormir dentro dele”, diz Ricardo. 

Isso ampliaria as opções de pernoite —em postos ou até na rua. Além de evitar o perrengue que é montar uma barraca com chuva, vento ou frio.

A chegada de volta a Limeira aconteceu em 26 de outubro, após 18 meses de estrada. Nayara e Ricardo dirigiram 38 mil quilômetros, passando por 15 países até o México. 

Da Colômbia ao Panamá, tiveram de ir de avião e mandar o jipe dentro de um contêiner em um navio. Em alguns pontos, deixaram o veículo estacionado e voaram para visitar as ilhas de Cuba, Porto Rico, San Andrés e Galápagos.

De Vera Cruz, no México, enviaram o veículo em um navio cargueiro para Buenos Aires, na Argentina —o que, segundo eles, é mais barato e menos burocrático do que mandar a um porto brasileiro.

Durante a travessia do veículo, que durou um mês e custou US$ 1.500, os dois aproveitaram para rodar os Estados Unidos em um carro alugado.

Voaram para Buenos Aires para buscar o jipe e só depois que já estavam na estrada rumo ao Brasil perceberam que seus pertences tinham sido furtados. As trancas nos armários não adiantaram.

“Foi o único problema que tivemos. Cruzamos os países de forma tranquila. Na Nicarágua, ficamos com medo e passamos mais rápido do que gostaríamos, mas deu tudo certo”, diz Ricardo, referindo-se à violência no país por conta da repressão aos protestos contra o ditador Daniel Ortega, que começaram em abril.

Ficaram com medo também em uma das poucas vezes em que passaram a noite em um posto de gasolina, na Argentina. De dentro da barraca, ouviram muitos tiros durante a madrugada, bem perto de onde estavam.

Nayara preparou o spray de pimenta, e Ricardo, o canivete. Os disparos cessaram, e eles voltaram a dormir, depois de muito choro e reza. Pela manhã, descobriram que era apenas um homem treinando tiro em uma latinha.

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