Descrição de chapéu The Washington Post

Irmã mais velha de Notre-Dame, igreja de Saint-Denis é berço do estilo gótico

Basílica inspirou catedral atingida por incêndio; conheça outros templos centenários em Paris

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Mary Winston Nicklin
Paris | The Washington Post

Nada se compara à catedral de Notre-Dame, exemplar da arquitetura gótica no coração de Paris que foi atingido por um incêndio no dia 15 de abril. O monumento mais visitado da França recebia mais de 13 milhões de turistas por ano.

É cedo para dizer por quanto tempo Notre-Dame ficará fechada --o presidente francês Emmanuel Macron falou em cinco anos; especialistas dizem que a restauração pode demorar décadas.

Já que os turistas continuarão visitando a cidade, podem conhecer outros templos, que antes passavam despercebidos diante da catedral. 

Há, por exemplo, a igreja de Saint-Étienne-du-Mont. Ela fica à sombra do Panteão, no Quartier Latin, no topo de uma colina que honra santa Genoveva, a padroeira de Paris. Suas orações, ao que se diz, detiveram uma invasão da cidade pelo huno Átila, no ano de 451. (O sarcófago da santa está abrigado na igreja.) 

Exemplo da arquitetura gótica, a construção faz uma ponta no filme "Meia-Noite em Paris", de Woody Allen. O personagem de Owen Wilson é apanhado nos degraus da igreja por um carro antigo.

Há também a igreja de Saint-Germain-des-Prés, considerada a mais antiga da cidade. Trata-se de um monumento romanesco que avulta sobre cafés que definiram o bairro como um ponto de encontro para literatos do século 20.

Lá perto, a igreja de Saint-Sulpice foi imortalizada em "O Código Da Vinci", de Dan Brown; ela abriga afrescos do pintor Eugène Delacroix. 

Na Île-de-la-Cité, perto da Notre-Dame, Sainte-Chappelle foi construída no século 13 para abrigar relíquias sacras, entre as quais a Coroa de Espinhos, adquirida pelo rei Luís 9º. Dotada de 15 vitrais, a capela tem algo de relicário, uma caixa de joias erguida para guardar preciosidades.

Na margem direita do Sena, a igreja de Saint-Eustache, do século 16, representa uma mistura de estilos e serve de palco para concertos.

No topo de Montmartre, a basílica de Sacré-Coeur é uma adição até recente ao panorama da cidade (foi construída no século 19)e oferece vistas abrangentes de Paris.

Mas talvez o mais sacro dos locais seja aquele em que a arquitetura gótica nasceu, e que visitei recentemente: a basílica de Saint-Denis. O prédio, que serviu de modelo à catedral de Notre-Dame e era o sepulcro da realeza francesa, recebe 130 mil visitantes por ano. 

Saint-Denis, um subúrbio empobrecido na região norte de Paris, é considerado problemático desde tumultos raciais em 2005. Mas essa reputação está ficando de lado graças a projetos de arte de rua, muitas cervejarias artesanais e uma fazenda urbana. 

Reza a lenda que são Dionísio, o primeiro bispo de Paris, foi martirizado no ano 250 no local do atual Montmartre. De lá, ele caminhou por seis quilômetros, carregando nas mãos a cabeça decapitada, até tombar. A tumba, onde ele caiu, se tornou local de peregrinação. No século 8, o imperador Carlos Magno consagrou uma abadia no lugar e, no século 12, o abade Suger fez dela uma obra-prima.

"Suger era um gênio e criou o primeiro exemplo da arquitetura gótica", disse a guia Charlotte Pecheux. "Sua ideia era a de que Deus é o equivalente da luz e, por isso, era preciso entrar luz na edificação." 

A estrutura romanesca existente, sombria, se tornou um laboratório arquitetônico com abóbadas cruciformes para eliminar a necessidade de suportes para as paredes. 

Os antigos apoios deram lugar a vitrais. A inauguração da catedral atraiu uma multidão, que incluía o rei da França. Os presentes resolveram copiar a ideia em suas dioceses. O trabalho na Notre-Dame começou 20 anos depois.

"Era como a Disneylândia dos séculos 11 e 12", disse Pecheux, "com peregrinos forçando a entrada aos empurrões". Agora, quase ninguém visita as esculturas funerárias dos monarcas franceses que estão lá.

As 70 estátuas contam histórias de drama e intriga: a rainha Catarina de Médici forçou um artista, contratado para preparar a escultura que a representaria antes de sua morte, a deixá-la parecida com a Vênus de Botticelli.

A basílica sofreu danos durante a Revolução Francesa. Mas o arquiteto Eugène Viollet-le-Duc cuidou da restauração. Agora, enquanto Notre-Dame estiver sendo reconstruída, sua irmã mais velha, Saint-Denis, merece a visita.

Como visitar

Basílica de Saint-Denis
1 Rue de la Légion d'Honneur, Saint-Denis. Site: saint-denis-basilique.fr/en
O preço do ingresso é € 9 (R$ 39). As visitas com guia, gratuitas, são marcadas por formulário disponível no site

Sainte-Chapelle
8  Boulevard du Palais, Paris. Site: sainte-chapelle.fr/en
A entrada é gratuita no primeiro domingo de cada mês. O preço do ingresso é € 10 (R$ 44)

Igreja de Saint-Étienne-du-Mont
Place Sainte-Geneviève, Paris. Site: saintetiennedumont.fr
Para participar de visitas guiadas, é preciso estar às 15h em frente ao órgão

Igreja of Saint-Germain-des-Prés
3 Place Saint-Germain des Prés, Paris. Site: eglise-saintgermaindespres.fr
Os horários das missas estão disponíveis no site

Igreja de Saint-Sulpice
2 Rue Palatine, Paris. Site: pss75.fr/saint-sulpice-paris
Visitas guiadas (em francês) às 14h30 aos domingos. Visitas em inglês acontecem no primeiro domingo de cada mês às 12h30

Igreja de Saint-Eustache
146 Rue Rambuteau, Paris. Site: saint-eustache.org
Visitas guiadas gravadas; há fones de ouvido na recepção da igreja

Basílica do Sacré-Cœur
35 Rue du Chevalier de la Barre, Paris. Site: sacre-coeur-montmartre.com
A entrada na igreja é gratuita. Não há visitas guiadas, mas é possível fazer o download de um roteiro em áudio no site

Tradução de Paulo Migliacci

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