Montanhas na China oferecem bom ponto de vista do país

Não há, entretanto, como escapar de grandes cidades como Pequim, Xian e Xangai

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Amanhecer nas Montanhas Amarelas (Huangshan), no leste da China

Amanhecer nas Montanhas Amarelas (Huangshan), no leste da China Marcelo Leite/Folhapress

China

Prepare-se para rever seus conceitos sobre a temida China. A melhor maneira é viajar para o país que já vai dominando o mundo e buscar vê-lo do alto, incluindo no roteiro as montanhas peculiares de Huangshan, Guilin e Zhangjiajie.

A língua (mandarim) é impenetrável, verdade, mais ainda quando escrita. Os chineses, ruidosos, tumultuosos, flexíveis e um pouco folgados —bem parecidos com brasileiros. Nada que não se enfrente e resolva com boa vontade e um bom tradutor no celular.

 

Não há como escapar de Pequim, Xian e Xangai, por certo. A capital, onde se tropeça a cada esquina com o legado de milênios de história imperial e 70 anos da Revolução Comunista, continua obrigatória para começar a entender essa nação enigmática.

Detenha-se na fila quilométrica para o mausoléu de Mao Tse-tung (1893-1976) na praça da Paz Celestial. Milhares de turistas chineses, a maioria do interior, aguardam pacientes a vez de reverenciar o corpo embalsamado do Grande Timoneiro, indiferentes ao massacre ocorrido na praça, em 1989, e ao fato de seu comunismo já se encontrar mais bem enterrado do que ele.

É visível, quase palpável, o fascínio que o fausto imperial da Grande China, bem defronte na Cidade Proibida, exerce sobre a multidão. Ninguém parece se importar com as centenas, talvez milhares de câmeras de vigilância espalhadas pela praça.

Prosperidade, harmonia e longevidade são valores mais altos que a liberdade. A poluição do ar tampouco parece impossível de suportar, com a ajuda de máscaras onipresentes e remediada pela profusão de motonetas elétricas serpenteando entre automóveis de último tipo e entre pedestres nas largas calçadas.

Capacetes, regras de segurança, mão e contramão? Nem pensar. Crianças viajam de pé na plataforma, entre as pernas da mãe, nos silenciosos veículos de duas rodas que infestam as cidades chinesas.

Xian, na província de Shaanxi, com sua atmosfera igualmente poluída, também se impõe ao turista por abrigar o famigerado exército de terracota. Os milhares de guerreiros enterrados 22 séculos atrás para defender o imperador Qin no outro mundo estão hoje abrigados em três sítios arqueológicos sob estruturas do tamanho de estádios. A China começa ali.

Carros que entopem as ruas têm todos um aspecto de novos, de marcas europeias que tantos cobiçam e de marcas chinesas das quais ninguém ouviu falar —como os Nio, bólidos elétricos lançados para concorrer com os Teslas de Elon Musk. Os celulares de último tipo deixam iPhones com ar de carroças.

Ninguém usa dinheiro de papel ou cartão de crédito, exceto turistas. Tudo é pago com códigos QR no WeChat, o WhatsApp turbinado deles.

Os 1.200 quilômetros entre Pequim e Xian e outros tantos de Xian a Xangai podem ser cobertos em trens-bala, mas se recomenda a contratação de empresa de guias e reservas, como China Highlights ou China Tours, entre várias.

Não é fácil navegar o universo chinês quando a ideia é sair do roteiro Pequim-Xian-Xangai, onde escasseiam letreiros em inglês.

Ao longo do trajeto sucedem-se os elementos mais marcantes da China: canteiros de obras e árvores. Mesmo no campo veem-se dezenas de prédios aglomerados em construção, compartilhando gruas e guindastes. E muitas plantações de árvores que serão transplantadas já adultas para as limpíssimas e ajardinadas zonas urbanas.

A primeira parada foi nas cidades de Zhangjiajie (província de Hunan), perto da Tianmen, a Montanha do Céu (1.518 m), célebre como cenário de algumas sequências do filme “Avatar”. Escolhemos a segunda semana de maio para viajar, tentando driblar as multidões dos feriados de Primeiro de Maio, mas tivemos azar com a meteorologia, que escondeu Tianmen entre brumas e chuvas.

Nem por isso deixou de valer a pena. Ainda que só brevemente vislumbrados, os monólitos delgados de calcário (carste) ofereceram as primeiras visões de panoramas que até então pareciam improváveis frutos de imaginação nas gravuras chinesas contempladas em museus europeus e americanos.

Serviu, além disso, como adaptação para controlar a vertigem ao caminhar sobre a plataforma de vidro pregada na rocha feito prateleira. Como a névoa impedia os viajantes de enxergar o fundo do precipício, a impressão era de caminhar sobre nuvens.

Um dia depois, com alguma chuva, mas sem nevoeiro, veio a prova de fogo: atravessar a ponte de vidro de 400 metros sobre um riacho 300 metros abaixo, no que os locais chamam de Grand Canyon. A passarela suspensa tem 6 metros de largura e em pelo menos metade disso o piso é de vidro.

 

Como num voo de balão, a sensação de irrealidade mantém a vertigem sob rédeas (poucos se agarram ao parapeito na lateral). O vazio sob os pés surge meio abstrato, como se a caminhada ocorresse sobre uma tela de cristal. Impressiona ver os rochedos quase verticais ao lado, com uma cachoeira que se projeta do interior da pedra.

Um passeio curto de barco pelo lago Baofeng permite contemplar novas formações de carste de uma outra perspectiva, a partir de baixo. A folhagem reconstituída pelas águas da primavera recobre as montanhas de um verde intenso, fresco.

A etapa seguinte conduziu a Guilin, cidade pequena para os padrões chineses (1 milhão de habitantes) na região autônoma de Guangxi, pontilhada de rios e lagos.

De qualquer prédio mais alto se avistam sequências de morros arredondados que brotam de modo independente do chão, como se não fizessem parte do mesmo fenômeno geológico.

A melhor maneira de contemplá-las pede um cruzeiro pelo rio Li, que pode durar mais de quatro horas e incluir almoço. A comida a bordo é razoável, mas sem qualquer preocupação de agradar ao palato de ocidentais, raros por ali.

A sucessão de montanhas inclui a famosa dupla que adorna o verso das notas de 20 iuanes.

Do centro de Guilin, em menos de duas horas de carro se alcança a área de terraços de arroz de Longji, outra paisagem chinesa espantosa, neste caso obra humana. Nosso destino era a vila Longsheng, na região das minorias Yao, Zhuang e Miao, com seus peculiares arranjos de cabelo.

Do mirante no ponto mais alto se caminha para a vila através dos próprios terraços.  A cada curva e escada as linhas se alteram, volutas e arabescos que parecem esculpidos com cinzel na encosta, ou traçados com pincel na caligrafia monumental de uma civilização desconhecida.

Não, tudo por ali é trabalho daquela gente miúda e pobre que durante séculos levou a cultura de arroz para mais perto do céu. Hoje, explica o guia Jason (todos eles adotam prenomes anglo-saxões), essa modalidade laboriosa de cultivo sobrevive só com subsídios do governo, interessado em preservar o magneto para turistas. Ainda bem.

No mesmo passeio se pode almoçar numa casa da vila e assistir ao preparo de um cozido típico que leva pipoca de arroz frito, amendoim, folhas de chá verde, gengibre e alho.

Outra especialidade local é arroz com bacon assado sobre brasas dentro de gomos de bambu. Para acompanhar, licores ralos feitos de arroz ou de maracujá.

 

Guilin pede também um passeio pelo mercado da cidade, para quem tem curiosidade e estômago robustos. Além da infinidade de cogumelos e de pimentas em espécie, pó ou molho, há patos, galinhas, peixes e rãs para escolher e abater na hora, e dezenas de tipos de tofu.

O próximo destino foi Huangshan, na província Anhui, as Montanhas Amarelas aclamadas como patrimônio natural pela Unesco. O nome engana, porque as formações de granito não têm essa cor, e todas as superfícies menos verticais estão cobertas de pinheiros típicos da região de um verde escuro com galhadas horizontais.

Se for, prepare os joelhos e as panturrilhas. Mesmo partindo pelas trilhas mais fáceis a partir dos hotéis no alto da montanha, enfrentam-se milhares de degraus.

Nosso percurso, todo ele calçado em pedra, abrangeu mais de 10 quilômetros e o equivalente a 60 andares de elevação em quatro horas e meia de passeio.

Vale cada gota de suor —e as dores musculares, depois. No esforço de emprestar ordem à fantástica profusão de escarpas, a fértil imaginação chinesa dá nomes para quase tudo. Há árvores apelidadas de guarda-chuva e rochas comparadas com águias, homem e tigre em luta e macacos a contemplar a paisagem.

Recomenda-se também alguma paciência. Huangshan atrai grupos e mais grupos de turistas chineses, com seus guias a tonitruar por alto-falantes portáteis. Estraga qualquer tentativa de contemplação ser apanhado no meio de um desses grupos, o que acontece várias vezes. Mas o lugar é tão bonito que a pessoa logo se convence do direito e do privilégio de todos estarem ali.


PACOTES

US$ 999 (R$ 3.861)
5 noites na China, na Top Brasil Turismo
Preço com saídas de 16 de novembro a 13 de janeiro. Duas noites em Pequim e três em Xangai. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui passeios e passagem de trem entre as duas cidades. Sem aéreo

US$ 1.314 (R$ 5.079)
7 noites na China, na Schultz
Quatro noites em Pequim, duas em Xangai e uma em Xian. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui seis almoços, passeios e traslados. Sem aéreo

US$ 1.408 (R$ 5.443)
7 noites na China, na CVC
Três noites em Pequim, duas em Xian e duas em Xangai. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui cinco almoços, passeios, guia em espanhol e transporte. Sem passagem aérea 

US$ 1.695 (R$ 6.552)
7 noites na China, na RCA Turismo
Três noites em Pequim, duas em Xian e duas em Xangai. Quarto duplo, com café da manhã e cinco almoços. Inclui passeios. Sem aéreo

US$ 2.545 (R$ 9.838)
9 noites na China, na Venice Turismo
Três noites em Pequim, duas em Xian, duas em Xangai, uma em Guilin e uma em Guangzhou. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui passeios, oito almoços, entradas para as atrações, traslados, guia em espanhol e seguro de assistência de viagem. Sem aéreo

US$ 7.219 (R$ 27.907)
10 noites na China, na Teresa Perez
Três noites em Pequim, duas em Chengdu, duas em Xangai e três em Hong Kong. Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui passeios em inglês. Sem aéreo. Válido até 20 de dezembro

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