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Vinícola na Itália propõe diálogo entre obras de arte e natureza

Donos do Castello di Ama, na região da Toscana, convidam artistas a criar a partir de experiências no local

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Vila de Ama, com casas construídas do século 12 ao 18

Vila de Ama, com casas construídas do século 12 ao 18 Divulgação

Siena (Itália)

Uma pequena Inhotim. É assim que os visitantes brasileiros costumam definir a vinícola toscana Castello di Ama. A associação com o prestigiado museu mineiro a céu aberto faz sentido. 

Como o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, mas em escala muito menor, o Castello di Ama reúne uma coleção preciosa de arte contemporânea. Tanto em um quanto no outro, essas obras estão espalhadas por campos e construções, propondo um diálogo entre arte e natureza.

Não existe propriamente um castelo em Ama. A vinícola ocupa a grande maioria dos prédios desse pequeno centro na comuna de Gaiole in Chianti, na província de Siena

Cercado de vinhedos e olivais, o vilarejo é habitado só por cinco pessoas, três delas funcionários da vinícola. 

Suas vilas (casas senhoriais) e capelas datam do século 12 ao 18. Nelas e nos jardins, há a vinícola em si, um hotel de charme, um restaurante, loja com espaço para degustações e trabalhos importantes de artistas como o francês Daniel Buren, mestre da arte conceitual, as escultoras Cristina Iglesias (espanhola) e Louise Bourgeois (franco-americana, 1911-2010) e o premiado indiano Anish Kapoor.

A arte hoje é um forte atrativo para os turistas. Mas no princípio de tudo está o vinho. 

Fundada nos anos 1980 por um grupo de investidores de Roma na região original da produção de chianti, a vinícola sempre investiu em qualidade, mas foi na mão de Lorenza Sebastini e Marco Pallanti que adquiriu o status de cult.

Filha de um dos fundadores, aos 15 Lorenza se apaixonou pela propriedade que o pai comprara e decidiu viver ali. Ele, porém, fez com que Lorenza terminasse os estudos antes, e só em 1987, aos 22, ela se mudou para a vinícola. Aos 29 era a diretora-executiva.

Enólogo formado pela Universidade de Bordeaux, Marco chegou a Ama no início da década de 1980. “Não pude deixar de me encantar com a beleza que estava ali diante dos meus olhos”, escreve ele sobre a experiência no livro “Growing and Guarding”. 

Lorenza e Marco se apaixonaram pela terra e um pelo outro. Por três décadas foram um casal. Hoje estão separados, mas ainda são um time. 

Desde o início, investiram para subir a qualidade do vinho em uma região na época desacreditada devido à baixa qualidade dos chianti da garrafa de palhinha.

Foi deles o projeto Castello di Ama per l’Arte Contemporanea (castelo de Ama pela arte contemporânea). Em 2000 chegou a primeira peça, “L’Albero di Ama. Divisione e Moltiplicazione dello Specchio” (a árvore de Ama. Divisão e multiplicação do espelho). 

A escultura de Michelangelo Pistoletto, um enorme tronco de árvore com uma fenda espelhada, foi criada especialmente para a adega medieval subterrânea onde ficam as barricas de carvalho.

Os artistas são sempre convidados a passar um período na propriedade e a criar ali suas obras. “Assim como o vinho, as obras têm de expressar o local”, diz Lorenza. 

“O artista tem de se hospedar conosco, acompanhar o trabalho, sentir a terra. As obras traduzem a alma de Ama. Não tem como olhá-las sem olhar o entorno.”

Um grande exemplo disso é a obra do francês  Daniel Buren, “Sulle Vigne: Punti di Vista” (nas vinhas: ponto de vista), de 2001, uma parede de espelho, que reflete os jardins e as construções, com janelas para os vinhedos. 

“O resultado é a quintessência de um quarto com vista”, interpreta o curador, Philip Larrat-Smith, e complementa: “A experiência ampliada de um local refletido no prisma das nossas percepções.”

Vinho, arte, azeite, comida, a estadia no hotel, tudo para Lorenza tem de ser uma experiência que traduza aquele local único com o qual se envolveu aos 15 anos. 

O hotel fica em uma vila toda decorada com antiguidades. Algumas peças contemporâneas, como as luminárias dos brasileiros Irmãos Campana, são salpicadas pelos espaços e  trazem o hóspede para o presente. Das janelas das suítes vê-se a vila, os vinhedos e as obras de arte. As diárias partem dos € 300 (cerca de R$ 1.280).

No restaurante, que abre para almoço e jantar todos os dias menos às terças-feiras, o visitante —que não precisa ser hóspede— encontra a típica cozinha toscana, muito bem feita, mas simples. 

Os ingredientes são na maior parte cultivados ali mesmo na propriedade. A refeição sem vinho sai por cerca de € 30 (R$ 128). Também é possível fazer um tour guiado com degustação da bebida por € 50 (R$ 213). Ou passear por conta própria pelos campos do Castello di Ama sem pagar nada.

Propriedade foi pioneira no uso de uvas estrangeiras

Na sala de barricas onde envelhece o vinho L’Apparita, há uma obra do sul-africano Kendell Geers, em neon, que combina as palavras revolution (revolução) e love (amor). 

Os vinhos de Marco Pallanti de fato representaram uma revolução na região que, em 1996, recebeu o DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida) Chianti Classico, em alusão ao fato de ser a zona original de produção de chianti. Ele foi um dos primeiros a adotar práticas modernas de campo e pioneiro no uso de uvas internacionais na região. 

Entre seus rótulos está o Castello di Ama San Lorenzo Chianti Classico Gran Selezione DOCG 2011.

Segundo mais barato entre os tintos do lugar, esse chianti clássico tem predominância de sangiovese, um tanto de merlot, outro de malvasia nera. No Brasil, custa R$ 483,08, na Mistral.

Já o ícone da vinícola, o Vigna L’Apparita Merlot 2011, custa R$ 1.863,08. É 100% merlot e, por isso, não tem o DOCG Chianti Classico. Mas na taça a origem é tão ou mais evidente que a casta.

Outro destaque é o Vigneto Bellavista 2011. Chianti clássico, segue a tradição de misturar malvasia nera à sangiovese, o que costuma dar aroma de chocolate ao vinho. Robusto, foge um pouco da leveza dos chianti. Custa R$ 1.457,18.

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