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Ruínas de Detroit ganham novas funções com ocupação de hipsters

Terrenos e galpões vazios viram fazendas urbanas, espaços artísticos e centros de estudo

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Detroit (EUA)

O edifício da Estação Central de Michigan surge no horizonte como um monólito sombrio, com altura intimidante e centenas de janelinhas idênticas. Pelos últimos 30 anos, o prédio foi o símbolo das ruínas de Detroit, como uma versão americanizada do Coliseu de Roma.

Fundada em 1914, a estação é um monumento à época de ouro das ferrovias, pouco antes do boom automobilístico que catapultaria Detroit ao posto de capital mundial dos carros e quarta maior cidade do país. Fechado em 1988, após décadas de declínio urbano, o lugar foi pilhado, pichado, invadido etc.

Mas, hoje, algo diferente acontece nas redondezas. Em frente à estação, há um parque com o gramado bem cuidado e gente fazendo piquenique. Carros patrulham o edifício, e as entradas, ornadas com colunas romanas, estão tapadas por tapumes brancos.

Detroit deixou de ser a capital do turismo "ruin porn", aquele praticado por amantes de espaços dilapidados. 

A estação está sendo restaurada desde 2018, assim como outros destinos clássicos da decadência da Motor City, apelido da maior cidade americana a decretar falência (processo que durou de 2013 a 2014).

A estação recebia mais de 4.000 passageiros por dia no auge dos anos 1940 e 1950, trazendo mão de obra de todos os cantos para abastecer a indústria. Em 2022, será reaberta como um centro de pesquisa da Ford sobre mobilidade.

Outros exemplos da renascença estão no antigo parque industrial Packard Motor e no hotel Book-Cadillac, o mais alto do mundo quando inaugurado, em 1924. Abandonado e vandalizado por 20 anos, foi reaberto em 2008 como hotel da franquia Westin.

Já a Packard, maior exportadora americana de carros de luxo nos anos 1920, vai virar centro de lazer com hotel e spa. Comprado por um empresário espanhol, o prédio está sendo restaurado desde 2017 e tem segurança 24h.

A fábrica encerrou suas atividades nos anos 1990. Foi palco de raves ilegais que inspiraram o techno detroitiano. Agora, em vez de festas underground, há tours organizados, e o visitante só entra usando capacetes de obra (US$ 40 ou R$ 166, informações no site bit.ly/3381Zbh).

O passeio na Packard é um dos vários organizados pelas lojas Pure Detroit. Uma delas fica no Fisher Building, um dos edifícios mais elegantes do país e um universo paralelo à degradação que ainda ronda vários bairros de Detroit.

O tour pelo Fisher é gratuito. Inaugurado em 1928, o prédio foi desenhado por Albert Kahn (1869-1942), principal arquiteto da região, responsável pela Packard e a Ford River Rouge, na época o maior complexo industrial do mundo. 

Fora da sua zona de conforto, Kahn criou uma catedral art déco de mármore e granito. O interior é reluzente, hámosaicos e placas de bronze com simbologias capitalistas, como uma figura romana segurando um carrinho.

A Pure Detroit é uma boa parada para conversar com os locais. Os atendentes são ávidos para dar dicas, entre elas a da antiga fábrica de motores Continental, um dos últimos mamutes industriais esquecidos na cidade (também desenhada por Kahn).

O complexo fica em um bairro típico de Detroit, com casas caindo aos pedaços e terrenos baldios. O que sobrou das estruturas da Continental está cercado por uma pequena selva, com latinhas de cerveja pelo chão e estacas mal penduradas no teto.

Detroit ainda está cheia de quarteirões assim. A cidade tem 672 mil habitantes, contra 1,8 milhão nos anos 1950, quando o setor automotivo passou a se reestruturar, cortar vagas e a se espalhar pelos subúrbios. Décadas de corrupção e tensões raciais ajudaram a aprofundar a crise.

Muitos terrenos abandonados foram transformados em fazendas ou florestas urbanas. Outros foram tomados por artistas, como os da rua Heidelberg, com meia dúzia de casas velhas pintadas de bolinhas coloridas e enormes esculturas de sucata, obras do artista Tyree Guyton.

 

Numa visita durante o verão, carros passavam devagarzinho pela rua, e fotografias eram tiradas das suas janelas. Poucos desciam para ver os trabalhos de perto, feitos desde os anos anos 1980 e alvos constantes de incêndios criminosos e demolições pela prefeitura. Bonecas sem cabeça, televisores e até um jet ski se aglutinavam em esculturas ao ar livre.

Já o African Bead Museum toma um quarteirão com instalações de móveis reciclados. O museu fica num casarão coberto de mosaicos e pedaços de espelho. Quem recebe é o próprio criador, o artista Olayami Dabls, que vende e expõe centenas de miçangas e colares africanos.

Dabls é de conversa fácil e gosta de postar no Instagram fotos ao lado de seus visitantes (@mbadafricanbeadmuseum). Ao final, para quem vai saindo de mansinho sem comprar nada, ele aponta uma caixinha no balcão: a entrada é gratuita, mas o espaço vive de doações.

Museus e fábricas exibem coleção de carros e curiosidades 

Um barulho constante de máquinas embala o trabalho dos mil funcionários que montam uma picape F-150 por minuto, na Ford River Rouge Complex, fábrica histórica em Dearborn, cidade que fica na área metropolitana de Detroit.

Construído por Henry Ford entre 1917 e 1928, o complexo era considerado o maior parque industrial integrado do mundo. Pelo rio e pelos trens, chegava a matéria-prima, trabalhada na siderurgia com uma usina elétrica própria. Eram cerca de cem edifícios e 100 mil funcionários.

Não há mais produção de Thunderbirds e Mustangs, mas é possível vislumbrar um pedaço desse universo com visita guiada (US$ 18 ou R$ 75; site bit.ly/1Xaw57h). As picapes são montadas numa estrutura inaugurada em 2004, com o telhado coberto de plantas.

Dois robôs instalavam os vidros traseiros e dianteiros, numa dança ao mesmo tempo delicada (na hora do encaixe) e brusca (quando a garra rodava em busca do próximo vidro). Ao mesmo tempo, um homem com uma camiseta dos Rolling Stones e protetor de ouvido instalava o farol esquerdo no corpo do veículo que passava numa esteira.

"É bom que não tenha tantos robôs, nós precisamos de empregos", explicou um guia que conversava com os visitantes, proibidos de tirar fotos. Ele disse que nessa parte da linha de montagem as picapes são personalizadas e, portanto, precisam de mais mão de obra do que automação.

Tours para a fábrica saem do Museu Henry Ford de Inovação Americana, que tem coleção espetacular de veículos. 

Estão lá o ônibus em que Rosa Parks se negou a ceder o assento para um branco, em 1955, e também a limusine presidencial Lincoln Continental, na qual John F. Kennedy foi assassinado em 1963.

Em 1932, o artista mexicano Diego Rivera passou três meses visitando a Ford River Rouge para criar uma de suas obras-primas, "Detroit Industry", série de murais que tomam todas as paredes do pátio interno do museu DIA (Detroit Institute of Arts).

Os afrescos retratam operários em cenários épicos, mesclados nos movimentos dos maquinários e engrenagens. Conhecido por ideias radicais e laços comunistas, Rivera presta uma homenagem ao trabalhador e ao espírito industrial da cidade, incluindo até um retrato cândido do chefão, Edsel Ford, filho de Henry e financiador da obra.

Frida Kahlo, na época desconhecida nos Estados Unidos, viajou com o marido para Detroit. A artista teve um aborto que quase custou sua vida durante a viagem, experiência que viria a inspirar pinturas. Nos murais do DIA, Rivera registrou a dor: em um painel dedicado à força da natureza, ele trocou um bulbo de beterraba por um bebê encolhido.


Pacotes

US$ 486 (R$ 2.021) 
5 noites em Detroit, na Sem Fronteiras (semfronteiras.tur.br)
Pacote válido para abril de 2020. Hospedagem em quarto duplo, no The Siren Hotel, sem regime de alimentação. Inclui passeio que conta a história da cidade. Sem passagem aérea

R$ 4.573 
5 noites em Detroit, na Decolar (decolar.com
Saída em 8 de outubro. Hospedagem em quarto duplo, no hotel Rivertown Inn & Suites Downtown, sem regime de alimentação. Não inclui passeios ou extras. Com passagem aérea a partir do aeroporto de Guarulhos (SP)

R$ 5.164 
7 noites em Detroit, na Decolar (decolar.com
Saída no dia 3 de outubro. Hospedagem em quarto duplo, no hotel Rivertown Inn & Suites Downtown, sem regime de alimentação. Não inclui passeios. Com passagem aérea a partir do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

R$ 5.292 
6 noites em Detroit, na Submarino Viagens (submarinoviagens.com.br)
Hospedagem em quarto duplo, no hotel Victory Inn - Mount Clemens, com café da manhã. Sem extras. Inclui passagem aérea a partir de São Paulo

R$ 5.828 
4 noites em Detroit, na Azul Viagens (azulviagens.com.br)
Saída no dia 20 de novembro. Hospedagem em quarto duplo, no hotel Rivertown Inn & Suites Downtown Detroit, sem regime de alimentação. Não inclui passeios. Com passagem aérea a partir do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP)

R$ 6.447 
6 noites em Detroit, na CVC (cvc.com.br
Hospedagem em quarto duplo, no hotel Baymont by Wyndahm Cantom, sem café da manhã. Não inclui extras. Com passagem aérea a partir de São Paulo

US$ 1.584 (R$ 6.589) 
5 noites em Detroit, na New Age (newage.tur.br
Hospedagem em quarto duplo, no hotel Crowne Plaza Detroit Downtown Riverfront, sem regime de alimentação. Inclui passagem aérea e seguro-viagem

US$ 2.594 (R$ 10,7 mil)
6 noites em Detroit, na Venice Turismo (veniceturismo.com.br
Hospedagem em quarto duplo, no hotel Detroit Marriott at the Renaissance Center, sem regime de alimentação. Não inclui passeios ou extras. Com passagem aérea

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